O presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, enalteceu os sócios como «donos do clube» e assegurou que jogadores como Bernardo Silva, emprestado ao Mónaco, adversário dos campeões nacionais, na noite desta quarta-feira, para a Champions, «são seguidos de perto» pelo emblema.
O jogo no Principado despertou o inusitado interesse da imprensa gaulesa pelo ‘Glorioso’, como o jornalista David Leonor refere na extensa entrevista realizada ao presidente do Benfica, hoje publicada no diário generalista francês ‘Le Figaro’.
Na entrevista concedida à publicação, e que abaixo, e com a devida vénia, A BOLA reproduz na íntegra, Luís Filipe Vieira congratula-se pelo quadruplicar das receitas das transmissões televisivas com a Benfica TV.
- Com explicar que o Benfica tenha 235 mil sócios pagantes, mais do que o Bayern de Munique ou o Barcelona?
- Certas coisas não têm explicação. Mas o facto é que o clube é dos sócios, e assim será, pelo menos enquanto for presidente. O clube está muito próximo das pessoas. Há, também, toda a sua riquíssima história e a identificação do clube como País e não somente como representante de uma região. O Benfica é uma marca portuguesa. É o clube de referência das grandes vagas da emigração dos anos 50 e 60. Depois, propomos vantagens económicas aos nossos sócios, juntamente com os nossos parceiros [com quotas entre os 36 e os 100 euros anuais].
- As parcerias comerciais várias, em benefício dos sócios, foi sempre uma prioridade da direção que lidera, desde 2001. Porquê?
- Queríamos relançar uma base de associados que estava adormecida desde a grave crise económica que o clube atravessou nos anos 90. Foi uma das batalhas que travámos desde que cheguei à presidência do clube, em 2001. E foi-o com produtos como, em particular, o ‘Kit Sócio’, uma inovação mundial lançada no mercado pelo Benfica, no meu primeiro mandato à frente dos destinos do clube, por exemplo. Hoje em dia, os nossos sócios beneficiam de numerosas vantagens comerciais com os nossos parceiros, que equivalem ao que despendem no valor das quotas. Uma iniciativa nossa, seguida, depois, por numerosos outros clubes europeus, e que também os brasileiros procuram agora implementar e desenvolver.
-Como explicar a imensa paixão dos adeptos benfiquistas no estrangeiro, e em particular em França, um bastião forte do clube?
- O Benfica é uma das marcas portuguesas mais reconhecidas no estrangeiro. Quando se fala de Portugal, seja no Canadá, em Angola, na China ou em França, pensamos no Benfica. Isto está relacionado, em parte, com a forte comunidade portuguesa dispersa pelos quatro cantos do Mundo, mas igualmente deve-se à nossa história, ao percurso do clube, a Eusébio, ao ‘ADN’ do clube. É por isso que temos a sensação de jogar sempre em nossa casa sempre, seja em França ou nos Estados Unidos da América,
- A direção comparticipa as deslocações de grupos de adeptos, particularmente a jogos no estrangeiro?
- Não, não ajudamos os grupos de adeptos. As nossas contrapartidas passam por ofertas comerciais favoráveis e muito desenvolvidas aos grupos de adeptos. Eles encorajam e apoiam todas as nossas equipas, no futebol, hóquei em patins, andebol, basquetebol. Essa é a riqueza do Benfica, o seu eclestismo e transversalidade social.
-O desenvolvimento das Casas, as associações de adeptos ligadas ao Benfica, fazem parte de um plano específico da direção para seduzir e fidelizar o máximo de simpatizantes?
- Sempre considerámos as Casas como um veículo para o crescimento e expansão do clube. Em Portugal e no estrangeiro. São os nossos embaixadores, fazem a promoção da marca e dos valores do clube.
- Lançaram o vosso próprio canal televisivo em 2008, e transmitem em direto e em exclusivo os jogos do clube na Liga desde 2013. Qual o objetivo da Benfica TV?
- É um caso único no Mundo. Não vão encontrar alguma outra televisão de um clube que faça a gestão dos seus próprios direitos de transmissão televisivos. Era uma etapa obrigatória para nós. Faltava crescer e consolidar-se. Isso passava por uma melhoria da valorização dos nossos direitos televisivos. Até ao ano passado, as receitas da televisão representavam sete por cento das nossas receitas anuais, enquanto que para os 20 clubes mais ricos, citados no estudo ‘Football Money League’, da Deloitte, representam, em média, 40 a 60 por cento das receitas. Num só ano de exploração dos seus próprios direitos de transmissão televisiva, a Benfica TV multiplicou as receitas por quatro.
- Acompanhou o início de temporada do Mónaco, vosso adversário na Champions esta quarta-feira? E em particular as prestações de Bernardo Silva, jogador emprestado pelo Benfica?
- Seguimos e acompanhamos de perto todos os jogadores que emprestamos. Com a ambição de os ver evoluir e, um dia, regressarem a casa. É o caso de Bernardo Silva.
-No ‘ranking’ da UEFA, Portugal aumentou a sua vantagem sobre a França. Que têm a mais os clubes portugueses, qual o segredo?
- Contrariamente ao que se pensa no resto da Europa, A Liga portuguesa é extremamente competitiva. Os nossos prospetores têm descoberto jogadores jovens a preços acessíveis. Nós formamo-los e aproveitamo-nos, desportivamente, do talento deles durante alguns anos, antes de os revendermos a preços altos. É a fórmula do nosso campeonato. Encontramos antigos jogadores do Benfica no Real Madrid [Fábio Coentrão], no Chelsea [Ramires], no Paris Saint-Germain [David Luiz], no Zenit [Witsel, Garay, Javi Garcia] e no Manchester United [Dí Maria], só para citar alguns casos. O que diz muito da nossa capacidade de descobrir e formar grandes jogadores.
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