Governo apoia o golfe e os supermorcões agradecem
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Governo apoia o golfe e os supermorcões agradecem


"A semana foi de luta nas ruas e o Governo respondeu com a medida social de grande alcance: a redução do IVA para o golfe! A malta toda que anda a recibo green agradece, atenta, veneranda e obrigada.
Atenção que não é brincadeira. De acordo com o Jornal Económico, o Orçamento Geral do Estado contemplará os praticantes da modalidade com a redução de impostos 23% para 6% no aluguer de greens e na compra de todo o material desportivo próprio da popular modalidade. Bolas, por exemplo.
Trata-se, sem dúvida de uma grande notícia, para os supermorcões.
Estão a ver qual é o clube do regime?
HOJE é dia de Liga Europa para o Benfica, o FC Porto e o Sporting de Braga. O sucesso na eliminatória corrente não é, à partida, missão impossível para nenhum dos emblemas portuguesas. E se tudo continuar a correr bem a todos abre-se a perspectiva de encontros entre emblemas compatriotas numa fase mais adiantada da competição.
Seria interessante de ver. E não pela questão primária de vermos árbitros estrangeiros a apitar jogos entre equipas portuguesas. Lá como cá, também há Bussacas e afins.
Seria mais pela questão de vermos se em jogos organizados pela UEFA e sob alçada disciplinar de estrangeiros, haveria nos campos portugueses alguns valentes que se atravessem a bombardear os relvados com objectos comprados com o IVA a 6%.
Certamente que não. Uma coisa é saber-se que em jogos organizados pela liga nacional jamais os hooligans serão identificados, tratados e punidos como hooligans. Outra coisa é saber-se que, sob a alçada da UEFA, aquele permanente e adorado estatuto de impunidade que por cá vinga, arrisca-se a não vingar por lá.
No fundo, é sempre a questão da impunidade.
O candidato Bruno Carvalho tem uma grande vantagem em relação à concorrência. É que ninguém o conhece de lado nenhum. Melhor dizendo, ninguém o conhecia de lado nenhum e, por isso mesmo, é inimputável no que respeita a todas as acusações que emergem quando a velha guarda desfia o rosário de penas dos últimos longos anos em Alvalade.
Nos últimos 30 anos, o Sporting apenas venceu por duas vezes o campeonato - em 1999/2000 e 2001/2002 - e é, sem dúvida, muito tempo de míngua a dividir por muitas responsabilidades sem míngua de espécie alguma. Compreende-se assim a vantagem que o candidato Bruno Carvalho leva sobre os demais. Há 30 anos, tinha apenas 9 anos de idade e não foi tido nem achado neste percurso infeliz do seu clube.
Apresenta-se agora como candidato a presidente e apresenta também a seu lado capitalistas russos que fazem estremecer de preocupação a Banca nacional e os capitalistas das famílias tradicionais afectas ao Sporting.
Ao contrário do seu vice-presidente indigitado, Augusto Inácio, nesta luta eleitoral, Carvalho tem-se mantido equidistante em relação ao Benfica e ao FC Porto. Aparentemente trata os dois adversários por igual, não prefere nenhum. Parece ter outro tipo de preocupações.
Já Augusto Inácio, apesar de pertencer à candidatura dos jovens turcos, apresenta-se com discurso e efabulações retóricas de menor densidade intelectual e empresarial. Diz o ex-treinador que, com ele no Sporting, «nenhum jogador usará botas vermelhas e, se possível, usarão todos botas verdes».
Se não for possível, pronto, usarão botas azuis. E logo poderemos apostar se são esses, de botas azuis, os jogadores do Sporting que, à semelhança de Quaresma, Varela e Moutinho, prosseguirão uma carreira mais auspiciosa no FC Porto. Enquanto isso, à cantora Rita Redshoes, que é da casa, Augusto Inácio irá conceder um prazo de 24 horas para mudar o nome artístico para Rita Greenshoes. Se não for possível, muda para Blueshoes, que já é possível.
Bruno Carvalho não tem alinhado neste dilates. Tem sido bastante modesto sobre a sua qualidade mais apetecível para certos sectores sportinguistas e que poderia ser agitado como a bandeira eleitoral de grande e promissor impacto: é que, tal como Pinto da Costa, Bruno Carvalho vai chegar ao futebol vindo directamente do hóquei em patins. E com um estatuto uns degraus acima.
Se o presidente do FC Porto era apenas um modesto seccionista da modalidade antes de ser eleito, Bruno Carvalho não é nem mais nem menos do que o actual vice-presidente da secção de hóquei em patins do Sporting. E, ao que se sabe, nunca se terá preocupado grande coisa com a cor das rodinhas.
A campanha eleitoral no Sporting está boa. E sendo tantos os candidatos é difícil que não ocorram alguns lapsos de linguagem que podem, ou não, penalizar os seus autores nas urnas no dia 26 de Março. Também é verdade que esse lapsos têm interpretações diferentes e até opostas em função da sensibilidade de quem os interpreta.
Por exemplo, quando o candidato Abrantes Mendes disse que «o Sporting é um clube de totós» poderá ter ferido gravemente o orgulho dos seus consócios e correligionários, mas no campo dos seus adversários a mesma frase não provocou mais do que um encolher de ombros e um «olha, fugiu-lhe a boca para a verdade».
Outro exemplo, quando o candidato Pedro Baltazar disse que tinha «muito orgulho naqueles que continuam a ser benfiquistas» poderá ter hipotecado definitivamente as suas hipóteses de vir a ser eleito presidente do Sporting, mas no Estádio da Luz apenas provocou um constatar sereno dos danos que o Benfica provoca em subconscientes alheios.
UM vice-presidente do Benfica foi fisicamente molestado à saída de um restaurante no Porto e o presidente do FC Porto não demorou nada a falar sobre os «palhaços que simulam agressões». É verdade, sim, que já não há tenda de circo que albergue o incontável número de palhaços que, nas últimas décadas, se queixaram do mesmo. É uma lista deveras impressionante. E se os agressores ficaram impunes é porque as agressões nunca aconteceram, não é? É este o Regime.
O presidente da Câmara Municipal de Paredes assistiu à cena e veio dizer que não se admira que «os políticos de Lisboa se recusam a avançar para a regionalização» porque têm medo que «o país fique entregue a gente desta».
Mas como o presidente da Câmara de Paredes é do Benfica as suas palavras são as de um palhaço que simula assistir a simulações de agressões a palhaços. è assim que o regime analisa a situação.
O episódio com Rui Gomes da Silva não podia ficar assim. E agora, em resposta, temos palhaços que ligam para a Associação de Futebol do Porto e para o Paços de Ferreira - que é o próximo adversário do Benfica na Liga portuguesa - a ameaçar com bombas as referidas instituições.
Estes são palhaços de cariz diferente. Mas não deixam de ser palhaços. E lá que simulam, simulam... mas muito mal."

Leonor Pinhão, in A Bola



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