Fernando Eduardo Guinapo do Cruzeiro nasceu na Amadora em 10 de Fevereiro de 1930. Com um ano de idade passou a morar em Benfica, no adro da igreja. Após terminar a instrução primária (4.º ano) empregou-se como aprendiz de serralheiro, electricista e canalizador, passando em 1952 a trabalhar como contínuo na sede da Rua do Ouro, do Banco Português do Atlântico (BPA). Manteve-se como empregado bancário até se reformar em 1990.
PATINAR E ESPERAR…
Aos 12 anos apresentou-se no Benfica para fazer patinagem, só que em 1942 não era permitido fazer desporto federado antes dos 17 anos. Teve que esperar. Aproveitou para patinar incessantemente aos sábados, e treinar hóquei aos domingos, durante cinco anos no nosso rinque da Sede. Em 1946 estreou-se nos campeonatos regionais juniores de patinagem que decorreram em Lisboa, entre 2 e 6 de Setembro, conquistando logo três títulos e dois recordes nacionais. Mas isto é outra história. Menos de um ano depois jogava hóquei no Benfica.
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Eterno Fernando Cruzeiro. Tanta glória nos deste e tão pouco levaste a não ser a gratidão dos Benfiquistas. Como dizias... "a maior riqueza do Mundo" |
DE CAMPEÃO JÚNIOR A MELHOR DO MUNDO
Aos 17 anos, estreou-se no hóquei em patins em 22 de Junho de 1947, como defesa (!), num jogo particular disputado no Entroncamento, com o Sp. C Oeiras, mas a temporada de 1947 foi feita a jogar a médio, o lugar onde se tornou o melhor hoquista mundial de sempre. Foi uma época inesquecível com o “Glorioso” a sagrar-se campeão regional de juniores – após cinco temporadas sem vencer – e campeão nacional, o primeiro título de juniores (e absoluto) do hóquei em patins do Clube. Mas, mais que essa dupla conquista, o triunfo significou a esperança do regresso do hóquei benfiquista às grandes conquistas regionais e nacionais em seniores.
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A última pose como Glorioso Hoquista. O Benfica Ilustrado; n.º 2; 1 de Novembro de 1957; página 7 |
CAMPEÕES NUM NOVO “CICLO”
Estreou-se oficialmente na equipa principal em 12 de Abril de 1948 num jogo com o CD Paços de Arcos, para a Taça de Honra, competição regional com que se iniciavam as temporadas. Três anos depois, em 1951, o Benfica sagrou-se campeão regional ao fim de um hiato com 13 temporadas, pois o último triunfo datava de 1937! Seguiu-se a conquista do Nacional, o primeiro da nossa história, apesar da competição se ter iniciado em 1939 indo já na 13.ª edição, mas o “Glorioso” apenas participara em três. Jogou onze temporadas entre 1947 e 1957, se bem que na época inicial apenas foi titular nos Juniores. Na equipa principal participou em 458 jogos, marcando 404 golos e capitaneando a equipa em 86 encontros. Foi o capitão da nossa equipa principal durante duas épocas em 1956 e 1957. Durante meio século foi o “médio” com mais golos na história do hóquei em patins, até 1997, quando foi “ultrapassado” por Paulo Almeida!
ABNEGADO E VIRTUOSO
Fernando Cruzeiro foi um hoquista de qualidade excelsa – um jogador excepcionalmente versátil, excelente patinador, virtuoso individualmente mas um fantástico jogador de equipa, abnegado e correctíssimo. Desarmava em antecipação ou conseguia cortar a bola na luta directa, iniciando rapidamente uma jogada de ataque, driblando curtíssimo, com espontaneidade para servir os avançados ou efectuar ele mesmo os remates de qualquer parte do rinque. Ou seja, sendo médio, era tão eficaz como os melhores defesas e tão eficiente como os melhores avançados! Um primor de categoria. Apesar de ter uma classe ímpar, foi correctíssimo, sem vedetismos. Uma saudade da modalidade!
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A última Gloriosa Equipa que capitaneou. O Benfica Ilustrado; n.º 2; 1 de Novembro de 1957; página 7 |
MÉDIO GOLEADOR
Fernando Cruzeiro defrontou 50 adversários, mas defrontando 22 apenas num jogo, só não marcando a cinco! Entre os 458 jogos em que participou, marcou em 253 desses jogos (55 por cento), com 205 em “branco” obtendo mesmo na época de 1950 no rinque do Pavilhão dos Desportos, para a Taça de Honra, com o Clube Naval Setubalense, seis golos na vitória por 12-1. O clube que defrontou mais vezes foi o HC Sintra (58 jogos), marcando-lhes 32 golos tal como ao SC Oeiras (depois AD Oeiras), a este clube apenas em 37 jogos.
CAMPEONÍSSIMO
Conquistou os títulos mais importantes do seu tempo, com 13 triunfos oficiais: três Nacionais e dez Regionais. No campeonato nacional em 1951, 1952 e 1953, ou seja com um bicampeonato (1951/52). Nos Regionais, conquistou quatro campeonatos, em 1951, 1953, 1954 e 1956. E na Taça de Honra participou nas seis conquistas consecutivas de 1952, 1953, 1954, 1955, 1956 e 1957.
HOQUISTA E PATINADOR
Para além de jogar hóquei em patins, modalidade onde se guindou a melhor médio do Mundo, praticou também hóquei em campo e patinagem. Nesta modalidade competiu durante quatro temporadas, entre 1946 e 1949, distinguindo-se, entre tantas conquistas, a vitória (com recorde nacional) em 3 de Novembro de 1948 nos 300 metros em 39,2 segundos do campeonato nacional, realizado em Lisboa. Jogou hóquei em campo entre 1946/47 e 1949/50, durante quatro épocas, começando nos Juniores e terminando como avançado na equipa principal.
INTERNACIONAL
No hóquei em patins, esteve presente em representação da selecção nacional em seis campeonatos: cinco do Mundo – 1952 (1.º), 1953 (2.º), 1954 (2.º), 1955 (3.º) e 1956 (1.º); e seis da Europa – para além das cinco edições em simultâneo com os Mundiais, também em 1957 (2.º), num total de 99 internacionalizações e 45 golos, sagrando-se campeão europeu e mundial em 1952 e 1956, ambas em Portugal, na cidade do Porto.
DISTINÇÕES HONROSAS
Foi distinguido com a “Águia de Prata” em 10 de Fevereiro de 1956. Em 1957, o Benfica organizou uma “Festa de Homenagem” no Pavilhão dos Desportos, no Parque Eduardo VII, em Lisboa com o HC Sintra. Dois dias depois, em 9 de Outubro despediu-se do hóquei benfiquista jogando pela última vez na “Festa de Homenagem” a Luís Lopes, outro excelente hoquista do Clube, e seu companheiro desde os juniores.
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O último gesto com o Manto Sagrado. O Benfica Ilustrado; n.º 2; 1 de Novembro de 1957; página 7 |
VIDA DEPOIS DO HÓQUEI
Após deixar de jogar no “Glorioso” continuou a actividade em Angola, durante 18 anos, entre 1957 e 1975 como empregado do Banco Comercial de Angola (BCA), jogando em Luanda na nossa filial e no CD Ferroviário, respectivamente, em seis e duas temporadas. Depois fundou a Secção de hóquei em patins do BCA, clube onde terminou como jogador e se iniciou como treinador, passando depois para o ASA e CDUA. Após a conturbada independência de Angola, regressou a Portugal para treinar a equipa da A. Académica da Amadora e o GDS Cascais. Motivos de saúde, porém, obrigá-lo-iam a abandonar, então, completamente a actividade desportiva, dedicando-se apenas à sua profissão de bancário nas instalações da Rua do Ouro. Aos 85 anos faleceu em Lisboa.
DATAS IMPORTANTES
10.02.1930 Nascimento na Amadora
Ano de 1945 Inscrição como associado (15 anos)
02.09.1946 Estreia na patinagem (100 metros)
22.06.1947 Estreia na equipa principal de hóquei em patins
20.07.1947 Estreia no hóquei em campo (juniores)
10.08.1947 Estreia nos juniores de hóquei em patins
09.10.1947 Campeão Regional Júnior
01.12.1947 Campeão Nacional Júnior
12.04.1948 Estreia oficial na equipa principal
26.10.1951 Campeão Regional
10.12.1951 Campeão Nacional
10.02.1956 Eleito “Águia de Prata”
07.10.1957 Festa de Homenagem
05.06.2015 Falecimento em Lisboa
ADVERSÁRIOS COM MAIS JOGOS
Clube Jogos Golos
HC Sintra 58 32
CD Paço de Arcos 45 30
CA Campo Ourique 45 27
SC/AD Oeiras 37 32
GDS Cascais 33 27
C. Futebol Benfica 30 24
GOLOS POR JOGO
N.º Golos N.º Jogos Total
0 205 --
1 147 147
2 70 140
3 27 81
4 8 32
6 1 6
TOTAL 458 404
QUADRO RESUMO
Posição Médio
Jogos totais 458 (12.º de sempre)
Golos marcados 404 (14.º de sempre)
Jogos como capitão 86 (13.º de sempre)
Épocas no Benfica 11 (entre 1947 e 1957)
Épocas na 1.ª categoria 10 (entre 1948 e 1957)
Títulos oficiais 3 Campeonatos Nacionais 1951 1952 1956
4Campeonatos Regionais 1951 1953 1954 1956
6 Taças de Honra 1952 53 54 55 56 57
Internacional por Portugal 99 Jogos/ 45 golos (entre 1949 e 1957)
Obrigado Cruzeiro! Por tudo e tudo, mas também por nos teres honrado os ases do passado. És inigualável
Alberto Miguéns
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