Benfica
A maré vermelha
"No incontornável 'Red Pass' desse benfiquista emérito que é o João Gonçalves, encontrei um SMS lapidar do Ricardo Araújo Pereira, ainda a propósito dos tímidos assobios que se fizeram sentir na parte final do Benfica-Nacional: 'Jorge Jesus conseguiu trazer de volta o Benfica da minha infância: a equipa faz uma grande exibição e é assobiada. O Benfica voltou."
Nos últimos anos perdemos campeonatos de forma inglória, mas, mesmo nas derrotas dolorosas, abandonámos a atitude condescendente de quem encontra algum conforto no 'quase'. Nisso, voltou o Benfica com o qual cresci: uma equipa viciada em vitórias, para o qual tudo o que não fosse esmagar os adversários sabia a pouco. Mas também um Benfica que não tolerava exibições cínicas e resultadistas. No Benfica dos meus anos formativos, não bastava vencer, era preciso fazê-lo, para utilizar um neologismo, com 'nota artística'.
Bem sei que o Jorge Jesus é um casmurro com poucos paralelos, que continua a não conseguir montar uma equipa capaz de controlar um jogo com bola, ou que insiste em não fazer a vontade ao adepto de bancada (digam lá, este não era o jogo ideal para o Jonathan Rodriguez aos 70 minutos? Ou para o Gonçalo Guedes aproveitar para brilhar sem pressão?), mas, nos últimos anos de Benfica, há um antes e depois de Jesus.
O Gaitán resumiu, aliás de forma exemplar, o que se passa, quando, no final do jogo afirmou que 'o Benfica pratica um bom futebol e as pessoas divertem-se. Isso é importante'. Diria que os jogadores divertem-se e divertem-nos, o que explica o regresso da maré vermelha e, claro está, dos assobios. Os adeptos habituaram-se a vencer de forma convincente; agora, os jogadores têm de se habituar à exigência de quem já não tolera jogos amorfos. O Benfica da minha infância voltou."
Pedro Adão e Silva, in Record
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