Benfica
Nos 112 anos do SLB... ou como ganhar um jogo a 3 'filósofos' com a ajuda da... filosofia
"Não podemos ter dúvidas de que o caminho escolhido é melhor. Nessa perspectiva, não podemos voltar a recear quem nos é inferior. Deste lado, ninguém tem medo de ninguém.
Semana de aniversário, semana para ganhar
1. No passado dia 28 de Fevereiro, o Sport Lisboa e Benfica completou 112 anos. São 112 anos feitos de verdade, sem falsificações, sem inventar datas de nascimento que nunca tinham sido referidas, durante décadas, até ao momento em que alguém se lembrou dessa antiguidade para legitimar outros discursos de falta de seriedade.
Porque, nisto como noutras coisas, quem vive na mentira, até a data de nascimento e a idade é capaz de falsificar.
Mas voltemos ao Benfica e ao momento em que Cosme Damião decidiu, com outros jovens, há 112 anos, lançar as bases de onde sairia o... maior de Portugal.
Desta, como de algumas outras vezes, o ato transcendeu a intenção.
Nesse mesmo momento fundacional, mas depois, durante todos estes anos.
Porque, desde então, houve sempre alguém que percebeu que o Benfica é muito maior que a soma de todos nós.
Os mesmos que desde há mais de um século, dia após dia, desafio após desafio, sonho após sonho, perceberam que cada um destes 112 anos só teriam consequência se fossem, realmente, feitos de glória e de uma fé inquebrantável na vitória, com tremendo orgulho, mas, também, com a humildade suficiente para continuar a querer ganhar, sempre.
Ontem como hoje, hoje como amanhã, amanhã como sábado!
Semana de ganhar, semana para convencer
2. Temos, pois, uma semana pós-aniversário para vencer e convencer. Um dia, quando o professor Manuel Sérgio ainda andava pelo Benfica e gozava da fama de influenciar, intelectualmente, quem nunca o poderia ser, por impossibilidade objectiva (ninguém foge ao seu próprio destino... por mais que se esforce), ouvi esse alguém invocar o filósofo marxista Ernst Bloch, para afirmar, aos 4 ventos... «o que é, já não pode ser». Nada mais verdadeiro, por muito que isso lhe custe: já não sendo, nunca o poderá voltar a ser.
E, não querendo regressos ao passado - de que recordamos o que conseguimos, mas começamos a perceber as condições que demos para que isso fosse atingido -, não podemos ter dúvidas de que o caminho escolhido é diferente e melhor. Nessa perspectiva, não podemos voltar a recear quem nos é inferior. Não dando razão a quem invoca a possibilidade de a nossa mente atrair o que mais tememos! Deste lado, ninguém tem medo de ninguém.
E se «não há nada no mais profundo de nós que não tenha sido lá posto por nós» (Richard Rorty), então teremos de ser nós próprios a descobrir o caminho para acabar de vez com alguns medos, para que prevaleça a coragem e a vontade de vencer os outros. E se, como diz, John Locke «o conhecimento do homem não pode ir além da sua experiência», então teremos, do outro lado, alguém cuja única experiência de vitória só a teve connosco. Por mais que isso lhe custe ouvir. Sabemos que são poucos os que ganham, porque são muito poucos os que se veem como vencedores. No sábado, saberemos ser os herdeiros dos que, em 1904, na Farmácia Franco, sonharam um Benfica... à Benfica!
Desde então, como diria Aristóteles, «somos o que repetidamente fazemos; a excelência não é, por isso, um ato, mas um hábito».
Sem qualquer preocupação com os outros, muito especialmente com os que emitem opiniões sempre tendenciosas (apesar de as catalogarem como livres). Porque sabemos e não nos devemos preocupar que, para esses, há erros de árbitros desculpáveis e outros perversos! Porque, para esses, há intervenções agressivas e outras desculpáveis face à situação em que encontraram o clube! Porque, para esses, temos - nós Benfica - de conviver, com superioridade, com esta guerra declarada feita de uma vontade inconsciente de vingança, só porque eles são bem mais pequenos! Porque, para esses, os outros não se conseguem libertar nem afirmar a não ser pela criação de conflitos! E tendo pena deles, não os criticam por ser mais fácil e por não representar qualquer perigo... criticar-nos, a nós!
Semana de convencer, semana para acreditar
3. Vamos, por isso, acreditar! Disputar o jogo de sábado sem medo e sem medos. Fazendo nossa a afirmação de Séneca de que nos «atormentamos, de mais, ou antes do tempo, ou sem motivo». Desta vez, não vamos ter motivo.
Continuando a dizer livremente o que pensamos, contra um sistema totalmente crispado e quase totalmente bloqueado. Acreditando que somos melhores, porque temos caráter, porque somos conscientes da força que temos e do que representamos, sem nos colocarmos em bicos de pés, para parecermos maiores do que somos. Recusando alinhar no chamamento à loucura dos outros, numa obstinação que só conduziria a uma ditadura. Porque, querendo muito ganhar, não fazemos da derrota dos outros a nossa preocupação!
Tal como Edmund Burke, também diremos, ainda mais esta semana, que «a tolerância, quando passa dos limites, deixa de ser virtude». Tolerantes com a opinião dos outros, com as paixões dos outros, desde que isso não signifique... falta de respeito por nós e por aquilo que defendemos. Sob pena de passarmos a não sermos dignos de nós mesmos.
Semana de acreditar, semana para liderar
4. Por isso, estou convencido que, se acreditarmos, se formos iguais a nos próprios, se entrarmos em campo como Benfica e à Benfica, sem fazermos «julgamentos errados com base nas aparências» (Pascal), vamos ganhar!
Claro que quero ganhar.
Claro que espero ganhar.
Como Emmanuel Kant, também entendo que «só está superado o que foi substituído» . Por isso superamos já o que substituímos. De forma competente, séria, profissional e sem espectáculo. O que outros - diga-se ainda não conseguiram, porque não conseguiram retirar do subconsciente o clube de onde saíram!
E se nesta cruzada, para responder a um trio de filósofos (mais os sobrinhos, afilhados e enteados que se vão esforçar por serem notados até sábado) houver lugar para invocar o utilitarismo de Jeremy Bentham, então serei coerente comigo e com a minha paixão clubística defendendo «a maior felicidade para o maior número de pessoas»: os sócios, os adeptos e os simpatizantes do Sport Lisboa e Benfica. Haverá razão maior, nesta saga em busca das razões filosóficas para uma vitória, do que esta? Se somos mais e melhores... pois, então, vamos a isto! E, embora saibamos, como diria Harvey Cox, que «a festividade não se pode confundir com frivolidade», estaremos no confronto de sábado, como em todos os outros, com a alegria de sempre, mas, também, com o sentido das dificuldades que temos que ultrapassar e da responsabilidade que saberemos assumir! Sem desconsiderar o desrespeitar quem gosta do nosso adversário.
Apesar de, entre todos, a ninguém lhes assentar melhor a definição do Conde de Lippe, reorganizador do exército português a pedido do Marquês de Pombal, quando rotulava alguém que seria composto por... «o clero [que] finge que reza, a nobreza [que] finge que é nobre e o povo [que] finge que é livre». Mas como cada um tem o que merece... Vamos a isto, Benfica?
PS: Já o disse antes do encontro da primeira volta e volto a repeti-lo, agora. E como se comprovou - pela classificação depois da última jornada - tinha... «toda a razão do mundo»! O resultado do jogo do próximo sábado contará para a história dos dois clubes, mas não contará para a história deste campeonato. Essa será feita com a hierarquização das últimas épocas. Perceberam?"
Rui Gomes da Silva, in A Bola
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