Benfica
Félix Bermudes: Um Benfiquista Inaudito
FALECEU HÁ 56 ANOS, EM 5 DE JANEIRO DE 1960, UMA DAS FIGURAS CIMEIRAS DO BENFICA E DO BENFIQUISMO. ATÉ DE PORTUGAL. INJUSTAMENTE ESQUECIDO.
Aliou à dedicação para com o Clube a persistência, versatilidade e capacidade visionária de perceber em cada momento o que nos poderia trazer o futuro. Uma vida preenchida a todos os níveis: Benfiquismo, profissão (dramaturgo), cidadania (teosofismo e direitos autorais) e familiar (três filhos com destaque na sociedade portuguesa).
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Extremo-direito, capitão da equipa, no campeonato da 2.ª categoria em 1906/07 que para responder à debandada de Maio de 1907 para o Sporting CP inscreveu-se no campeonato da 1.ª categoria para que sobrevivesse o "Glorioso" de 1904 que derrotara em 10 de Fevereiro de 1907 os ingleses do Cabo Submarino |
Apesar de passar hoje esta efeméride
Félix Bermudes merece muito mais que um pequeno texto a dizer mais do mesmo o que não quer dizer que o que hei-de escrever em breve acerca dele acrescente mais do que se sabe. O que me interessa é ficar com a consciência que lhe farei a justiça que penso que merece ter. Que honrei um ás que nos honrou o passado. E para isso o texto de hoje seria longo de mais. Tal como ele fez quase uma centena de vezes nas peças de teatro que criou dividirei esta homenagem em três actos a publicar na semana em que se jogarão os quartos-de-final da Taça de Portugal, entre 12 e 14 de Janeiro. Entretanto deixo uma resenha de cada um desses três actos.
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Equipa em 1908/09. Com vida profissional e familiar ocupada, sem condições de treino e veterano (nasceu em 4 de Julho de 1874), ou seja, em 1908 tinha 34 anos! Mas continuava entre os seus, junto deles mesmo não equipado |
Acto 1: Entre 1904 a 1916
Treze anos de pioneirismo. Não foi um dos 24 fundadores mas foi dos aderentes da primeira hora. Esteve na definição do emblema, com destaque para o lema «E Pluribus Unum», iniciou-se na 2.ª categoria, foi nomeado (em assembleia geral do Clube) capitão – numa equipa que contava com Cosme Damião – resistiu (e pagou do seu bolso) para que o clube não sucumbisse aquando da deserção de oito futebolistas (e mais de vinte associados) para o Sporting CP. Soube (com Cosme Damião) aperceber-se que o “Gloriosíssimo" só teria sucesso se conseguisse um campo de jogos e um bom conjunto de dirigentes (superestrutura) que potencializassem futebolistas foras-de-série mas a debaterem-se com o problema das infraestruturas. Com os parcos dinheiros ganhos no teatro onde debutava foi precioso nos primeiros tempos do Clube. Quando foi perdendo a forma (por veterania e falta de treino) quis jogar nas categorias inferiores para ensinar Benfiquismo aos debutantes. Adepto fervoroso nunca perdeu de vista os interesses do Clube disponibilizando-se para ser um presidente de Direcção a prazo para dotar, em 1916, o Clube de instalações condignas face ao crescimento do Benfica.
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Presidente da Direcção eleito para mandatos anuais em 1916 (sabendo-se que seria muito mais reduzido), 1930 (não tomou posse por ser dos dirigentes menos votados), 1945 e em 1946 (foi derrotado). Uma figura de excelência |
Acto 2. Entre 1917 e 1945
Para além de 28 anos de “Glorioso”. Dedicado ao teatro que abraçou como modo de vida, fazendo parte do grupo dramaturgo melhor sucedido, nos anos 10 e 20, em Portugal “A Parceria” (com Ernesto Rodrigues e João Bastos) fez do teatro uma actividade popular conseguindo ter várias peças em exibição em simultâneo. Foi percursor do Parque Mayer devido à necessidade de ter mais salas de teatro em Lisboa para responder à procura do público e dos novos dramaturgos. Nunca deixou o Benfica de fora. Ao aproximarem-se as “Bodas de Prata” (1929) aproveitou os seus conhecimentos no meio intelectual e artístico para estimular alguns dos seus colaboradores nas peças teatrais, de músicos a cenógrafos, para criar o Hino do Clube (com o maestro Alves Coelho) e Reformular/Modernizar o Emblema do Clube (com o artista gráfico Stuart Carvalhais). Em 1945 foi eleito presidente da Direcção mas não conseguiu cativar os associados para ser reconduzido, em 1946, por ter sido seduzido por uma localização do futuro estádio que substituiria o Campo Grande que agradaria às entidades camarárias mas não aos Benfiquistas. Desportista ecléctico fez um pouco de tudo (atletismo, ciclismo, esgrima, hipismo, ténis, ténis de mesa, tiro com arco e com arma de fogo), especialidade em que foi atleta olímpico, nos Jogos de Paris em 1924. Também incutiu às suas filhas – Clara e Cesina – o gosto pelo desporto e pelo Benfica.
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As filhas de Félix Bermudes, Clara (1912) e Cesina (1908) na partida da Volta Ciclista a Lisboa em 12 de Outubro de 1924 |
Acto 3. Entre 1946 e 1960
Última década e meia. Passou os últimos anos a escrever – poesia, contos, ensaios filosóficos e novelas de viagens – sempre com o espírito de um desportista íntegro batendo-se pelos direitos de autor para o trabalho intelectual. Por isso foi um dos principais, talvez mesmo o principal, impulsionador da actual Sociedade Portuguesa de Autores. Aproveitando os anos dourados do cinema português colaborou com os realizadores para adaptar, pelo menos, duas das suas peças, uma delas ainda hoje um marco do cinema feito em Portugal “O Leão da Estrela” – peça de teatro numa comédia em três actos estreada em 1925 (em 11 de Julho) no teatro Politeama, para ser adaptado ao cinema, em 1947, por Arthur Duarte.
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Homem do Benfica, desporto, cidadania e criatividade. Um ser de eleição como demonstrou na tradução de "If..." como se pode "ouver aqui". Criativo sensível e com sentido, eis um exemplo. "O Leão da Estrela" de 1925 para 1947, do teatro para o cinema. Félix Bermudes quando faleceu aos 85 anos, em 5 de Janeiro de 1960, há precisamente 56 anos, pouco tempo antes de comemorar os 85 anos, dizia ir fazer 58! Afirmava ser o octogenário mais jovem que existia à face da Terra! |
Até para a semana dos 3 actos!
Alberto Miguéns
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