Jaime Graça: Força Campeão!
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Jaime Graça: Força Campeão!


Sr.Alberto Miguéns, o nosso querido Jaime Graça encontra-se no momento a recuperar de uma cirurgia ao cérebro. Será possível fazer um enorme post sobre ele tal como fez para o Ricardo Gomes? Saudações Benfiquistas!
Há pedidos de Benfiquistas – independentemente do tempo e trabalho envolvido - que não se conseguem recusar.

Texto inédito elaborado entre 3 e 4 de Setembro de 2011, ilustrado com fotografias de Roland Oliveira.


JAIME GRAÇA

Um dos melhores centrocampistas portugueses não só dos anos 60, mas de sempre.

Jaime da Silva Graça nasceu na cidade de Setúbal, em 10 (para a FPF) ou 30 de Janeiro de 1942, em casa de gente humilde, filho de pai operário soldador e mãe costureira modista, tendo um irmão (Emídio) onze anos mais velho.

COMER O “PÃO QUE O DIABO AMASSOU”
Quinze dias mais velho que Eusébio, ainda catraio, aos quatro anos, ficou órfão com a morte prematura do pai, cabendo ao irmão, com 15 anos, contribuir para o sustento da família, numa cidade humilde, operária e naval, de porto atractivo para navios mercantes e barcos de pesca. Logo após terminar a instrução escolar, aos dez anos (1952) empregou-se como aprendiz de electricista na empresa Tropical. Entretanto o seu irmão Emídio Graça, com 21 anos, era já um dos médios mais conceituados do Vitória FC, de Setúbal.
Jaime entregava-se de “corpo e alma” aos jogos de futebol improvisados entre colectividades populares, jogando pelo Estrela do Sado, Beira-Mar de Setúbal, Independente Setubalense ou Nacional Sadino, entre outros. Com 16 anos (1958) tenta a sorte nos treinos do Vitória, mas o irmão internacional português desde 1955, ruma a Espanha, para jogar, em 1958/59, no Sevilha FC. Conhecendo a “Lei de Opção” e as dificuldades dos futebolistas em desvincularem-se dos clubes, aconselha Jaime a não ficar em Setúbal, com este a inscrever-se como futebolista do Palmelense FC, onde se sagra Campeão Distrital de Setúbal, em Juniores. Tinha 17 anos. Entretanto, surge a hipótese de representar o Vitória FC, após os dirigentes sadinos lhe conseguirem um emprego como electricista na Junta Autónoma do Porto de Setúbal.


DA II DIVISÃO AOS “MAGRIÇOS
Com o regresso do irmão Emídio ao Vitória FC, Jaime passa a representar o popular emblema da cidade do Sado, a partir de 1959/60, com o clube a competir na II Divisão Nacional, em 1960/61 e 1961/62, com Emídio a médio-centro e Jaime, onze anos mais novo, a avançado (interior-esquerdo). Em 1961/62, com 20 anos, Jaime Graça é titular da equipa finalista na Taça de Portugal, derrotada, por 0-3, com o “Glorioso”. Na primeira metade da década de 60, afirma-se como um dos melhores futebolistas portugueses, chegando a internacional (e marcando um golo) em 1965. Tinha 23 anos. Seleccionado para a fase final do Mundial de 1966, em Inglaterra, atinge as 12 internacionalizações, mostrando ser um dos futebolistas mais sólidos do meio-campo português. Foi em pleno Mundial que teve a alegria de ser jogador do “Glorioso” a partir de 1966/67.


DE SOLISTA EM SETÚBAL A OPERÁRIO NA LUZ
Jogador de elevado quilate técnico era um desequilibrador no meio-campo. “Vagabundo” por natureza, marcava os centrocampistas adversários quando a equipa defendia e libertava-se aquando das manobras atacantes. Sabia ler o jogo, ocupando os espaços livres para apoiar a linha avançada ou rematar com eficácia para o golo. No Benfica ganhou a dimensão de jogador de equipa que o tornou um dos esteios do meio-campo. “Enchia” o campo dificultando o jogo adversário. Nas tardes e noites de inspiração – e foram muitas – “parecia” que jogávamos com 12 -, tal a sua capacidade táctica em libertar Coluna ou Simões, por exemplo, para acções essencialmente ofensivas. Não era o mais “notado”, mas era o mais eficaz. Discreto, era o dínamo e o compasso da equipa.


TITULAR INDISCUTÍVEL NA MELHOR EQUIPA DA EUROPA
Estreou-se pelo Benfica, em 16 de Agosto de 1966, num jogo frente ao Tottenham HFC, para o Torneio Costa do Sol, em Málaga. Sem dificuldades em integrar a equipa titular do “Glorioso”, pois o treinador Fernando Riera “apenas” reconstruiu no Benfica o sexteto mais ofensivo da Selecção Nacional: Jaime Graça e Coluna, a médios; José Augusto, Eusébio, José Torres e Simões, como avançados. Um meio-campo consistente e criativo, para um ataque arrasador. Num Campeonato Nacional, com 26 jornadas, Jaime Graça jogou 24 jogos, o terceiro jogador – Eusébio e Cavém, foram totalistas - com mais tempo jogado (2160 minutos), num tempo em que não havia substituições.


CLARIVIDENTE EM 1966, NUM ACIDENTE MORTAL
No fatídico dia 5 de Dezembro de 1966, depois da equipa ter jogado na véspera em São João da Madeira (V 3-1) com Jaime Graça a titular, como médio-direito, alguns jogadores, no balneário do Estádio da Luz, foram experimentar o novo tanque aquecido de hidromassagens. Um curto-circuito electrocutou o infortunado Luciano (a recuperar de lesão), com Malta da Silva a ficar em coma e Eusébio a correr também perigo de vida. Jaime Graça que aprendera o ofício de electricista, clarividente e corajoso, correu para o quadro eléctrico, desligando a energia.


FINALISTA EUROPEU EM 1968 (COM GRANDE GOLO)
Após uma campanha de grande classe na Taça dos Campeões Europeus, o Benfica jogou a 5.ª final, em oito temporadas, na principal competição da UEFA. O adversário foi o poderoso Manchester United FC, que em Londes (Wembley) praticamente (em 1968) jogava em casa, apoiado por mais de 70 mil adeptos. Só um Grande Benfica resistiu ao 0-1 (aos 53’) conseguindo a igualdade (aos 79’) por Jaime Graça. Um grande golo que marcou uma carreira digna de enorme futebolista.


CAPITÃO COM TROFÉUS
Titular indiscutível, com grande maturidade, como sub-capitão teve oportunidade de capitanear, por ausência do capitão Simões, a equipa do “Glorioso” na final da Taça de Portugal, em 1971/72, quando vencemos, por 3-2, após prolongamento, com três golos de Eusébio (15 dias mais novo que Jaime Graça), a equipa do Sporting CP.



CAMPEÃO INVICTO EM 1973
Vítima de grave acidente de automóvel, em 1 de Janeiro de 1972, num despiste a mais de 170 km/h, em Coina, entre Setúbal e Lisboa, recuperou a saúde (em três semanas) e a titularidade (em dois meses). Campeão e vencedor da Taça de Portugal, em 1971/72, com dobradinha (tal como em 1968/69), foi um dos campeões invictos (dois empates em 30 jornadas) na época seguinte, 1972/73.


SETE ÉPOCAS A TITULAR
Jogou no Benfica, ao mais alto nível, durante nove temporadas, de 1966/67 a 1974/75, mantendo-se titular durante sete épocas, entre 1966/67 e 1972/73, como médio-direito. Entre 9 de Novembro de 1969 e 26 de Abril de 1970, durante cerca de seis meses, participou em todos os 28 encontros realizados pela nossa equipa. Jogou um total de 26 508 minutos em 327 jogos, com 264 completos, ou seja, 81 por cento! Marcou 35 golos. 



DEIXAR O FUTEBOL BENFIQUISTA AOS 32 ANOS
Fez o último jogo pelo Benfica, em 6 de Novembro de 1974, no nosso anterior Estádio, na recepção ao clube alemão oriental Carl Zeiss Jena FC, para a Taça dos Vencedores das Taças. Aos 32 anos, terminava uma carreira brilhante, um dos melhores futebolistas em toda a história do futebol português. Jogou um total de 327 encontros e marcou 35 golos, com 159 jornadas (20 como capitão) para o Nacional e 19 golos, 32 encontros na Taça de Portugal (cinco a capitão e cinco golos), 28 na Taça dos Clubes Campeões Europeus (quatro a capitão e quatro golos), sete na Taça dos Vencedores das Taças (três a capitão e um golo), seis na Taça de Honra de Lisboa (dois a capitão e um golo), três jogos na Taça UEFA, mais 74 encontros internacionais em torneios e particulares, com 17 a capitão e quatro golos e 18 jogos nacionais particulares e em torneios (três a capitão e um golo). Um grande jogador.


INTERNACIONAL PORTUGUÊS
Estreou-se na Selecção Nacional, aos 23 anos, em 24 de Janeiro de 1965, no III Portugal-Turquia, de apuramento para o Mundial de 1966, marcando o 3-1 aos 47 minutos após livre marcado por Simões. Uma estreia coroada com um golo. Como jogador do Vitória setubalense atingiu as 12 internacionalizações, marcando um golo, incluindo a conquista do 3.º lugar na fase final do Mundial realizado em Inglaterra. Pelo Benfica, obteve mais 24 internacionalizações, marcando mais três golos. Atingiu 36 internacionalizações e quatro golos, por Portugal.

DEZ TÍTULOS NACIONAIS
Pelo Benfica conquistou dez títulos oficiais: sete em Campeonatos Nacionais, com dois tricampeonatos (66/67 a 69/69 e 70/71 a 72/73) e o título de 1974/75; e três Taças de Portugal em 1968/69, 1969/70 e 1971/72, jogando nas respectivas finais. Pelo Vitória FC, de Setúbal, conquistou o troféu em 1964/65, capitaneando a equipa sadina. Nos 327 jogos em que representou a nossa equipa principal ajudou o Clube a obter 215 (66 por cento) vitórias e 62 empates. Entre os futebolistas do Benfica é o 40.º jogador com mais tempo de jogo e o 4.º médio-direito com mais minutos jogados. É o 30.º jogador com mais minutos (3365) a capitanear a nossa equipa, em 54 jogos, 33 como capitão titular e 21 como 2.º capitão. Dos “não capitães de época” é o que tem mais tempo a capitanear a nossa equipa de futebol.

COMEÇAR A TREINAR NOS AÇORES
Após deixar de jogar no Benfica, regressou ao Vitória FC, durante duas temporadas (1975/76 e 1976/77) rumando aos Açores, onde como jogador-treinador iniciou uma carreira de técnico, ao serviço do CF “Os Oliveirenses”, na Ilha de São Miguel. Em 1986 foi um dos adjuntos do “nosso” José Torres na orientação da Selecção Nacional durante o Mundial do México, vinte anos depois dos “Magriços”. No final dos anos 80 treinou, nas Caldas da Rainha, o Caldas SC.

REGRESSO AO “SEU” BENFICA
Finalmente, após década e meia afastado do Clube, regressou ao “Glorioso” para integrar o conjunto de técnicos do futebol juvenil. Aos 69 anos, passa por momentos difíceis com uma recente operação.

Jaime Graça é uma glória eterna do Benfica e do futebol português. Um futebolista que no “Glorioso” colocou, sempre, a equipa acima dos interesses individuais. Um jogador de (e para a) equipa, um funcionário competente do Clube.

Jaime Graça! Vais driblar mais este “adversário” (o mais difícil de todos), não vais!?

QUADRO RESUMO

Ordem de tempo de utilização               40.º            

Minutos jogados                                26 508’

Jogos totais                                            327

Jogos completos                                      264

Jogos substituído                                      29

Jogos como suplente utilizado                  34

Jogos a titular                                        293            

Jogos a Médio-direito                             219

Jogos a Médio-centro                               33

Jogos a Extremo-direito                            27

Jogos a Médio-Esquerdo                          12

Jogos a Avançado-centro                           2

Golos marcados                                       35

Jogos como capitão                                   54

Jogos consecutivos a titular               28 J  2 373’ 1969/70 (seis meses)     

Épocas no Benfica (titular)                7 (Médio-direito, 1966/67 a 1972/73)         

Títulos oficiais (13)                            7 Campeonatos Nacionais (FPF)

                                                           3 Taças de Portugal (FPF)

                                                           3 Taças de Honra de Lisboa (AFL)

Internacional                                    36/4 golos (24/3 golos, como jogador do Benfica)              

Clubes anteriores (sénior)                   6 Vitória FC Setúbal (1960/61 a 1965/66)

Épocas no Benfica                              9 (1966/67 a 1974/75)           

Clubes seguintes                                 2  Vitória FC Setúbal (1975/76 e 1976/77)



Alberto Miguéns





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