Coroa sem rei: o jogo da moeda ao ar
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Coroa sem rei: o jogo da moeda ao ar


"Crónica do dia em que um Florim holandês destruiu o sonho europeu.

Hoje, 26 de Novembro de 1969, o Benfica vai defrontar o Celtic para os oitavos-de-final da Taça dos Campeões Europeus, depois da derrota na Escócia por 3-0. Equipo-me a rigor, com direito a cachecol. O calçar dos sapatos é célere, tal como a vontade de seguir caminho. Eu e o meu pai chegámos cedo ao estádio, assistimos ao frenesim dos vendedores de comida e da multidão empolgada.
O estádio está repleto de adeptos animados e confiantes na reviravolta do resultado, mesmo com o frio que se faz sentir. Apesar das ausências de Humberto Coelho e Torres e das notícias que dão conta de Eusébio febril e ausente do jogo, a esperança não diminui. Os jogadores sobem ao relvado. Eusébio está nos eleitos. E os nossos craques recebem uma enorme ovação!
Que início de jogo, com jogadas e remates perigosos! Instala-se o 'nervoso miudinho', anseia-se pelo golo. Este aparece inevitavelmente por Eusébio, após meia hora de jogo. E, poucos minutos depois, o estádio entra em delírio quando Jaime Graça faz o segundo! Estamos todos de pé, aos saltos, a gritar. Só falta um!

Na segunda parte, Eusébio, que jogou doente, é substituído, mas a esperança mantém-se. Os últimos quinze minutos de jogo são à Benfica. Estão todos de pé, Otto Glória dá indicações para o campo, os jogadores atropelam a defensiva escocesa. Até que, no derradeiro minuto, após cruzamento de Simões, Diamantino leva-nos ao céu, com um golo de cabeça. Mas que golo! E que felicidade! Ao meu lado, um senhor chora, agarrado ao neto, eu e o meu pai abraçamo-nos e todo o estádio está em euforia total, com invasão de campo. Estamos finalmente empatados na eliminatória!
Com o empate a manter-se após o prolongamento, a nossa passagem vai depender da sorte, da moeda ao ar, conforme mandam os regulamentos da UEFA. A ansiedade toma conta das bancadas. A moeda ao ar vai ser feita no silêncio do balneário do árbitro holandês. O dirigente Francisco Calado e o capitão Coluna, do Benfica, e do lado escocês, o treinador Stein e o capitão NcNeill são os protagonistas. Os minutos passam sem que o desfecho seja conhecido, quando vozes se levantam, gritando pela vitória do Benfica. A euforia instala-se, mas nos altifalantes uma voz a má notícia da passagem do Celtic à próxima fase. A vitória do Benfica não passou de um boato. A sorte sorriu aos escoceses e a nossa 'coroa' ficou sem rei porque, no fim desta batalha épica, quem nos derrubou foi o Florim holandês."


Diogo Santos, in O Benfica



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