Benfica
A dignidade
"O comportamento dos benfiquistas perante o presidente do FC Porto no funeral de Fernando Martins e ainda o novo museu do clube.
A morte do antigo presidente do Benfica Fernando Martins não podia deixar de enlutar o futebol português. Amigo pessoal de longa data do empresário e líder benfiquista na década de 80, o presidente do FC Porto fez o que todos esperavam e deslocou-se a Lisboa para prestar uma última homenagem ao homem que fechou o Terceiro Anel do antigo Estádio da Luz.
A presença em Lisboa do líder dos azuis e brancos - acompanhado do director-geral portista, Antero Henriques - quase se tornou a notícia principal do dia do último adeus a Fernando Martins.
O presidente do FC Porto chegou cedo à Basílica da Estrela, sem guarda-costas, e permaneceu sentado na igreja durante toda a missa de corpo presente, conduzida pelo padre Vítor Melícias, um conhecido sportinguista também ele amigo pessoal de Fernando Martins.
A presença do líder portista não foi uma surpresa. Era pública a extraordinária relação de amizade entre os presidente dos dragões e o antigo dirigente encarnado e surpreendentemente teria sido se o primeiro faltasse ao funeral do segundo.
Claro que tendo Fernando Martins sido presidente do Benfica - e sido sempre, ainda, uma personalidade próxima do actual líder das águias, Luís Filipe Vieira - é evidente que esperaria o presidente do FC Porto em Lisboa um ambiente e um cenário maioritariamente benfiquista e, portanto, adverso, tendo em conta as péssimas relações entre as duas famílias.
À dignidade da decisão do presidente portista de estar presente no adeus ao amigo - e outra coisa não seria de esperar -, responderam os responsáveis do emblema encarnado e restantes adeptos benfiquistas presentes na triste cerimónia com um comportamento de uma dignidade ainda maior, pela clara serenidade (e naturalidade) com que souberam reagir à presença do mais alto responsável azul e branco.
Fizeram os benfiquistas o que deviam? Evidentemente.
Um ou outro comenta´rio impróprio de um ou outro anónimo presente não apenas não teve qualquer significado como de todo poderia vincular a imagem institucional do Benfica e a forma como a larga maioria de benfiquistas (anónimos ou não) soube conviver com a presença de mais um amigo de Fernando Martins, por acaso também presidente do maior rival desportivo dos encarnados.
O que muitos - legitimamente - se interrogam é se o contrário também seria verdade. Duvido.
ALCINO ANTÓNIO é (e será, para a história) um dos grandes responsáveis pela mais notável obra do Benfica neste século depois da construção do novo estádio.
Pôr de pé o Museu do Benfica foi trabalho de uma equipa, naturalmente, mas nos rostos das equipas serão sempre os líderes, e ao rosto de Alcino António junta-se naturalmente o de António Ferreira (como aliás escrevi neste jornal logo no dia da inauguração) e, porque os últimos são os primeiros, o do presidente encarnado, porque, é fácil compreender, sem o sonho de Filipe Vieira dificilmente a obra nasceria.
Não me levem a mal os leitores a confissão, mas sou amigo pessoal de Alcino António há quase 30 anos. Ele é um dos mais antigos dirigentes do actual elenco encarnado e também, como é fácil concluir, um dos mais discretos, desde que na década de 80 assumiu as primeiras responsabilidades, na gestão do também já desaparecido João Santos.
Quando a minha relação (agora, repito, de quase 30 anos) com Alcino António se transformou numa relação de profunda amizade nunca mais escrevi uma linha que fosse sobre o antigo e o actual dirigente encarnado, nunca Alcino António me forneceu (no passado ou agora) uma única informação que fosse da vida interna do clube, e as nossas conversas sobre futebol (para lá de uma normal relação entre amigos) são isso mesmo, conversas de duas pessoas que gostam de futebol e de desporto e que partilham, concordam e discordam nos seus pontos de vista.
Uma amizade sem complexos e sem falsos compromissos.
Agora, com a história do museu, vi-me perante a decisão:
- Continuar sem escrever uma linha sobre Alcino António sob o velho pretexto de sermos, simplestemente, amigos;
- Ou elogiar o trabalho da equipa do dirigente responsável pelo museu (e portanto elogiá-lo a ele próprio), por imperativo profissional de consciência jornalística e por ter visitado o museu e considerado, francamente, estarmos perante uma obra notável.
Optei, como sempre, pela minha consciência jornalística e pelo dever profissional da crítica honesta, como lhe chamaria o velho mestre Vítor Santos, porque (não se confunda) criticar não tem de ser dizer mal...
Fica o desabafo. E os leitores que não me levem a mal...
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(...)"
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