Coisas com alma
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Coisas com alma




"A camisola e as botas do médio centro que deu a mística ao Benfica

Quando, há uns anos, me deparei com as botas de Cosme Damião, apostei comigo que as chuteiras de hoje seriam facilmente consideradas no tempo dele sapatilhas de ballet. Acredito por contraponto, que um Ronaldo com as botas de Cosme teria provavelmente a mesma sensação que um bailarino de socas. Mais recentemente, admirei de perto a camisola do homem que representa como ninguém a alma benfiquista. Igualzinha às primeiras que o clube comprou num alfaiate em Alcântara. Fabricadas em flanela, garantiam o efeito de sauna durante o verão e o de esponja nos dias chuvosos e lamacentos do Inverno. Com o futebol do século XXI em mente, a primeira coisa que me ocorre quando olho para uma camisola como a de Cosme Damião é a de que ela se encontra despida. Despida de tudo o que veste hoje uma camisola de futebol. Despida do emblema. Despida do número. Do nome. De todo e qualquer signo mercantil. Despida, tal como veio ao mundo em 'mil novecentos e troca o passo'. Simplesmente, despida. Mas toda vestida de alma!
Tenho de admitir que as camisolas modernas trouxeram o conforto, eliminando problemas como a 'sauna' e a 'esponja', mas, ainda que respeite outras ideias e compreenda as exigências da indústria futebolística, confesso que gostaria de ver jogar o Benfica sempre de vermelho e sem reclames, bem como gostaria que se (re)adoptasse exclusivamente o branco para o alternativo. As nossas cores, criteriosamente escolhidas por Cruz Viegas em 1904, foram eleitas por serem 'as que melhor se fixam na retina dos jogadores nos ardores da luta'. Em resumo, as nossas cores vestem a nossa identidade.
Passa-se com as botas mais ou menos a mesma coisa. As clássicas, de cor preta, têm gradualmente vindo a ser substituídas por um arco-íris esquisito, que vai do branco à 'cor-de-burro-quando-foge'. Hoje, os jogadores trocam de botas a toda a hora, ao invés de antigamente, quando eram as botas que trocavam de jogador. As do tempo em que nasceu o Benfica eram dispendiosas, de execução complexa, mas feitas para durar uma vida! Só para se ter uma ideia, o antigo guarda-redes Inglês John Robinson, contemporâneo de Cosme, chegou a fazer mais de 400 jogos, durante oito épocas consecutivas, com o mesmo par! Quando as arrumou, garantiu que estavam em condições de realizar outros tantos.
É, todavia, preciso dizer que estrear umas botas naquele tempo era o mesmo que ter ferrada nos pés uma matilha de cães raivosos. Na literatura técnica do futebol de então constavam avisos como: 'Nunca entres em campo com um par de botas novo!' Sugeria-se que se retirassem os pitons e se utilizassem como calçado normal, se possível em condições atmosféricas adversas e terrenos acidentados. Só depois e que estariam em plena forma.
Quem não esteve para se arreliar com isso foi a selecção de futebol da Índia, que, em 1950, disputou descalça toda a fase de apuramento para o Mundial, no Brasil. Quando tocou a reunir no país da ordem e do progresso, veio a FIFA e estipulou imediatamente a autocracia da bota, colocando em situação condicional o povo de Ghandi:
'Se querem sambar, tratem de vestir os pezinhos'. Ai é? Fiel ao princípio da autodeterminação desportiva, a Índia fincou mais do que nunca os pés no chão e decidiu preservar a sua ideia romântica de futebol com alma.
Mais ou menos a mesma que sustentou o sonho de Cosme e de todos aqueles que o acompanharam no tempo da baliza e do balde de cal às costas. Mais ou menos a mesma que fez de um clube humilde e descalço o mais português de Portugal."

Luís Lapão, in Mística





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