EU, NÓS, A NOS ... E OS OUTROS
1. EU
Quando e enquanto, durante 2 anos, ao expressar-me publicamente, v.g. no "Dia Seguinte", na SIC, defendi, contra (quase) tudo e (quase) todos que o BENFICA deveria romper com a Olivedesportos e passar a transmitir os jogos da sua equipa principal, na Benfica TV, sei o que acharam que eu era.
Mas, aos que me iam chamando a “atenção” para o perigo, a inconsistência e a leviandade da minha posição, fui sempre respondendo com uma frase de Francisco Sá Carneiro que faço minha e que me tem dado o conforto entre o tempo em que digo o que penso e o tempo em que me dão razão.
"Nunca estive tão sozinho e nunca tive tanta certeza de ter tanta razão".
Foi, mais uma vez, o que aconteceu.
Não sozinho, desde o início, mas quase.
A mesma solidão, estou certo, que terão sentido, por exemplo, Sílvio Cervan, José Manuel Appleton, Virgílio Vieira Duque, Jorge Costa Quintas, José Alberto Coelho .... para citar os com quem ia trocando ideias e sabia defensores intransigentes dessa opção.
Como relembro todos os artigos escritos, todas as opiniões expressas na televisão, todas as opiniões de vozes "amigas" ... aconselhando-me a esmorecer nesse meu combate, porque para além de o perder, estaria a por em risco a minha "carreira" no Benfica, já que seria obrigado a demitir-me, em coerência do que defendia, quando assinássemos contrato com a Olivedesportos.
A esses, que avaliam as suas carreiras e as suas vidas pela defesa de convicções alheias, por não perceberem a diferença entre o que queremos e o que os outros querem que queiramos, ... a esses, ... ia dizendo que nunca me tinha arrependido de defender o que pensava.
Apesar de respeitar os que olham, apenas, pelos seus interesses próprios - por maioria de razão - e pelos dos outros, ... especialmente quando lhes pagam bem.
Respeito quem faz a sua vida a defender o mais fácil, a não arriscar, mas não me peçam para ser como eles.
Por isso, neste caso, como em tantos outros, poderei ter sido uma voz incómoda, uma voz que destoou do marasmo, uma voz que muitos queriam (e querem, honra lhes seja feita, pela perseverança ...) aniquilar, mas que sempre disse, livremente, o que outros gostariam de dizer e que só não o dizem, porque não têm essa oportunidade.
"Sei o que querem porque sou um de vós".
E eu queria o mesmo que queriam tantos, ... a esmagadora maioria dos benfiquistas: acabar – cumprindo até ao fim – o contrato entre o Benfica e a Olivedesportos, que nem sequer se havia dignado corrigir os números do clube que tem (como tinha, na altura) entre 55% e 60% da quota de mercado de direitos televisivos, em Portugal.
Agora que essa opção serviu de plataforma para lançar e obter um - até há dias impensável - contrato entre a NOS e o Benfica, recordemos os que deram a cara por essa opção, os que lutaram para que fosse possível, em Portugal, um clube ter um contrato proporcionalmente comparável aos grandes clubes europeus.
Como o Benfica, de facto, é!
Para os que me exigiam (então, como agora, em relação a cada tema) a minha contenção, ... agradecer-lhes porque a falta de visão deles, a sua falta de coragem, a sua submissão aos interesses instalados, a sua pequenez, ... só torna mais evidente a minha capacidade de prever e defender o que me parece óbvio, aquilo em que acredito, o que julgo melhor para o que gosto e defendo.
Neste caso, o Benfica (como, noutras situações, aquilo em que, ou com que, me envolvo, que defendo ou por que luto) por muito que isso custe a quem não consegue ter força para superar o medo de viver aquilo em que acredita e por muita inveja ou ódio que possa gerar nesses pobres de espírito.
2. LUÍS FILIPE VIEIRA
Dos méritos e da visão do Presidente do Benfica já todos disseram tudo, incluindo os que tantas vezes o acusaram de tanta coisa, de forma tão injusta quão leviana.
Mas o que, antes do mais, numa nota muito pessoal, quero voltar a repetir, é a liberdade que Luís Filipe Vieira me deu sobre esta matéria.
Antes de me expressar publicamente – a título pessoal, mas não esquecendo que era Vice Presidente do SLB e Administrador da SAD – tive o cuidado de transmitir ao Presidente do Benfica as razões para concretizar a ruptura com a Olivedesportos.
E, num tempo onde ainda o próprio tinha muitas dúvidas sobre matéria tão sensível, sempre encontrei em Luís Filipe Vieira a máxima compreensão e um enorme respeito por uma opinião que ainda não saberia se seria a sua.
Nunca me impediu de o defender, dizendo-me mesmo que, se eu acreditava tanto nessa solução, que a poderia defender publicamente, sempre que o entendesse, a título pessoal.
Foi o que fiz.
Ressalvando sempre, tal como me comprometi, que a decisão final seria da responsabilidade última do Presidente do Benfica.
Por uma razão que não me canso de repetir: Luís Filipe Vieira tem o que falta a todos os outros: legitimidade democrática (para além da histórica e da carismática, numa aproximação ao que Max Weber diria, se algum dia tivesse analisado tais questões no SLB).
Por isso será um dos maiores Presidentes do Benfica.
Porque para ser – de longe – o melhor Presidente da história do SLB – e ele sabe, porque lho digo, tantas vezes – depois do Estádio, do Centro de Estágio, do Museu (o que mais valorizo, face à personalidade e à visão profissional de Luís Filipe Vieira), ... falta-lhe, “apenas”, um título europeu.
Que ele sabe que acredito ser possível (como, ainda na semana passada, lhe voltei a relembrar, por escrito)!
3. DOMINGOS SOARES DE OLIVEIRA
A par de Luís Filipe Vieira, há um outro nome a quem gostaria de, aqui, prestar pública homenagem.
Nem sempre estive, nem estou, nem estarei, por certo, de acordo com ele, em questões de pormenor.
Mas tenho o maior respeito intelectual por Domingos Soares de Oliveira, e pela sua capacidade de, em cada momento, perceber de que lado da barricada o Benfica tem de estar.
Em questões estratégicas, nunca tive uma dissonância com ele (ou ele de mim, … tanto quanto a memória alcança).
É por isso que, hoje, passados quase 6 anos das minhas primeiras declarações sobre ele, as voltaria a repetir.
4. A NOS
Uma palavra para a NOS e para a "coragem" ("visão estratégica", "contas bem feitas"???) que teve em garantir, por 40 Milhões/ano, e por 10 anos, o acordo com o Benfica.
Não se tratará, por certo de nenhuma leviandade, mas, antes, de uma avaliação do que representa o Benfica, comparado com os outros que sonham em ser grandes como nós.
Nestas coisas, como em tantas outras, são os números que mandam.
Porque as opções da NOS foram, por certo, baseadas em realidades mensuráveis, decididas por alguém que, se fosse o coração a ditar, tomaria, porventura, outra opção.
Eu sei que não precisam, e até dispensariam, mas ... querem maior elogio, vindo da minha parte, do que este?
5. E OS OUTROS
Os outros … foram os que perderam.
Os que se recusaram a rever um contrato de 8 M/ano (porque a isso não eram obrigados, apesar de já estarem a pagar 16 e 14 a outros ...).
Os que, há 3 anos atrás, se recusaram a dar 25 M/ano porque o negócio não valeria mais de 18 ou 20.
Os que apostavam na submissão do Benfica para continuarem a mandar.
Os que acharam que o Benfica TV não ia resultar e que seria o princípio do fim de uma estratégia baseada numa verdadeira autonomia, alicerçada na maior massa associativa portuguesa, correspondente a - como disse - mais de 50% da quota de mercado ...
Os que julgaram que um projecto profissional, feito por homens sérios, em termos de ética e de responsabilidade jornalística, iria ser adulterado pela paixão clubística, que toldaria a independência e a equidistância sempre que tal fosse exigido ou, mesmo, aconselhável.
Os que, acreditando (como eu acredito) que a centralização de direitos seria a melhor opção, se distraíram …
Os que julgando-se iguais ao Benfica, perceberam logo que, no máximo, só valem 80% de nós (que exagero, eu sei ...) e que, com o voar do tempo, não andarão longe de verbas que nem a 50% chegarão das agora anunciadas ...
Os invejosos que me predisseram o “meu fim” no Benfica por defender a ruptura com a Olivedesportos.
Os medíocres que vivem da defesa de interesses ou de convicções alheias....
Os que odeiam o Benfica e convivem muito mal com a sua grandeza (mas, que, ainda assim, reconhecem que 400 M, em dez anos, é muito bom, muito bom, mesmo)!