Não acredito que ninguém não saiba nada de futebol. Custa-me é ver quando alguém é exigente demais com algo que não percebe na sua complexidade e todo o seu meio envolvente. Custa-me ler notícias e comentários pela internet, em que grandes treinadores são mal falados pelos adeptos das equipas que treinam. Custa-me que alguns conceitos trabalhados no futebol sejam transmitidos da forma errada, levando tantos adeptos a ver algo que não existe. Hoje, publico este artigo, em honra a Tito Vilanova, que todos sabemos quem é, que Deus escolheu que ele se sentasse ao seu lado. Tito Vilanova fez parte do Tiki-taka ao lado de Pep Guardiola no Barcelona, com a tão temida posse de bola.
Quebrando o mito da posse de bola
Jogar em posse de bola não significa ter 70% de posse de bola em todos os jogos. Nem ter a bola continua a ser uma obrigação para chegar à vitória. Mesmo tendo a bola durante 60 minutos, e criando perigo durante 20 minutos, o seu adversário terá apenas 30 minutos de posse de bola e igualmente pode criar perigo durante 20 minutos. Geralmente, uma das estatísticas que surgem na televisão, refere imediatamente na quantidade de posse de bola que a equipa teve durante o jogo. A partir dessa estatística, facilmente dizemos que determinada equipa dominou o jogo, mas devemos discordar desse tipo de argumentos. A qualidade de como a equipa defende, de como ataca e de como transita entre momentos, tem muito mais peso para ter sucesso do que a percentagem de posse de bola. A mim, pouco me importa ter a bola se não consigo passar do meio-campo. Para isso, mais vale oferecer a bola ao adversário, deixá-lo libertar espaço e contra-atacar. Tenho menos posse de bola, mas posso ter mais sucesso porque a equipa tem mais espaço para aplicar os princípios de jogo que treinou e para aplicar a estratégia que escolheu para essa partida.
O espaço – tempo como forma de ver futebol
Existe uma relação entre espaço e tempo na forma como a equipa comanda todas as situações que surgem durante o jogo, seja a atacar, seja a defender. Em cada situação, há espaços que são ou não ocupados, existem ações técnico-táticas, e princípios de jogo que orientam cada uma das ações, onde cada movimento leva mais ou menos tempo a ser efetuado. Para uma grande equipa, importa que os espaços vitais sejam corretamente ocupados no menor tempo possível quando está a defender e que sejam corretamente explorados no menor tempo possível quando está a atacar. Por outras palavras, importa realizar ações de sucesso no menor tempo possível.
Ser uma equipa de posse de bola, não depende então de quanto tempo se consegue ter a bola em sua posse, porque não é possível dissociar o tempo com bola e como gere o espaço através dos números que a televisão nos mostra. Ser uma equipa de posse de bola, significa que a equipa é capaz de ter a bola, e tem princípios bem assimilados que fazem com que a equipa seja capaz de explorar espaços vitais adversários sem perder a bola. Como tal, uma posse de bola de sucesso, não tende apenas a ser elevada, como demonstrará outras estatísticas bem elevadas ao fim de uma partida. Suponhamos que num jogo, uma equipa tem 60% de posse de bola, e criou apenas 4 oportunidades para golo. Já o seu adversário, com os 40% de posse de bola, criou 10 oportunidades de golo. Será que a primeira equipa dominou o jogo, se foi a segunda que teve mais oportunidades para ganhar?
Dominar a posse de bola como forma de dominar um jogo é um mito. É o jogo que deve ser dominado, são as ações que devem ser dominadas, e não a posse de bola.
Se temos um modelo de jogo que pede para alguns jogadores entrarem em finta, de pouco nos serve fazê-los e entrar na finta se estes não tem espaço para o fazer. Estamos a queimar uma oportunidade de progredir em vão ao fazê-lo. Mas, se a equipa se sabe movimentar, se sabe abrir espaços para esse jogador entrar na finta, então tem muitas mais probabilidades do jogador obter sucesso e parecer melhor do que realmente é. Isto quer dizer que, para que um jogador tenha mais hipóteses de ganhar um lance, toda a equipa precisa de o apoiar direta e indiretamente. Então, jogar em posse não representa ter uma elevada percentagem de posse de bola. Isso é apenas a consequência da equipa jogar em apoio durante 90 minutos. Novamente, jogar em posse de bola, representa pensar o jogo, procurar espaços, procurar ocasiões, procurar momentos certos, e fazê-lo tantas vezes que a percentagem da posse de bola acabará por ser elevada.
Os números contra os factos
Podemos ficar com uma ideia de como correu o jogo, apreciando apenas as estatísticas desse mesmo jogo, mas não podemos saber como as equipas atacaram, o que aconteceu nos cinco momentos de jogo, nem saber qual foi a estratégia da equipa. Números não representam o jogo, pelo menos os que são mostrados na televisão. Representam uma parte resumida do jogo, que é totalmente diferente de representar o jogo. Portanto, posse de bola é uma consequência das várias variáveis do jogo, não é um fator que nos indica qual foi a equipa dominadora.
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