Benfica
CRÓNICA DE LEONOR PINHÃO
Título:
Ninguém se esquecerá enquanto houver “youtube”
Texto:
Será Jorge Jesus o próximo treinador do Benfica ou não será?
Será ou não será - é a questão do momento.
Eu, por exemplo, sou fã do nosso actual treinador. Estou-lhe grata pela onda de múltiplos títulos nacionais com que nos inundou nestes seis anos e não o culpo por o Benfica não ter ganho uma única Liga dos Campeões nestes seis anos nem por ter perdido duas finais consecutivas da Liga Europa em seis anos tendo em conta que há mais de sessenta anos que o Benfica não é campeão europeu nem se qualificava por dois anos consecutivos para uma finalzinha europeia.
Gosto também dos seus maravilhosos pontapés na gramática que descabelam os pretensos doutores da bola neste país atrasado da Europa em que as mais altas figuras do Estado dão consecutivas calinadas de português e passam incólumes, sendo gente douta e licenciada, aparentemente.
O trabalho de Jorge Jesus no Benfica é notável tal como foi notável a continuada aposta do presidente do Benfica em Jorge Jesus.
Cada um com as suas peculiaridades e os seus traços genuínos de carácter formaram uma dupla que restituiu ao Benfica a sua identidade resiliente, combativa, empolgante e ganhadora.
Por isso mesmo o Porto nunca desistiu de contratar o treinador do Benfica e o próprio Sporting, nestes seis anos de Jesus no Benfica, já tentou por mais de uma vez levá-lo para Alvalade.
E tudo pode acontecer porque, afinal, se trata de futebol. Jorge Jesus não é do Benfica como Toni, como Mário Wilson, como Chalana e como o próprio Eriksson que ainda há coisa de duas semanas lhe mandou, pela imprensa, um recado adorável de quem o tem na mais alta consideração: “Do Benfica Jesus só devia sair para o Real Madrid.” É precisamente o que penso sobre o assunto porque também tenho pelo actual treinador do Benfica a mais alta das considerações.
Jorge Jesus, no entanto, é um profissional de futebol e senhor do seu destino. Nos festejos do Marquês e, uma semana depois, na celebração no Estádio da Luz, o seu rosto fechado fez-nos suspeitar que o seu destino não é Chamartín nem o Dragão mas Alvalade.
Porquê? Porque pouco se parecia este Jesus tão contido com o Jesus que vimos a dançar com a multidão no ano passado. Mais se parecia este Jesus com o Marco Silva a quem nunca ninguém viu um sorriso em público desde que assinou pelo Sporting e vá lá saber-se porquê…
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O facto de o Benfica ter demorado três décadas a conseguir a proeza singela de conquistar dois títulos consecutivos de campeão não chega para se poder dizer, como o disse Mário Wilson na década de 70 do século passado, que “qualquer um que treine o Benfica arrisca-se a ser campeão”.
É nestas coisas práticas que se deve pensar nos momentos de euforia que são muito bons de se viver mas que de práticos não têm nada.
Obrigada, mister. Por tudo.
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No fim da tarde de segunda-feira, ainda a Benfica TV mantinha corriqueiramente no ar a programação da sua grelha semanal e já as televisões generalistas, pública e privadas, estabeleciam ligações em directo ao Estádio da Luz e à Praça do Município para não perderem um segundo que fosse do acontecimento em função dos seus campeonatos de audiências.
Num desses canais debatia-se até com sentida objeção intelectual o “exagero” das comemorações benfiquistas enquanto ao mesmo tempo, e mais uma vez à pala do mesmo Benfica, se ia faturando o ganha-pão.
O Benfica é muito mais do que um clube. É uma obra social.
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Fez bem Luís Filipe Vieira em afirmar no salão nobre da Câmara que os benfiquistas voltarão a encher as ruas e as praças de Lisboa para celebrar as suas alegrias sempre que para tal haja motivo.
É que se nos proíbem de festejar os nossos simples sucessos desportivos ao ar livre, um dia destes ainda nos proíbem de nos manifestar em defesa de liberdades e de direitos nas mesmas ruas e nas mesmas praças da cidade.
Até nestas coisas vai o Benfica sempre à frente. Fico-lhe muito agradecida.
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Para todos os efeitos, Jonas é o vencedor moral da “Bola de Prata”.
Quem é que não gosta de uma boa vitória moral?
Esta, a do nosso maravilhoso Jonas, foi das mais belas e empolgantes vitórias morais de que me lembro assistir. Um estádio inteiro a puxar por ele, uma equipa inteira a trabalhar para ele, ele próprio a fazer o que tinha de ser feito – marcar três golos inteiros – e um “bandeirinha” inteiro a decidir que não, nem pensar numa coisa dessas, era só o que faltava o Jonas ganhar a “Bola de Prata”.
Ficou o troféu entregue a Jackson Martínez o que ainda mais releva o feito de Jonas porque o colombiano é um jogador de categoria excepcional, provavelmente um dos melhores do mundo na sua posição.
Estão, assim, todos e muito sinceramente de parabéns. Jackson por ter ganho a “Bola de Prata”, Jonas por não a ter ganho, Lima pela sua infinita generosidade e o “bandeirinha” pela decisão tomada que, garantem três agências de comunicação dos rivais, não passou de uma manobra estratégica, um ato perverso, para “disfarçar” a devoção dos árbitros ao Benfica.
Em toda e qualquer circunstância a verdade é que sempre nos invejam, o que se compreende.
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Maicon, o celebrado autor de um golo irregular e depois da hora que valeu o penúltimo título nacional do Porto, disse à partida para férias que o Benfica só foi campeão graças aos árbitros.
Nada há a acrescentar às palavras de Maicon.
Há piadas que se fazem a si próprias.
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Um zapping rápido no serão televisivo de domingo.
A SIC transmite pelo vigésimo ano a sua gala dos Globos de Ouro e por lá se vê Vítor Baía, antigo guarda-redes e “capitão” do Porto, tranquilamente sentado na plateia do Coliseu de Lisboa assistindo ao espectáculo.
Caberá o histórico Baía no abominável grupo de “frequentadores da Capital” e do “centralismo nacional” que o presidente do Porto denunciou por ocasião da retomada de posse de Lourenço Pinto como presidente da Associação de Futebol do Porto?
Ao que parece estava uma casa fraca e Pinto da Costa constatou publicamente que a falta “de figuras” na cerimónia da AFP se devia ao facto, indesmentível, de “haver festa na Luz”.
É verdade que houve. E correu lindamente.
Pode já não se usar “o bloqueio a Cuba” mas o bloqueio psicológico à Capital segue impante. Ainda que menos triunfal. Bastante menos triunfal.
Quem não faltou à tomada de posse de Lourenço Pinto foi Valentim Loureiro. Para o presidente do Porto a presença do antigo presidente do Boavista e da Liga na cerimónia da AFP foi “sinal” de que “os antigos não esquecem”.
Também é verdade.
Nem os antigos esquecem, nem os modernos, nem os do futuro. Ninguém se esquecerá enquanto houver “youtube”.
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No próximo fim-de-semana o Benfica poderá voltar a celebrar um título nacional em Guimarães. Trata-se do título de basquetebol que, a vir, se somará aos sucessos do hóquei em patins e do voleibol benfiquistas, campeões nesta temporada também inesquecível para as modalidades do Benfica.
Em Portugal as modalidades são muito estimadas mas o futebol é rei. Por isso mesmo foi muito bonita a homenagem que Rúben Amorim prestou aos campeões nacionais de hóquei em patins e de voleibol na noite em que ele próprio se sagrou campeão nacional de futebol.
O Rúben Amorim é benfiquista, está atento a tudo, é cá dos nossos. Não há volta a dar-lhe.
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Amanhã o Benfica encerra os seus trabalhos de 2014/2015 disputando a final da Taça da Liga, a competição que o Benfica se foi habituando a ganhar antes de se começar a habituar a ganhar campeonatos, que é o que se deseja.
Por algum lado se tem de começar, não é? No caso do Benfica, começou-se pela Taça da Liga que é troféu nacional e oficial e, por isso mesmo, entra na contabilidade dos títulos conquistados.
O adversário de amanhã é outra vez o Marítimo. O mesmo Marítimo que, nesta temporada, repito, com dois treinadores diferentes ganhou por duas vezes ao Porto com o mesmo treinador.
O mesmo Marítimo que, no sábado, obrigou Júlio César a aplicar-se ao mais alto nível para que o jogo não chegasse ao intervalo com os campeões nacionais a perder em casa na tarde da sua justíssima consagração.
E, assim sendo, todo o respeito é pouco, caríssimo Benfica. Respeitinho pelo adversário, respeitinho pela Taça da Liga e respeitinho pelos muitos milhares de adeptos que irão até Coimbra porque não sabem fazer outra coisa que não seja correr quilómetros atrás de um sonho. De qualquer sonho.
Texto de Leonor Pinhão in a bola
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