A treinadora portuguesa Helena Costa explicou esta terça-feira os motivos pelos quais deixou o Clermont-Foot, alegando divergências no que concerne a jogos de preparação e transferências.
No comunicado emitido, que segue abaixo, Helena Costa tece críticas à atuação do diretor desportivo do clube:
«Venho por este meio comunicar que a minha saída do Clermont-Foot se deve a um conjunto de acontecimentos que qualquer treinador não admitiria, uma vez que revelaram total falta de respeito, bem como total amadorismo.
A saída deve-se principalmente ao facto do Director Desportivo contratar jogadores sem o meu acordo, para uma equipa que eu teria de liderar, e ser responsável, não me dando qualquer conhecimento, e havendo hipóteses financeiramente viáveis para outras contratações. Fui informada através da secretária do Clube, por uma lista de testes médicos.
Como qualquer qualquer líder de uma organização, neste caso um treinador, responsável por uma equipa, é inaceitável.
Considero inadmissível a uma estrutura do futebol profissional, que o/a treinador(a) tome conhecimento da contratação de jogadores novos pela secretária do Clube , através de uma listagem de jogadores que realizariam os testes médicos no primeiro dia de actividades. Mais amador se torna, quando o Director Desportivo, não respondeu aos e-mails, ou enviou qualquer mensagem durante cinco dias da semana anterior ao inicio dos trabalhos, quando todos os dias foi por mim questionado através de e-mail. A informação que obtive pela secretária foi enviada 24 horas antes da informação enviada pelo Director Desportivo (o qual se encontrava de férias).
Após tal facto, por e-mail, informei o Sr Director Desportivo que já teria tido conhecimento das referidas contratações, através da secretária do clube, tendo ainda reafirmado o meu desacordo perante algumas delas. Solicitei os dados em falta, tendo o mesmo respondido, entre outras coisas, por exemplo: "Tu me fatigues avec ton mails, (...) "je ne suis pas ton executant", (...) je ne suis pas a ta disposition". Sempre foi afirmado pelo Sr Presidente que todos os assuntos relativos à equipa seriam exclusivamente tratados com o Sr. Olivier Chavagnon, Director Desportivo.
Considerei igualmente grave o facto de ter sido informada pela última vez acerca dos jogos amigáveis prováveis, ainda sujeitos a confirmação, no dia 5/06/2014 por e-mail. Uma vez que estavam sujeitos a confirmação, apesar de ter sido constantemente por mim questionado sobre os mesmos, o referido Director Desportivo nunca respondeu, inclusivamente até ao dia do início dos trabalhos (ontem, dia 23/06/2014).
Era suposto existir um jogo amigável no dia 28/06/2014, pelo que como é compreensível a ausência destes factos interferiu directamente com a planificação do trabalho a realizar, o qual é da minha inteira responsabilidade e competência. Foi, por essa razão, comprometido.
Para além de anular uma reunião com o staff técnico marcada para sábado, dia 21/06/2014, por falta de informações, no Domingo dia 22/06/2014 não estava igualmente no poder das necessárias informações, para planear (embora já tardiamente) toda a semana de trabalho e comunicá-la na reunião com o staff técnico que decorreu às 19h.
Confirmo por isso que todo o trabalho foi comprometido, mesmo a apenas umas horas do começo da época desportiva, sendo que a imagem transmitida ao Staff técnico, não correspondeu ao profissionalismo a que sempre me pautei e pautarei.
Perante tantos factos, solicitei ao Presidente, Sr Claude Michy, uma reunião no sábado dia 22/06/2014, no qual não só transmiti o que se passava, as informações que me faltavam, bem como a urgência das mesmas para planificar o trabalho. Revelei ao Sr Claude Michy, que após a forma como o Director desportivo, Sr. Olivier Chavagnon, revelou displicência e falta de profissionalismo, com interferência directa no meu trabalho, bem como teria tornado tudo numa má relação profissional devido à sua rude resposta, não pretendia trabalhar directamente com o mesmo, nem que houvesse envolvência deste no trabalho da equipa, uma vez que não havia confiança. Nesse momento revelei ao Sr Presidente, que poderia até abdicar do meu cargo, se pretendesse que o Director Desportivo continuasse ligado à equipa.
Consciente de tudo o presidente afirmou que interviria no dia seguinte presencialmente, perante o Sr Olivier Chavagnon, antes da reuniao marcada para o dia seguinte, para as 19h, concordando que não só o trabalho não estaria a ser feito, como teria sido apenas enviada uma resposta rude. Por razões que desconheço, durante um dia e meio, o Sr Presidente teve o telemóvel desligado e não me comunicou absolutamente nada relativo à sua decisão, no que diz respeito ao papel futuro do Director Desportivo. Foram várias as tentativas de contacto telefónico, bem como as sms enviadas para que houvesse comunicação.
Ontem, dia 23/06/2014 fui a primeira pessoa a chegar ao clube, às 6h45, na esperança de um diálogo com o Sr. Presidente. O mesmo não me contactou, não tendo comparecido ao pequeno almoço/apresentação que decorreu às 7.30h. Solicitei, por isso, a um funcionário do Clube um telefone alternativo para o contactar, tendo-lhe comunicado nessa altura o meu desagrado pela falta de comunicação aquando de uma situação grave, por não me ter sido comunicado a sua decisão relativamente ao papel do Director Desportivo, bem como pelo facto de no dia anterior ter sido posta em confronto directo junto de todo o staff, com o Director Desportivo, sem que me tivesse comunicado uma decisão.
Não me apresentei aos jogadores, pelo que o presidente convocou uma reunião na qual para além de mim, esteve também presente o Sr Director Desportivo, um Administrador do Clube, e os meus empresários.
Após algum debate, o Sr Director Desportivo reconheceu que errou na forma como falou, como não me informou de factos essenciais ao trabalho técnico e perante uma não definição do presidente referente ao seu papel, informei toda a gente que me queria demitir, decisão que não retrocedi desde então, mesmo que tenha havido mais diálogo.
Sempre disse publicamente, ao longo deste projecto, que era treinadora , exigente comigo e com os que me rodeiam, que queria confiança e frontalidade, acima de quaisquer outras qualidades. Continuo a seguir os meus princípios, defendendo a minha posição e a classe dos treinadores, no que à competência e comprometimento do trabalho diz respeito.
Apenas escrevi este comunicado após ter lido declarações do Sr Presidente (com quem sempre tive as melhores relações), declarações essas que não estão de acordo com o que os meus empresários, eu e supostamente o clube decidimos expôr na conferência de imprensa, para o bem do Clube e do Sr Presidente, que teve coragem de apostar em mim. Acedi a fazê-lo por reconhecimento da sua coragem e desafio que enfrentou, não esperando por isso ler o que li depois. Lamento o volte-face.
Nada foi por isso súbito e inesperado, decorreu sim de uma série de episódios ao longo do tempo. Continuo a sentir a mesma confiança no meu trabalho que sentia quando aceitei enfrentar a posição de treinadora do Clermont Foot. Sinto-me preparada! Reitero ainda que se sentisse medo, continuaria ainda como treinadora do Clermont Foot 63 neste momento.»
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