Alargamento
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Alargamento


"A surpreendente eleição de um presidente da Liga sem apoio dos clubes grandes trouxe à ribalta alguns nostálgicos do antigo grupo da sueca, com xitos e tudo. A ideia campeã foi a do alargamento da 1.ª Liga, à revelia da lei e do Conselho Nacional de Desporto.

O absurdo é um lugar-comum no pândego mundo do futebol português, mas nada poderia ser mais desprovido de fundamentos do que negar a evolução positiva desencadeada pela redução de 2006, precisamente na semana em que, pela primeira vez na história, a Liga portuguesa foi considerada a quarta melhor do Mundo e terceira da Europa, apenas atrás da espanhola, inglesa e brasileira.

As variáveis da equação são óbvias. Por um lado, qual o interesse desportivo, comercial e mediático da junção de mais dois emblemas de dimensão reduzida, audiências televisivas residuais e incapacidade orçamental para fixar jogadores portugueses? Por outro, a introdução de mais quatro jornadas de baixa competitividade no calendário dos clubes principais ser-lhes-ia benéfica ou acabaria por devolvê-los às enormes dificuldades em competir a nível internacional, sentidas durante os anos 90.

Esta questão do alargamento surge, ciclicamente, por dois motivos empíricos, a necessidade de proteger um emblema importante em risco de despromoção e a melancolia de alguns agentes em períodos de menor actividade. Por isso, também são agora fáceis de esvaziar e ultrapassar, se a experiência nos diz que os campeonatos não morrem pelo ocaso conjuntural de um Boavista ou de um Belenenses e que, de facto, não existe público nem clima para jogos de futebol no Natal.

A imposição reguladora de reduzir as Ligas profissionais para 16 clubes visou torná-las mais competitivas e melhorar-lhes os resultados financeiros – e foi bem sucedida. Assim, para voltar à estaca anterior, seria necessário demonstrar que os campeonatos se tornaram menos interessantes, quando toda a gente reconhece um valor desportivo crescente na actual Liga de Honra, a ponto de ter passado a ser patrocinada e televisionada em directo, e quando a 1.ª divisão aumentou a média de espectadores e tem representantes permanentemente em grande destaque nas provas da UEFA.

Objetivamente, não se vislumbra qualquer pressuposto favorável ao alargamento de uma Liga em que a assistência total de mais de metade dos participantes, apesar da evolução, não daria para encher um estádio da Luz. Muito menos que o bolo dos direitos de televisão possa ser distribuído, em conjunto, por ainda mais gente, quando a tendência é a da pulverização das audiências nacionais, num contexto de concorrência global com as transmissões das ligas europeias, a que apenas o Benfica e o Porto conseguem resistir.

Só havia uma reivindicação interessante para os novos dirigentes da Liga, agora que o eixo do poder regressou à Federação, que passava pela atribuição de um lugar europeu ao vencedor da Taça da Liga, mas ninguém a colocou porque não oferecia votos nem perspetivas de mais dinheiro do que cada um justifica e merece."


João Querido Manha, in Record



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