CÓDIGO DA ÉTICA DESPORTIVA
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CÓDIGO DA ÉTICA DESPORTIVA


Qualquer que seja a conceção de Homem, em todas elas se refere que o comportamento humano se define, acima do mais, porque pode ser avaliado, julgado, criticado à luz de determinados critérios de valor. No meu modesto entender, a ética é tão antiga como o ser humano. 

A subordinação a valores da racionalidade, dos desejos, da vontade é uma atitude que distingue o ser humano do animal, o qual não ultrapassa as exigências da realização imediata dos instintos, ou seja, dos impulsos de natureza biológica e hereditária. O desporto, porque um dos aspetos da motricidade humana, ou do corpo em ato, não postula apenas ideais, mas também ações concretas, desempenhos que buscam a transcendência do humano na sua integralidade. O desporto, sem me alongar em pormenores de miúda enumeração, apresenta-se hoje como uma exigência de promoção humana, vivida no seio de um grupo social, historicamente determinado. E, se é verdade que o desporto não se limita à sabedoria filosófica (o desporto, como jogo, é bem anterior à filosofia, pois que o vivido é sempre anterior à reflexão sobre o vivido) – ele supõe, no entanto, a aceitação de normas de caráter ético, dado que uma organização (desportiva ou não) se desenvolve e nasce, com um certo número de pessoas interdependentes, que operam em conjunto, visando atingir um objetivo comum. Não deverá surpreender-nos por isso um Código de Ética Desportiva...

A Secretaria de Estado do Desporto e Juventude (S.E.D.J.) vem de editar um Código de Ética Desportiva, com oportuna mensagem do Secretário de Estado, que acentua: “O desporto adquiriu uma dimensão planetária incomensurável. Com este gigantismo, cresceram problemas que atentam contra a integridade deste fenómeno: a corrupção, agora com uma nova dimensão (o match fixing/jogos combinados) a falta de transparência, a violência e as manifestações associadas de xenofobia, intolerância ou racismo, o consumo de drogas, quer o doping na competição desportiva quer a sua utilização no desporto de recreação, bem como no desporto para pessoas deficientes, que apresentav agora um aumento preocupante, mas tanbém outras manifestações discriminatórias e até o bullying. Trata-se do reflexo, o espelho, no desporto, das transformações e novas configurações da sociedade em que vivemos”. O desporto hodierno, mormente o de alta competição, reproduz e multiplica, demasiadas vezes, a política de globalização neoliberal, inspirada nos princípios da ditadura do capital financeiro, onde a ética se desconhece e... “atrapalha”. Alguns órgãos da comunicação social não cessam de exaltar, com impulsos arrebatados de basbaques, os carros-último-modelo, ou de modelo aerodinâmico, dos jogadores mais aplaudidos e as suas namoradas, vestidas por figurinos novaiorquinos ou parisienses, de olhos ávidos e saltitantes, e o muito (muitíssimo) que ganham e esbanjam. É isto o que resta das fintas, dos dribles, dos golos, dos passes, das defesas a até da expressão corporal dos mais prestigiados jogadores de futebol. 

A ética desportiva, a educação pelo desporto, o fair play/jogo limpo no desporto são temas que não merecem o incansável esforço imaginativo de alguns comentaristas que erguem e conservam nas alturas (como uma divindade entre as núvens) o que no desporto o desvirtua e corrompe. Correspondo-me, pela internet, com amigos meus que exercem cargos de grande responsabilidade, no desporto brasileiro. Lastimam a lesão de Neymar, no jogo com a Colômbia, mas não deixam de referir que o “espírito de família”, que reina na “seleção canarinha”, pode colmatar, suprir a ausência de um génio, com a estatura de Neymar. E os aspetos éticos surgem como necessidade primeira, numa equipa profissional de futebol. Como surgiriam também, se nos referíssemos ao espetáculo desportivo de qualquer outra modalidade desportiva. Deste Código de Ética Desportiva, editado (repete-se) pela S.E.D.J., ressalta, como radical fundante, o Espírito Desportivo, ou seja, “um conjunto alargado de valores e princípios, que deverão ser assimilados e vivenciados na prática desportiva. Trata-se de um conjunto de valores que têm a função de imprimir um sentido positivo à atividade desportiva e que, sem os quais, esta perde a sua finalidade primordial: contribuir para o desenvolvimento harmonioso e universal da pessoa humana”. 

Mas... que valores o Código pretende sublinhar? Vejamos o que ele nos diz: “Importa ter em consideração que, para além de um conjunto de valores comuns a todos os cidadãos, há valores que, pela sua natureza, são inerentes à prática desportiva, nomeadamente o respeito pelas regras e pelo adversário, árbitro ou juiz: o fairplay, ou jogo limpo; a tolerância, a amizade, a verdade, a aceitação do resultado; o reconhecimento da dignidade da pessoa humana; o saber ser e estar; a persistência, a disciplina, a socialização, os hábitos de vida saudável, a interajuda, a responsabilidade, a honestidade, a humildade, a lealdade, o respeito pelo corpo, a imparcialidade, a cooperação e a defesa da inclusão social em todas as vertentes”. Enfim, valores que devem informar a prática desportiva, na educação, no lazer, como reeducação, como espetáculo, etc. Nas leituras que até hoje fiz, por gosto e por ofício, o Código de Ética Desportiva, editado pela S.E.D.J., está entre aquelas que mais me trouxeram, senão a consciência de novos valores, a revelação de mais latas dimensões do desporto e da vida. Acompanho a Secretaria de Estado, nos seus votos ardentes, em favor de uma aliança, sem concessões, entre a Ética e o Desporto. De facto, esta aliança anima e motiva o progresso desportivo; com esta aliança o desporto é mais desporto. 

Artigo de Manuel Sérgio



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