Jorge Jesus admite estar preparado para perder algumas peças do plantel “encarnado”. Perspectivando a abertura do mercado de transferências e tendo por base a odisseia ao longo destes cinco anos, Jesus sabe o que o espera.
“O presidente do Benfica sempre me explicou que, face às exigências financeiras do Clube, os melhores jogadores teriam de ser vendidos para fazer o equilíbrio financeiro“, começou por explicar.
Segundo o treinador, a maior dificuldade está em continuar a cumprir os objectivos do Clube. “Dá-me um certo gozo criar e arranjar soluções para quando um jogador sai e resolver, num curto espaço de tempo, a situação. Matic no Vitesse era n.º 10 e eu não o conhecia sequer, apenas o conheci na transferência do David Luiz. Eu e o Rui Costa tivemos de escolher dois jogadores e na altura disse-lhe: ‘quero este, vou fazer dele um grande médio-defensivo’. O Enzo Perez no meio-campo foi uma emergência, com a saída do Witsel precisámos de alguém para o meio. Apesar de jogar nas alas, ele conhecia os momentos do jogo, não era um extremo, era um organizador. Achei que se o puxasse para dentro, podia fazer dele um 8 ou um 10. Ele acreditou e hoje está convicto que aquela é a sua posição”, explicou.
Sobre os dois mais recentes reforços, Paweł Dawidowicz e Kevin Friesenbichler, Jorge Jesus considera que deve haver no Clube um misto entre scouting e Formação: “O Benfica não pode pensar que vai ter só jogadores formados em casa. Nenhuma equipa do Mundo o consegue. A prospecção tem de estar ligada à Formação e o Benfica tem-no feito bem ao longo dos anos.”
Nesta entrevista à Benfica TV, o técnico aborda também a forma ímpar como o Benfica tem sido o único dos três grandes a potenciar jogadores provenientes da equipa B: “A equipa B tem dois anos. Dos jogadores que lá estavam, André Almeida, André Gomes e este ano o Ivan Cavaleiro, já foram chamados à equipa principal. André Gomes, neste momento, já é um activo de outro clube e compensou o trabalho investido nele. Muitas vezes dizem que o Benfica não tem muitos jogadores portugueses na equipa principal ou nos titulares. Eu pergunto: ‘Dos três grandes, qual é a equipa em que saíram jogadores da equipa B para a A?’”, esclareceu.
Para a história ficará certamente o momento em que o capitão Luisão foi buscar ao túnel o técnico Jorge Jesus e o presidente Luís Filipe Vieira. As imagens da comemoração do 33.º Campeonato Nacional ficarão para sempre perpetuadas na memória de todos os benfiquistas como símbolo da simbiose entre esta tríade vencedora: plantel, equipa técnica e direcção.
O técnico “encarnado” vê Luís Filipe Vieira como o responsável máximo pelo sucesso do Benfica e demonstra toda a sua gratidão para com o Presidente: “Para além do respeito que tenho pelo presidente desta grande instituição que é o Benfica, existe uma enorme proximidade entre nós. Temos uma confiança muito grande um no outro, falamos a mesma linguagem. Se eu hoje sou treinador do Benfica devo a Luís Filipe Vieira. Foi o Presidente que acreditou na minha entrada desde o primeiro dia e foi ele que no ano passado acreditou que eu ainda tinha valor para continuar a fazer o meu trabalho. Depois dessa oportunidade, a única forma de manifestar a minha gratidão era continuar no Benfica. Luís Filipe Vieira é o grande “obreiro”, ele e toda a estrutura do futebol. O slogan ao longo do ano foi: todos juntos! Este ano ficámos a perceber que não podia existir um clube dentro do clube, tínhamos de estar todos juntos, nas vitórias e nas derrotas, a defender o nome do Benfica.”
Técnico em entrevista à Benfica TV
Jorge Jesus: “Quero ganhar a Supertaça e ser Bicampeão”
Na primeira pessoa, o treinador Jorge Jesus mostrou que tem objectivos bem definidos e ainda muito para ganhar ao serviço do Sport Lisboa e Benfica.
“Acredito nas minhas capacidades, sempre percebi que era muito melhor treinador do que o que era como jogador. Para ser treinador é preciso ter alguma queda, como se costuma dizer. O treinador desenvolve-se mas tem de nascer para isso. Há muito ainda para ganhar no Benfica. Quero ganhar a Supertaça e ser Bicampeão, há cerca 30 anos que não conseguimos vencer dois campeonatos seguidos”, lembrou.
E acrescentou: “O meu ideal é aquilo que tenho vindo a desenvolver no Benfica. A prioridade é perceber o clube onde estamos porque no Benfica ganhar só não chega, também é preciso jogar bem. Ou se tem capacidade para isso ou não. Não se aprende nos livros, daí fazer a analogia entre o pintor e o treinador. Os meus jogadores dão as pinceladas na tela, mas a ideia daquelas pinceladas foi minha.”
Para o futuro, o técnico revela os objectivos: “Ainda tenho muita coisa para ganhar. Cheguei a um Clube que me projectou para o futebol mundial. Têm de me julgar enquanto treinador, não pelo português, sou Eça de Queiroz.”
S.L. BENFICA