CRÓNICA DE LEONOR PINHÃO
Benfica

CRÓNICA DE LEONOR PINHÃO



Um impressionante conjunto de anormalidades

Texto:

O último derby teve a rodeá-lo um impressionante conjunto de anormalidades.
E a maior de todas nem terá sido a anormalidade da tempestade Stephanie de domingo que obrigou ao adiamento do jogo para terça-feira.
A anormalidade das anormalidades foi não haver penaltis.
Cresci ouvindo dizer aos mais velhos e mais sábios que não há derby sem penalti. Fui constatando a verdade desse axioma ao longo de muitos anos. 
Penaltis para um lado, penaltis para o outro lado, penaltis indevidamente assinalados, penaltis que ficaram por assinalar, penaltis mal marcados, penaltis bem marcados, guarda-redes para um lado e a bola para o outro lado, guarda-redes e bola para o mesmo lado, bola no poste, bola na trave, bola por cima, bola para o lado, enfim, todo um elenco de situações que tombam a cada derby e dão pano para mangas nos dias subsequentes.
É ou não é?
Anteontem não houve penaltis. Desse ponto de vista foi um derby atípico. É essa a anormalidade maior quando se trata, como é o caso, de fazer o rescaldo do jogo entre os dois grandes clubes de Lisboa.
Em não havendo penaltis, é que nem sombra deles, do que falaremos então?
Sugiro que falemos do árbitro. Marco Ferreira, por mérito próprio, foi também uma das anormalidades do Benfica-Sporting. 
E bem mais anormal foi o trabalho sem mácula do árbitro do que, por exemplo, o facto totalmente anormal de Nicolás Gaitán ter marcado um golo de cabeça, o primeiro do Benfica e, por sinal, bem bonito.
Voltemos ao árbitro.
Marco Ferreira começou por sair da norma antes mesmo de o jogo começar. Mal foi conhecida a sua nomeação logo irrompeu nas redes sociais um despejar de factos avulsos e intimidatórios associando o árbitro madeirense ao Benfica e ao Sporting, conforme dava jeito a cada lado da barricada da Segunda Circular.
Veio a terreno o árbitro, contrariando e muito bem a absurda lei do silêncio que impera no sector, para pôr fim à boataria: “Não sou sócio do Benfica, não sou cunhado de Leonardo Jardim nem andei com ele na escola”, disse e ficou dito. 
Contribuiu assim de forma frontal para o desanuviamento do ambiente que, em vésperas de derby, é sempre turvo, agitado, quando não trauliteiro, fruto da rivalidade mais do que centenária entre os dois emblemas em causa.
É difícil de entender que espécie de ganho advém para os árbitros estarem obrigados ao silêncio. Passam a vida dizer-nos, quando as coisas correm mal para um lado ou para o outro, que os árbitros se erram é porque são humanos. Ora se são humanos podem falar à vontade, ou não é assim?
Segundo o que se leu nos jornais na semana que antecedeu o derby, Marco Ferreira foi uma segunda escolha do presidente dos árbitros visto que a primeira escolha, Jorge Sousa, se terá recusado a apitar na Luz. 
Quando Jorge Sousa é nomeado para dirigir jogos que metam o Benfica nunca veio a lume, ao contrário do que sucedeu com Marco Ferreira, que se trata de um sócio do Benfica ou que foi colega de escola da águia Vitória.
O mais comum, quando se fala em Jorge Sousa nos areópagos benfiquistas, sendo Sousa um dos melhores árbitros portugueses, é lançar ao ar que o referido árbitro pertenceu à claque dos Super Dragões quando era jovem. 
Poderá, se quiser, Jorge Sousa pôr fim à boataria um dia em que diga publicamente: “Eu nunca fui um Super Dragão”. E muito contribuirá com isso para desanuviar o ambiente. Por que não o faz?
Entrou, assim, Marco Ferreira na noite de terça-feira na Luz auto-liberto dos estigmas que lhe quiseram colar e rubricou uma actuação que mereceu elogios de todos os lados, inclusivamente de Bruno de Carvalho, o presidente do Sporting, e de Leonardo Jardim, o falso cunhado e o falso colega de carteira do árbitro.
E um derby em que, entre vencedores e vencidos, ninguém diz mal do árbitro é, só por si, uma grande anormalidade.
Outra anormalidade, ainda que menor em comparação com as já enunciadas, prendeu-se com aquilo a que vulgarmente se chama a sorte do jogo. Dérbis, clássicos e quejandos são, por norma, tão renhidos, tão disputados, tão equilibrados que a sorte do jogo é, frequentemente, factor decisivo em favor do vencedor. 
Pois na terça-feira aconteceu precisamente o contrário. O Sporting teve toda a sorte do jogo e o Benfica saiu vitorioso por 2-0, um resultado bastante económico tendo em conta a exibição de uns e de outros e tendo em conta o número de oportunidades construídas pelos donos da casa. Tivesse a sorte do jogo do lado do Benfica e o resultado teria sido, certamente, bem mais expressivo.
*
Quando Javi Garcia se foi embora, Matic cumpriu uma época inteira a fazer o seu papel e o de Javi Garcia. Por ter feito dois papéis tão bem feitos foi recompensado com um regresso pela porta grande ao clube, o Chelsea, que o tinha tratado como trocos na compra de David Luiz. 
Agora que Matic se foi embora, é Enzo Pérez que anda a fazer dois papéis, o seu e o de Matic, com grande solenidade e eficácia. Foi, pelo menos, o que viu com o Sporting.
*
O campeonato já vai a mais de meio e o Sporting de Braga, que há quatro anos, discutiu o título até ao fim da prova, anda agora na luta por um lugar na Europa atrás dos inesperados Estoril e Nacional. Inesperados, com o devido respeito. 
Normalmente chama-se de “equipa sensação” aos menos afortunados em questões de orçamento e de dimensão que capricham em atingir patamares que não lhes estavam, de modo algum, reservados.
Na última Liga, a de 2012/2013, foi o Paços de Ferreira de Paulo Fonseca o brilhante intruso nestas discussões maiores o que lhe valeu uma experiência curtinha mas saborosa na competição de clubes mais importante da Europa.
Na Liga corrente, olhando para o estado actual do topo da tabela, os três primeiros lugares voltaram aos seus “donos” históricos, Benfica, FC Porto e Sporting, precisamente por esta ordem cumprida que foi a 18.ª jornada.
Do Sporting, terceiro classificado, para o Nacional, quarto classificado, distam 7 pontos, muito ponto a dar conforto à equipa de Alvalade cujo anseio assumido é, desde o princípio, a qualificação para a fase de grupos da Liga dos Campeões.
Do Benfica, primeiro classificado, para o FC Porto, segundo classificado, distam 4 pontos que dão alento aos da Luz mas que não chegam, nem por sombras, para dar a mínima garantia de sucesso final, tal como a história recente já sobejamente demonstrou.
Em 2011/2012 o Benfica chegou a ter 5 pontos de avanço sobre o FC Porto (em Fevereiro) e em 2012/2013 o mesmo Benfica chegou a ter 4 pontos de vantagem sobre o mesmo FC Porto (em Maio) e depois aconteceu, como certamente estarão recordados, exactamente a mesmíssima coisa.
A três meses do próximo desenlace, o Benfica, apesar de ser líder, é tão favorito ao título como o é o FC Porto, apesar de não ser líder. Estamos entendidos? E, sinceramente, não é de crer que o Sporting abdique de lutar pelos seus pergaminhos até à última jornada só por ter perdido anteontem na Luz.
É muito cedo, portanto, para ter certezas embora se aceitem prognósticos porque os prognósticos fazem parte intrínseca destas emoções.
Há, no entanto, uma certeza e muito notável à 18.ª jornada do campeonato. O Estoril soma 6 vitórias e 1 empate nos 9 jogos que realizou fora do seu campo. O Estoril tem tantas vitórias fora na Liga quantas as que têm o Benfica e o Sporting. 
O Estoril já somou 20 pontos fora da Amoreira, tantos quantos os que somou o Benfica fora da Luz. Fora de casa, o Estoril já somou mais 6 pontos do que o FC Porto fora do Dragão e mais 1 ponto do que o Sporting fora de Alvalade.
É da mais elementar justiça, por tudo isto, dar os parabéns ao Estoril.
*
O Benfica-Sporting a contar para o campeonato só pôde ter sido jogado anteontem, terça-feira, porque o FC Porto-Benfica da Taça da Liga marcado para ontem, quarta-feira, foi desmarcado em função do caso dos minutos de atraso com que se iniciou o FC Porto-Marítimo da Taça da Liga.
Há um inquérito em curso, já foram ouvidas todas as partes. Não é muito verosímil que o Sporting venha a beneficiar de uma decisão da secretaria e lhe caiba substituir o FC Porto nessa meia-final em suspenso da Taça da Liga.
Dizem que para a semana já há decisão.
Mas a perspetiva (ainda que muito longínqua) de ter de voltar a jogar com o Benfica nem sequer deve ser, por estes dias, o mais forte desejo dos comandos de Alvalade.

texto de leonor Pinhão



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