COmo numa jogada típica do futebol, a MEO procurava seguir em direção à baliza, mas a NOS antecipou-se, cortou a bola e lançou o contra-ataque. Para golo: fez uma proposta de 400 milhões de euros pelos direitos de emissão dos jogos do Benfica nos próximos dez anos e colocou-se em vantagem na disputa pela compra de um dos direitos desportivos mais apetecíveis do mercado português.
Os valores e a duração da proposta foram avançados segunda-feira durante um programa de comentário desportivo da TVI24, o “Mais Bastidores”. Fonte oficial do Benfica diz que a informação "não tem fundamento" e a NOS recusou comentar o assunto. Mas várias fontes do mercado — entre elas algumas próximas ao processo — garantem a existência de sondagens por parte de vários operadores ao clube da Luz. Entre elas a MEO, primeiro, e a NOS, mais recentemente.
Na origem do avanço da NOS esteve a constatação de que a rival MEO, agora detida pelos franceses da Altice, tinha alterado o seu posicionamento em relação à compra de conteúdos em Portugal.
Como noticiou o “DN” no fim de semana, a empresa fez mesmo recentemente uma ronda de sondagens e propostas a vários clubes portugueses para saber das condições em que poderia fechar acordos de exclusividade pelos direitos dos seus jogos para emitir no MEO.
As questões legais sobre a possibilidade de os jogos de futebol da Liga portuguesa poderem ser um exclusivo de apenas uma plataforma de televisão não são claras. Mas a aparente predisposição do MEO de caminhar nesse sentido (retirando conteúdos das concorrentes NOS ou Vodafone) fez soar os alarmes no mercado de telecomunicações.
Na recente conferência da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC) foi notória a tensão a propósito dos conteúdos entre o presidente executivo da PT Portugal, Paulo Neves, e os líderes da NOS, Miguel Almeida, e da Vodafone Portugal, Mário Vaz. “Não vamos ficar parados quando alguém ameaça o equilíbrio do mercado”, sublinhou então Miguel Almeida, depois de Paulo Neves ter dito que a PT Portugal tudo iria fazer para dar todos os conteúdos e os melhores aos seu clientes.
A declaração foi entendida como uma mudança de estratégia da PT, no sentido de começar a ter conteúdos exclusivos. Miguel Almeida e Mário Vaz reagiram, dizendo que tal situação provocaria um desequilíbrio prejudicial para todos.
“Agiremos em conformidade se um concorrente quebrar nas palavras e nas ações um equilíbrio que existe hoje”, afirmou o presidente da NOS. Mário Vaz acrescentou então: “Mudar a estratégia da gestão de conteúdos é mudar as regras do jogo e isso afeta a competitividade”. O presidente da Vodafone disse ainda: “Já mostrámos que sabemos jogar este jogo”. A Vodafone tem defendido sempre, aliás como a NOS, que não deve haver conteúdos exclusivos e que as operadoras devem diferenciar-se pela qualidade dos serviços.
A proposta de 40 milhões por época para garantir os direitos será decomposta em duas parcelas: 25 milhões pelos direitos dos jogos, mais 15 milhões pelo exclusivo do canal Benfica na NOS.
No dia seguinte à conferência da APDC, a Altice, dona da PT Portugal, veio anunciar que comprou por €300 milhões os direitos televisivos dos jogos de futebol da Premier League inglesa para o mercado francês até 2019. A dona da PT poderá estar a preparar mudanças para o mercado português, e os concorrentes já o perceberam.
Terá sido com base nessa avaliação que NOS passou das intenções aos atos. Segundo as fontes ouvidas pelo Expresso, a proposta de 40 milhões por época para garantir os direitos do Benfica será decomposta em duas parcelas: 25 milhões de euros pelos direitos dos jogos propriamente ditos, que seriam depois emitidos pela Sport TV; mais 15 milhões de euros pelo exclusivo do canal do Benfica na plataforma de televisão da NOS.
Com este plano, a NOS (que divide a propriedade dos canais Sport TV a 50% com Joaquim Oliveira) consegue um efeito duplamente positivo: protege-se da concorrência da Altice no mercado de conteúdos desportivos e controla a subida de custos que a compra em alta dos direitos do Benfica poderia provocar à Sport TV. Isto porque há uma cláusula no contrato dos direitos do FC Porto que garante ao clube azul e branco o direito a receber 80% do valor de futuros contratos que o canal assine com o Benfica. Mas, neste caso, o contrato do FC Porto seria atualizado para 80% de 25 milhões e não do bolo total de 40 milhões.
A QUEDA DA CENTRALIZAÇÃO
Caso este negócio avance — ou mesmo que a Altice ainda contra-ataque — há já uma ideia incontornável que resulta desta nova guerra entre as operadores pelos conteúdos: se o Benfica decidir negociar diretamente os seus direitos, cairá um dos grandes objetivos de Pedro Proença, novo presidente da Liga de Clubes, de conseguir negociar de forma centralizada os direitos das competições profissionais de futebol. Contactado pelo Expresso, o presidente da Liga de Clubes, Pedro Proença, recusou comentar o assunto.
Da parte do Benfica, a confirmar-se este negócio, Luís Filipe Vieira pode também garantir um precioso trunfo para as eleições de 2016, numa altura em que o clube abraçou uma nova fase de austeridade, redimensionando o orçamento, a estrutura de custos e o investimento no futebol.
Recorde-se que o Benfica passou a emitir os seus jogos na Benfica TV há duas épocas, depois de ter recusado uma proposta de renovação de contrato da Sport TV que previa o pagamento de cerca de 22 milhões de euros por ano. Já nessa altura a administração do Benfica justificou a recusa com o facto de a proposta da Sport TV ficar aquém do valor que o clube entendia ser justo pela emissão dos seus jogos. Curiosamente, o valor agora noticiado como tendo sido oferecido pela NOS: 40 milhões.
Na última época, o FC Porto recebeu cerca de 15 milhões de euros pela venda dos seus direitos televisivos em competições nacionais.
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