Benfica
Em Luto
HOMENAGEM
A morte de Guilherme Espírito Santo deixou-me prostrado. Como era habitual, desde que ele deixara de morar em Cacilhas/ Almada (onde o visitava com alguma frequência), telefonei para a sua residência no aniversário (completou 93 anos no passado 30 de Outubro). Não falei com ele – em 2011 ainda recordei episódios do seu Benfiquismo – mas soube, por familiares, que estava débil mas com saúde. Um mês depois, em 25 de Novembro, pelas 19.00 horas, soube desta notícia triste, a notícia mais triste que pode existir, acerca de alguém que tanto estimamos.
Evocação como atleta do “Glorioso”
O luto no “Em Defesa do Benfica” pelo falecimento do nosso Guilherme Espírito Santo só terminará aquando do jogo do Benfica em Barcelona. Até lá evocaremos com notícias publicadas na imprensa desse tempo as suas enormes proezas. Hoje o seu jogo de estreia pelo “Glorioso”.
De Lisboa para Luanda e de Angola para o Benfica
Guilherme Santana Graça do Espírito Santo nasceu na cidade de Lisboa, em 30 de Outubro de 1919. Ainda muito novo, aos oito anos, foi viver com a mãe para Luanda. Já era Benfiquista quando foi para Angola. Aliás era Benfiquista desde sempre, desde que se lembrava, ou seja, desde os três anos de idade. Foi na filial luandense (Sport Lisboa e Luanda - SLL) do “Glorioso” que se iniciou no futebol, jogando duas épocas: 1935 e 1936. Em vez de estudar queria era “jogar à bola!” Facto que não agradava à sua extremosa mãe. Para o afastar do futebol enviou-o para Lisboa, para casa da avó materna. Em Julho de 1936, aos 16 anos, rumou para Lisboa, para continuar (estar “apenas” concentrado…) os estudos. Só que…trazia uma “carta de recomendação” dos dirigentes do SLL que entregou na Secretaria do SLB, na rua Jardim do Regedor. Foi treinar ao nosso estádio das Amoreiras. Agradou. Ficou.
Como estava o Benfica?
No futebol benfiquista viviam-se dias de apreensão, devido à lesão do melhor goleador do Benfica e de Portugal, o eterno Vítor Silva. O Benfica não tinha avançado-centro para 1936/37. O avançado-centro da reserva, Ricardo Freire, não convencia. Em 1935/36, quando Vítor Silva esteve impedido de actuar, o treinador Vítor Gonçalves preferiu adaptar interiores (Fernando Cardoso e Carlos Torres) a avançado-centro. Os dirigentes do Clube tentavam, através de Benfiquistas, um pouco por todo o País, observar futebolistas e conseguir contratá-los. Só que os melhores estavam seguros nos seus clubes e não havia novos que mostrassem capacidade para, no eixo da linha avançada, traduzirem em golos a produção futebolística da equipa do “Glorioso”, campeã nacional em 1935/36. A Secção de futebol do Clube contratou três avançados-centro: João Jesus (ao Vitória SC de Guimarães), Francisco Júlio (ao União Comércio e Indústria de Setúbal) e António Amorim (ao Águia Sport Clube Vilafranquense, de Vila Franca de Xira). Ainda esteve à experiência Carlos Canário, vindo de Portalegre, do SC Estrela, mas “pedia excesso de dinheiro” acabando como futebolista no Sporting CP onde foi figura de destaque até… 1951/52.
Primeiro estreou-se como espectador
Contava que o primeiro jogo que viu do Benfica, na bancada do Estádio das Amoreiras, foi o encontro de futebol na “Festa de Despedida” de Vítor Silva, em 13 de Setembro de 1936, na vitória por 2-1 com o Sporting CP. A avançado-centro jogou, na 2.ª parte, João Jesus, o substituto “natural” (sem convencer) de Vítor Silva, que saíu ao intervalo, abandonando definitivamente o futebol.
Estreia a marcar com 16 anos, 10 meses e 20 dias
Estreou-se no “Glorioso”, em 20 de Setembro de 1936, num jogo particular com o Vitória FC, em Setúbal, no campo dos Arcos, para "pagar" a transferência do defesa-direito setubalense António Vieira para o Benfica. O Benfica venceu, por 5-2, com Espírito Santo a entrar ao intervalo, marcando um golo aos 85 minutos. Afinal o substituto do enorme Vítor Silva “estava em casa”. Ou melhor chegara da “casa de Luanda”. Com 16 anos! Espírito Santo conquistou a titularidade desde logo, permitindo ao clube do “Manto Sagrado” resolver o problema do abandono precoce de Vítor Silva avançado-centro, Glória do Benfica e de Portugal, após lesão grave num joelho, recordista de golos no Benfica (202) e na Selecção Nacional (8).
Lá no 4.º anel continuará orgulhoso pelo “seu/ nosso” Benfica
Alberto Miguéns
NOTA: Estes apontamentos são possíveis por que resultam de muitas horas de conversa franca e amiga, durante mais de década e meia, entre um adepto do Benfica e esta Glória do Clube. Um enorme futebolista e personalidade fantástica, que era o paradigma do Jogador e do Benfiquista: simples, virtuoso, trabalhador, dedicado e generoso. Só posso estar agradecido, por ter aprendido tanto com Espírito Santo.
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