Confessa pelo Club a sua dedicação e compromete-se a prestar-lhe o seu concurso incondicional? ATÉ À MORTE! E foi! |
Clubes (N.º por categoria) | 1.ª cat (6) | 2.ª cat (6) | 3.ª cat (7) | 4.ª cat (11) |
SL BENFICA | V | V | V | V |
Sporting CP | 3.º | 2.º | 2.º | 2.ºsB |
Internacional/ CIF | 2.º | 4.º | 3.º | 3.º sP |
Lisboa FC | 5.º | 3.º | 4.º | 4.º sB |
GS Cruz Quebrada | 4.º | 6.º | 6.º | 4.º sP |
CS Império | 6.º | 5.º | 7.º | - |
SG Sacavenense | - | - | 5.º | 3.ºsB |
SF Palmense | - | - | - | 2.º |
SC Cruz Pedra | - | - | - | 2.ºsP |
GS Nacional | - | - | - | 5.ºsB |
Ateneu Com. Lisboa | - | - | - | 5.º sP |
Liceu Pedro Nunes | - | - | - | 6.º sB |
Recibo do arrendamento da Quinta Nova, referente a Junho de 1913, em nome do presidente da Direcção do SLB, dr. Alberto Lima |
Equipa em 12 de Outubro de 1913. Inauguração do campo de Sete Rios na vitória, por 4-0, ao Sporting CP. Da esquerda para a direita. De cima para baixo. De pé (defesas e guarda-redes): Henrique Costa, Paiva Simões e Francisco Belas; Sentados, ao meio (médios): Carlos Homem de Figueiredo, Cosme Damião (capitão) e Artur José Pereira (2-0 aos 50') ; Sentados, em baixo (avançados): Herculano Santos, Álvaro Gaspar, (4-0 aos 55') José Domingos Fernandes, Francisco Pereira e Alberto Rio (1-0 aos 20' e 3-0 aos 55') NOTA: As meias eram cinzento escuro/ preto e não vermelhas como foram pintadas na foto a preto-e-branco A equipa do Sporting CP fotografada no mesmo local (Campo de Sete Rios) em 10 de Outubro de 1913. Perdeu 0-4. Equipa fraca, mesmo reforçada na segunda volta, a jogar no Sítio das Mouras, voltou a perder por 0-3. No total 0-7. Depois tudo mudou. Em 1914/15 reforçaram-se no SLB (3) e no CIF (5). Álvaro Gaspar já não viu crescer a rivalidade entre SL Benfica e Sporting CP. Para ele ficou sempre a luta entre SLB e CIF! Entre Sport Lisboa e Internacional como eram conhecidos na primeira e segunda década do século XX! Da esquerda para a direita. De cima para baixo (sem ter a certeza absoluta): Campos, Morice e Amadeu Cruz; Duarte, António Stromp e João Bentes; Francisco Stromp, José Prego, Huggis, Viegas e António Vital Outubro de 1913 No primeiro mês em competição a 1.ª jornada do Regional e um jogo frente ao CS Marítimo em digressão ao Continente, a convite do Lisboa FC, para assinalar a inauguração do seu campo de jogos. No mês de Outubro foram inaugurados dois campos para futebol em Lisboa. Em Sete Rios e no topo do Campo Grande, num espaço que seria histórico: 1912/1917 (Lisboa FC), 1917/1937 (Sporting CP) e 1941/1973 (SL Benfica, embora com jogos da equipa de honra apenas até 1953). Na inauguração do campo de Sete Rios, em 10, joga a avançado-centro (um golo) na vitória por 4-0 frente ao Sporting CP. Em 18 continua como avançado-centro no empate (sem golos) frente ao CS Marítimo, no campo do Campo Grande, inaugurado pelo Lisboa FC (equipava de azul). No dia seguinte (19) entra no Misto (na meia-avançada-esquerda) da Associação de Futebol de Lisboa que derrota o CS Marítimo por 5-0 (fez um golo de cabeça). Na esquerda (enfiamento da baliza) Álvaro Gaspar expectante face ao remate de Francisco Pereira no SLB, 4 - SCP, 0 Em 18 de Outubro não marca qualquer golo ao CS Marítimo. Em 13 jogos em 1913/14 só não marcou em dois jogos. Neste e em 15 de Fevereiro frente ao Internacional. Na esquerda, Carlos Homem de Figueiredo espera pela bola com o "Chacha" a observar, vindo da direita! Novembro de 1913 Duas jornadas do campeonato regional: em 2 como meio-avançado-esquerdo fez um golo (V 3-0; SC Império; Palhavã; Fora); em 16 "rebentou a escala" ao fazer cinco - nos registos do Clube são seis - golos jogando a avançado-centro (V 9-0; GS Cruz Quebrada; Laranjeiras, campo do CIF; Neutro). Dezembro de 1913 No último mês do ano três jogos - dois para o Regional e um para a "Taça Portugal" - com três golos (um por jogo). Deixemos as legendas das fotografias "explicarem". Da esquerda para a direita. De cima para baixo (com a preciosa colaboração de Victor João Carocha). De pé: Merrick Barley, Boaventura Belo, Augusto Sabbo, Picão Caldeira, Standon e Kuhlberg; Sentados: Ryder, Robert Briant, Stanroyd Barley, Carlos Sobral e John Armour Álvaro Gaspar marca o 1-2 (1.º golo do SLB) frente ao Internacional, em 7 de Dezembro de 1913, no campo de Sete Rios. O Benfica depois de estar a perder por 0-2 ao intervalo igualou o jogo a dois golos. A decisão do título - face ao poderio do SLB e CIF em relação aos outros clubes - passou para o encontro da 2.ª volta no campo das Laranjeiras, alugado ao Internacional. Ao fundo o viaduto ferroviário junto ao apeadeiro de Sete Rios onde se suicidaria Francisco Stromp, aos 38 anos, em 1 de Julho de 1930. Um viaduto ferroviário, embora de outro ângulo mais a norte, com 100 anos de diferença. E que diferença. Mas ainda o conheci, em 1994, praticamente como em 1914! Apesar de serem excertos a crónica que ocupa uma página refere amiudadas vezes a facilidade com que Álvaro Gaspar ludibriava a meia-defesa (actual meio-campo) do Internacional. Registo escrito no jornal "O Sport Lisboa" n.º 17 em 14 de Dezembro de 1913 de uma das mais extraordinárias exibições de Álvaro Gaspar. António Ribeiro dos Reis passados 32 anos, em 1945, ainda recordava este dia escrevendo: «Dez réis de gente, Gaspar parecia, por vezes, um gigante. Dos que assistiram a um célebre jogo com o Internacional quem poderá esquecer essa tarde em que o "Chacha" fez o que quis do valoroso Augusto Sabbo, desnorteando-o por completo, com a incomparável beleza do seu jogo. Nunca se "fintou" assim em Portugal. Álvaro Gaspar parecia ter nascido com a bola nos pés. Dominava-a completamente. tratava-a por tu... Ele era amo; ela a sua escrava..». A fotografia de Arnaldo Garcês, colorida, que abre o texto de hoje foi tirada neste jogo de 7 de Dezembro de 1913. Como é possível ler no início desta crónica digitalizada, em 1913, a menos de uma década da fundação (28 de Fevereiro de 1904) e cinco anos depois (13 de Setembro de 1908) da alteração de nome, para SLB, o clube nos jornais ainda era referenciado pelos escribas mais velhos como Sport Lisboa. O nome inicial do "Glorioso". Mas... já Glorioso Em 21 de Dezembro de 1913 Álvaro Gaspar encolhe-se perante a saída temerária do guarda-redes do adversário. O "Chacha" jogou a avançado-centro marcando um golo na vitória, por 4-1, no campo do adversário, Lisboa FC. Em 25 de Dezembro de 1913 (dia de Natal) o SC Império fez disputar mais um encontro do torneio que organizou no seu campo de Palhavã, durante várias épocas, para disputa da "Taça Portugal". O SLB venceu por 2-0 com Álvaro Gaspar a marcar um golo jogando a meio-avançado-direito, inédito nesta temporada de 1913/14, mas vulgar em Cosme Damião que aproveitava os jogos extra-campeonato regional para verificar o comportamento da equipa face a alterações de jogadores. Um perito na arte de futebolar, o nosso Cosme! Janeiro de 1914 Três jogos no primeiro mês de 1914. Ou melhor quatro se contarmos com o jogo da selecção da AFL frente a um misto inglês. Mais uma vez deixemos as legendas "explicarem". Em 25 em jornada do Regional alinhou a avançado-centro marcando um golo (V 3-0; Lisboa FC; Sítio das Mouras, campo do SCP; Neutro). E em 27 como avançado-meia-esquerda (um golo) numa ida a Carcavelos para defrontar os ingleses que há muito tinham deixado de competir oficialmente, mas continuavam a ter grande simpatia pelo Benfica, numa vitória por 3-0. Até final da temporada jogaria sempre nesta posição, entre o avançado-centro e o ponta-esquerda! O espaço onde esteve o campo das Laranjeiras, do Internacional, em frente ao Jardim Zoológico de Lisboa (lado sul). Em cima, o campo do Internacional, no dia - 15 de Fevereiro de 1914 - do jogo que decidiu o título de campeão regional, em 1913/14 Fevereiro de 1914 Dois jogos, para o campeonato regional de Lisboa, um a 1e outro a 15. O primeiro corresponde à jornada frente ao GS Cruz Quebrada (V 6-0; Campo Grande, campo do Lisboa FC; Neutro). O de 15 marcou a decisão do Regional, frente-a-frente os dois primeiros classificados. Foi a última vez em que o Dérbi (jogo mais importante da cidade) de Lisboa se jogou ente SLB e CIF, os únicos clubes - para além do Carcavellos Club - até 1913/14. A rivalidade em Lisboa passou depois para o Sporting CP. Em 15 de Fevereiro de 1914, na célebre vitória por 2-1 no campo do adversário (Internacional) Álvaro Gaspar mesmo sem marcar qualquer golo foi alvo de vigilância apertada de um futebolista que o "Chacha" nunca soube que jogaria depois no Benfica, onde chegou a capitão: Carlos Sobral. No imagem superior Carlos Sobral e Standon vigiam Álvaro Gaspar com Francisco Pereira atrás de todos. Na imagem inferior o "Chacha"resiste ao salto de Carlos Sobral. Três das milhares de estrelas do Quarto Anel: Álvaro Gaspar, Francisco Pereira e Carlos Sobral Nunca se vira nada assim! Modificar um "team" devido a um jogador adversário! Depois do "baile monumental" que Augusto Sabbo levara na 1.ª volta, os Pinto Basto decidiram jogar com... três defesas. Tudo por causa de Álvaro Gaspar. Além disso Sabbo não jogou! E Augusto Sabbo não era um futebolista qualquer. Em termos tácticos estava para o onze da 1.ª categoria do Internacional como Cosme Damião estava para o "Glorioso". Era o médio-centro experiente, um estratego de arreganho e técnica capaz de decidir como um treinador durante os 90 minutos. Augusto Sabbo era um dos futebolistas com mais presenças nas selecções da AFL, discutindo-se durante mais de uma década quem era o melhor médio-centro: Cosme Damião ou Augusto Sabbo? E este levou a melhor diversas vezes. Além disso era, talvez, no Internacional, o "não Pinto Basto" mais influente na direcção e estratégia do clube. O pavor de Álvaro Gaspar foi tanto que o treinador Eduardo Luís Pinto Basto foi obrigado, temendo uma goleada, a fazer mudanças na equipa apresentada na segunda volta: EQUIPAS DO INTERNACIONAL FRENTE AO SL BENFICA NAS DUAS JORNADAS DO CAMPEONTO REGIONAL EM 1913/14
NOTA: Posições em campo da direita para a esquerda A equipa alinhou com uma disposição defensiva, na prática com três defesas pois o inglês Mérik Barley era defesa consagrado e foi para médio-centro para marcar Álvaro Gaspar que jogou a avançado-centro na primeira volta mas que Cosme Damião fez derivar na segunda volta para a meia-esquerda para entrar em confronto com Mascarenhas. Além disso depois de sofreram o 2-0 aos 25 minutos, o Internacional ainda reforçou mais o meio-campo, passando Carlos Sobral para médio-centro (Mérik), Mérik para médio-esquerdo (Belo) e Boaventura Belo para avançado-meia-esquerda (Sobral). 15 de Fevereiro de 1914: Conquista do 4.º campeonato regional, terceiro consecutivo e posse definitiva da Taça "Liga Portugueza de Futebol" para a 1.ª categoria Um Dia de Glória (e têm sido tantos), uma das datas mais importantes na Centenária História do Sport Lisboa e Benfica! Março de 1914 A dois meses de completar 25 anos (10 de Maio de 1914), no primeiro dia de Março, Álvaro Gaspar despediu-se da 1.ª categoria do Benfica. Provavelmente sem o saber. Frente ao Carcavellos Club na retribuição, em Sete Rios, do jogo na Quinta Nova (em 27 de Janeiro). Na vitória por 2-0 marcou um golo. Deixo a crónica do jogo. Por ser o último de Álvaro Gaspar. Por ser o sétimo (e último) frente ao Carcavellos Club. E em certa medida foi por "culpa" da qualidade do Carcavellos que o Clube decidiu, em Dezembro de 1903, jogar "só com portugueses". Para provar que era possível uma equipa de futebol só de portugueses derrotar os ingleses! E foi devido à primeira vitória - por 2-1 em... Carcavelos - sobre o Carcavellos Club, em 10 de Fevereiro de 1907, que o Sport Lisboa passou a ser conhecido por "gloriosíssimo"! O Sport Lisboa; n.º 29; 7 de Março de 1914; página Este encontro - e muitos outros - não consta da ficha curricular do Clube pois estas foram feitas retrospectivamente - em pesquisa na AFL e jornais da época - no início dos anos 20, por um enorme Benfiquista, secretário da Direcção do SLB: Eduardo David Martins PereiraE de repente... Na semana seguinte (8 de Março) já não jogou na última jornada do Regional (V 3-0; Sporting CP; Sítio das Mouras; Fora). Não fez parte da Selecção da AFL - capitaneada por Henrique Costa (SLB) com quatro Benficas - que no primeiro Lisboa-Porto venceu, por 7-0, a selecção da AFP. Nem no jogo da Selecção no Porto (V 3-1). Nem esteve nas equipas que finalizaram a temporada a enfrentar dois emblemas britânicos: Ealing FC de Londres (dois jogos no campo das Laranjeiras) e Third Lanark AC de Glasgow, no campo de Palhavã, onde foi batido o recorde de assistência a um jogo de futebol em Portugal desde o século XIX: dez mil pessoas! O Sport Lisboa; n.º 38; 9 de Maio de 1914; primeira página Jogo a favor de Álvaro Gaspar Entre os jogos frente aos ingleses e escoceses o Benfica decidiu, em reunião da Direcção do Clube, a 5 de Maio, delegar em Francisco Calejo a organização de um jogo de solidariedade para com o "Chacha" que rendeu 401$05 provenientes de cerca de 1500 bilhetes vendidos. Valor importante para a época, quer em dinheiro, quer em público presente. Álvaro Gaspar era o mais popular do seu tempo. E querido de tudo e todos. Por isso foi fácil realizar o encontro logo a 10 de Maio. Com o "Chacha" a dar o pontapé de saída. O Sport Lisboa; n.º 39; 16 de Maio de 1914; página 3 Álvaro Gaspar já não conseguiu jogar os últimos encontros de 1913/14 devido à doença. Mas teimoso, sem força, ainda fez a temporada de 1914/15 na 3.ª categoria. Como ele escreveu (sem saber que seria assim): Até à Morte! E foi como campeão regional da 3.ª categoria, em 1914/15, que se despediu para sempre. Aos 26 anos. Em 3 de Setembro de 1915. Passam amanhã 99 anos! Alberto Miguéns |