O guardião da memória
Benfica

O guardião da memória


"Apaixonado pelo Benfica, Joaquim Macarrão dedicou grande parte da sua vida a preservar o património histórico e cultural do Clube.

Nascido no seio de uma família de pescadores, o lacobrigense Joaquim José Macarrão (1920-2008) cedo envergou a camisola encarnada, iniciando-se como jogador de futebol na filial local.
Aos 17 anos de idade, rumou a Lisboa em busca de trabalho. Encontrou-o na secretaria da Rua Jardim do Regedor. A 15 de Novembro de 1937, iniciou a sua longa jornada como funcionário do Sport Lisboa e Benfica e, paralelamente, começou a treinar e a jogar futebol.
Enquanto jogador, partilhou o campo com nomes como Gaspar Pinto, Alfredo Valadas e Guilherme Espírito Santo mas foi, sem dúvida, como funcionário que mais brilhou. Ao longo de 65 anos de dedicação - que lhe concederam o título de 'mais antigo funcionário do Clube em exercício no Estádio da Luz' - fez de tudo um pouco. Como costumava dizer: 'Nasci para servir o Benfica e só deixarei de o fazer no dia em que as forças me abandonarem por completo...'.
Em 1975, abraçou a função que o acompanhou até à despedida: Encarregado do Gabinete de Registo de Taças e Troféus. Durante cerca de 30 anos, foi responsável por reunir e registar os troféus conquistados pelas diversas secções. Mas fez mais! Encarava a preservação da história e do acervo do Clube como uma missão. Para além dos registos que efectuava (estatísticas de jogadores, de provas, recortes de imprensa...), de que somos herdeiros, estava sempre disponível para contar a história por trás de cada taça. Gabava-se de saber a história do Clube de fio a pavio: 'Sei a história toda do clube. Até me chamam «o enciclopédia»'. Em tantos anos, foram inúmeros os momentos dessa mesma história que viveu na primeira pessoa. Segundo o próprio, '(...) deu cimento, depositou a sua moedinha no mealheiro gigante na Feira Popular, e participou em muitos leilões (...)' mas destacou como momentos mais marcantes '(...) o dia em que pisou os terrenos (da Luz) para dar a sua enxadada e o da inauguração. «Estava cheio. Era o nosso estádio»'.
Joaquim Macarrão deixou de trabalhar no Benfica aos 82 anos, meses antes da inauguração do novo Estádio. Não chegou a ver concretizado um dos seus maiores sonhos: o Museu.
A constituição da Direcção de Património Cultural e a criação do Museu Benfica - Cosme Damião são, certamente, a melhor homenagem póstuma que o Sport Lisboa e Benfica lhe poderia fazer."

Mafalda Esturrenho, in O Benfica



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