CRÓNICA DE LEONOR PINHÃO
Benfica

CRÓNICA DE LEONOR PINHÃO



De “Igreja” a “Catedral” no espaço de três décadas e de um Apito Dourado
Texto:
No culminar de uma semana em que se celebrou o 30.º aniversário do desaparecimento de José Maria Pedroto, não consegue deixar de ter, por mais que se esforcem, um bafiozinho de “ancien regime” a choradeira do atual treinador do Porto desfavorecido pela arbitragem e a tarja carpideira desenrolada no atual estádio com os dizeres “se roubo de Igreja era habitual agora são roubos de Catedral”.
Com toda a franqueza, não conheço benfiquista que não tivesse gostado.
A promoção de “Igreja” a “Catedral” pela pena do grande rival no espaço de três décadas e de um Apito Dourado é um motivo de orgulho. O não é?
E não é no mínimo curiosa esta sensação de ver o rival a dar parte fraca no capítulo da retórica?
No entanto, nem as palavras de Julen Lopetegui nem as tarjas do topo sul do Dragão se destinam obviamente aos adeptos do Benfica.
Destinam-se obviamente aos árbitros insurretos. Foi-lhes apontado nas bancadas do estádio, sem diplomacia nem sequer um cházinho, que andam a roubar o Porto em favor do Benfica e que se não fossem eles, os árbitros, tão ladrões, já o Porto podia ter comemorado o seu terceiro “penta” rajada.
Isto não é, de modo algum, fazer pressão.
É apenas a ver se os árbitros se comovem perante a lista de iniquidades da justiça que afrontam o Porto sempre que o Porto consegue perder um campeonato como, por exemplo, aconteceu no ano passado só porque o GPS do presidente se avariou.
Não nos metamos nunca nestas mecânicas.
E, quanto a mim, também não cabe aos benfiquistas responder no seu estádio com tarjas pejadas de fruta às tarjas bacteriologicamente puras do Dragão.
*
Jonas, que já não é nenhuma criança, que chegou ao Benfica tarde, a más horas e imerso numa densa névoa de suspeição sobre a sua condição e valia, tem vindo a marcar um golo por jogo.
Não é pouco nem é muito, é simplesmente excelente.
Tal como Jonas, que chegou ao Benfica com muita gente a torcer o nariz, também Júlio César, outro brasileiro, aterrou em Lisboa tarde, a más horas e perante a desconfiança geral sobre as suas capacidades, condição e propalada veterania depois de um Mundial que lhe fora fatídico.
Diferentemente de Jonas que vem marcando um golo por jogo, Júlio César vem sofrendo zero golos por jogo o que já lhe permitiu bater o record de inviolabilidade de que Oblak era o detentor e o que permite ao Benfica, sem sofrer golos, continuar na posição de líder bem isolado da Liga.
Na tarde de sábado, na Luz, o Benfica chegou à beira do intervalo com três bolas mandadas aos ferros e uma bola dentro da baliza do Vitória de Guimarães.
Poderia, no entanto, o Benfica ter regressado para a segunda parte com uma atitude bem menos confiante se Júlio César, nos instantes finais da primeira parte, não tivesse recorrido ao seu “know-how” contratado despachando a pontapé, quando estava deitado de costas na pequena área, uma bola que teimou em pingar perigosamente sobre a linha de golo. Ou era assim ou era golo. Quem sabe, sabe.
Esta equipazinha do Benfica que persiste, para já, em aborrecer os rivais não cedendo o terreno tão arduamente conquistado tem tido no guarda-redes e no avançado duas garantias da maior importância: Júlio César, onde o Benfica começa, e Jonas, onde o Benfica acaba. Continuem assim, por favor. Com muita saúde.
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Se o Júlio César voltar a sofrer das costas e se o Jonas se cansar de marcar golos – longe vá o agouro! –, uma grande maioria de benfiquistas já escolheu quem os substituirá a preceito.
Trata-se do nosso André Almeida, a quem só falta jogar a baliza e a ponta-de-lança para nos convencer da sua capacidade camaleónica em prol do coletivo.
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As equipas B do Benfica e do Porto encontraram-se na tarde de domingo e o jogo foi transmitido pela Benfica TV. Estiveram dois Gonçalos em campo, um para cada lado, ambos muito jovens e muito prometedores.
Não demorará muito até os vermos na selecção “A” ocupando posições que, na última década, foram dramáticas de preencher como muito bem atestarão Carlos Queiroz, Paulo Bento e o próprio Fernando Santos.
Gonçalo Guedes marcou através de uma grande penalidade o primeiro golo do Benfica e Gonçalo Paciência fez o segundo golo do Porto, um golo tão belo e tão extraordinário que levou, com a maior das naturalidades, o comentador da Benfica TV a classifica-lo por mais do que uma vez como “um hino ao futebol”.
Neste caso específico, só podem os portistas ter orgulho na arte do filho de Domingos Paciência e só podem os benfiquistas ter orgulho na isenção e no alto profissionalismo dos comentadores da televisão oficial do clube.
Já me ia esquecendo de dizer o resultado: 3-2, ganhou o Benfica.
Os outros dois golos do Benfica foram apontados por Cardoso, outro jovem português, defesa-central, com nome de goleador paraguaio e com uma veia goleadora que nos faz sonhar com Humberto Coelho.
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Cristiano Ronaldo conquistou na segunda-feira a sua terceira Bola de Ouro e festejou a distinção em palco avisando o planeta do futebol que não pretende ficar-se por aqui. Cara-a-cara ainda disse a Messi que o vai ultrapassar em títulos individuais e que não tardará muito. Terminou o seu discurso de aceitação com um urro nos antípodas da elegância do fato que levava vestido.
Parabéns Cristiano Ronaldo, provavelmente o melhor jogador de todos os tempos.
No entanto, gostei mais de o ver chorar na cerimónia de 2014 do que de o ver tão cheio de si mesmo no cerimónia de 2015. Quanto a vê-lo jogar, gosto sempre a mesma coisa. É uma máquina.
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Lê-se nos jornais que o Belenenses está interessado em assegurar os serviços de Simão Sabrosa, hoje com 35 anos e sem clube depois de ter visto chegar ao fim o contrato com o Espanhol de Barcelona no verão passado.
Voto a favor antecipando o gosto de rever de perto Simão Sabrosa, agora na condição de veterano muito veterano e, por isso mesmo, um jogador de características muito diferentes das que dispunha quando saiu do Benfica em 2007 rumo ao Atlético de Madrid.
Faz muito bem Simão se decidir regressar ao futebol português pela porta de Belém. A sua presença acrescentará qualquer coisa de extravagante à nossa Liga através da arte própria de um artista de méritos inquestionáveis ainda que meio retirado.
E poderá sempre Simão Sabrosa dizer mais tarde, para a História, que jogou nos três clubes grandes de Lisboa embora só tivesse conquistado títulos ao serviço de um, justamente uma Liga, uma Taça de Portugal e uma Supertaça.
Provavelmente ainda não havia Taça da Liga…
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No domingo o Benfica joga no Funchal com o Marítimo. Na temporada passada, foi lá que começou em Agosto, com uma derrota, a Liga que haveria de ser brilhantemente conquistada em Abril. A deslocação aos Barreiros é tradicionalmente difícil. Cabe ao Benfica, e só ao Benfica, torná-la fácil.

Texto de Leonor Pinhão in a bola



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