Benfica
É Sempre Bom Saber Ouvir os Outros
“Não! O maior problema não são os dos outros clubes.
O que esses podem ter é inveja do Benfica.
O maior problema está cá dentro. São os que se servem do
Clube em vez de servi-lo. São os BenfiQuistos.”
Joaquim Ferreira Bogalho, numa AG em 1953, em resposta
a um associado
CIDADANIA BENFIQUISTA
Texto escrito em 8 de Outubro de 2011
(com publicação no EDB sucessivamente adiada)
Foi com estupefacção que no último sábado, ao deslocar-me ao Pavilhão n.º 2 do Complexo Desportivo do SLB para presenciar/ apoiar a nossa equipa de voleibol, deparei com obras no anterior espaço comercial para venda de automóveis e com um cartaz que anunciava: “Aqui vai nascer o Futuro Museu Cosme Damião”. Importa sublinhar: fiquei pasmado, mas muito agradado. Passo a explicar.
AGOSTO de 2010
Causas e…
Fui convocado para uma reunião com o funcionário António Ferreira (AF) e o vice-presidente Alcino António (AA) no espaço destinado ao Museu do Benfica – situado no piso 2, entre as instalações do actual CDI (Centro de Digitalização e Informação) e a porta 18 – onde, segundo eles, seria instalado o futuro Museu. Quando pediram a minha opinião, disse-lhes que não me parecia um espaço adequado, conhecendo alguns museus de clubes europeus e o actual projecto do FC Porto, argumentando com quatro razões: 1) A superfície, cerca de 2700 metros quadrados era exígua para as enormes possibilidades/ potencialidades num clube glorioso como o nosso fazer um Grande Museu; 2) O espaço estava repartido por dois pisos – cerca de 1 600 m2 no piso 2 e cerca de 1100 m2 no piso 1 – que seriam ligados por uma “escada rolante”, desorganizando um espaço, o museológico, que tem, necessariamente, para ser “lido/ entendido” de estar bem delineado/ definido; 3) Não havia ligação à Loja (que está “fora” do Estádio – nem possibilidades, por falta de espaço, de a organizar “dentro”, sendo uma Loja fundamental para dar suporte cultural e dimensão económica ao Museu; 4) Não havia autonomia, nem independência, do Museu em dias de jogos no Estádio, pelo facto do Museu ao estar “dentro” ficar isolado pela frequência dos espectadores, nas entradas e saídas. Ora, é precisamente nos dias dos jogos de futebol que o número de pessoas é mais elevado!
… consequências
Foi-me dito que o espaço estava escolhido, era “este” e era “aqui” que o Museu seria construído! Questionei porquê? Por que não havia alternativa. Disse-lhes que havia (e algumas!). O melhor sítio seria “no bloco dos pavilhões” nos dois pisos onde estava instalado o Stand da xxxxxxx que neste texto para não lhes fazer publicidade passarei a designar por “espaço comercial para venda de automóveis”. Para meu espanto, esta sugestão foi recebida com desdém e riso ignorante, em vez de ponderada e estudada. Foi-me dito de imediato “nem pensar”. O espaço está arrendado, o Benfica precisa de dinheiro e não há possibilidade, nem interesse, em fazer lá o Museu”. Perante tanto desprezo e mal educação que quem está no Benfica para o servir, apenas retorqui: “Era bom que fizessem as contas, às receitas, para saber se vale a pena ou não!”
Setembro de 2010
Causas e…
Nova reunião, com os mesmos protagonistas, desta vez no gabinete de AF, onde me mostraram um “Projecto de Museu: Universo Benfica” que o não era, por que se tratava sim, de “Uma Grande Exposição” constituída por núcleos museológicos que até podiam estar descontinuados, ou seja, não terem ligação física imediata entre eles. Disse que me parecia “curto, transcrito e pouco ambicioso” para um Clube como o nosso, voltando a referir que o local para onde estava previsto o Museu não tinha sequer, condições mínimas, enquanto que o “espaço comercial para venda de automóveis” não tendo condições óptimas (como é evidente, estas só existiriam se o edifício fosse feito de “raiz”) tinha condições muito boas. Foi-me dito que o assunto da localização estava encerrado, mas… que eu não pensasse que a superfície do “tal espaço” era muito superior à superfície onde se iria construir o Museu.
… consequências
Foi-me dito por AA que "o problema da ligação do Museu à Loja" ia ter solução. É que já estava a ser negociada a construção de uma passadeira, entre o piso superior do Estádio e o espaço comercial da Loja. Fiquei espantado, dizendo que face à problemática fachada do Estádio, não me parecia nada adequado fazer uma “ponte” que criasse, ainda, mais “ruído”. Entretanto AF através do telemóvel ligou para informar-se da superfície do “tal espaço”: acrescentando eu, de imediato, que inquirisse a superfície dos dois pisos (e não apenas de um). Lá veio a confirmação que passava “quase para o dobro” da superfície que já estava definida dento do estádio. Para finalizar uma conversa, que “não andava nem desandava”, informei que: “Tentaria junto do presidente da Direcção sensibilizá-lo para mudar a localização do Museu, ou seja, passar dos previstos 2 700 m2 para próximo dos 5 mil m2 e reformular o projecto apresentado em “power-point” por este ser muito básico”.
Outubro de 2010
Causas e…
Entretanto, não foi possível encontrar-me com o presidente (tentei várias vezes – quatro ou cinco – mas nunca consegui!), até porque passado pouco tempo – em 18 de Outubro – foi realizada uma reunião com todo (ou quase todo) o “Grupo de Trabalho do Museu”. Voltei a referir que o espaço definido era inadequado. Que deveria ser tentado o “espaço comercial para venda de automóveis” até porque além do espaço de exposição permanente, o Museu teria obrigatoriamente de ter uma Sala de Exposições Temporárias, onde fosse possível expor/mostrar a parte grandiosa do espólio que não pode ser exibido no espaço permanente. Seria, também uma forma de tornar mais dinâmico o Museu, acrescentando temáticas imediatas, retrospectivas e actuais, a um espaço permanente (mais estático). Mais uma vez, já com enfado – reconheço – foi dito por AA, perante TODOS, que o espaço estava escolhido… tendo até o arquitecto (belga) pedido as plantas dos locais do estádio onde seria instalado o Museu.
… consequências
Por não me rever num projecto que considerava pouco digno da grandeza do Clube, perdedor, sem ser “à Benfica”, desliguei-me…
Três vezes indiquei o “espaço comercial para venda de automóveis” como local adequado para instalar o nosso museu. Três vezes foi recusado. Na primeira com desdém. Na segunda com desinteresse. Na terceira com enfado.
Ena, afinal o Museu sempre vai ser no local que eu indiquei, ou seja, naquele que foi o “espaço comercial para venda de automóveis”. Ao menos isso. Valeu a pena ter tido a ideia, ter insistido nela, mesmo perante o desprezo de funcionários e vice-presidentes.
É sempre bom ouvir os outros. E sabe-los ouvir, ainda, é melhor.
Alberto Miguéns
NOTA1: Caros leitores, apliquem a “velha máxima da indignação” – Coloquem-se no meu lugar! Qual a vossa opinião?
NOTA 2: Oportunamente voltarei a este “assunto” com um texto intitulado “Quem Cala Consente”.
NOTA 3: A minha ideia em instalar o Museu naquele espaço não surgiu do… nada. Ainda em Maio de 2004, quando o vice-presidente Mário Dias me pediu para visitar o Estádio (ainda em fase de construção) para visitar espaços a “decorar com equipas e futebolistas”, bem como as “futuras instalações do Museu” (no piso 1, entre a porta 12 e a 18) disse-lhe que me parecia “um espaço diminuto”. Por acaso, vi num gabinete, uma maqueta com os dois espaços – um comercial e um desportivo – que depois seriam construídos junto ao Estádio, afirmando: «Num destes espaços é que o “Museu Fica Bem”, porque são amplos e independentes do Estádio». Nunca mais me esqueci. Até hoje. Ainda alguns… nem sonhavam com Museusinhos!
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