O relvado sintético do Boavista está devidamente certificado e o clube torna-se na primeira equipa a jogar num relvado não natural em jogos da Primeira Liga. O Benfica será o adversário, no próximo domingo, e Jorge Jesus já veio a público lamentar a solução que espera as águias na visita ao Estádio do Bessa. O zz.pt procurou perceber junto do responsável pela empresa que colocou o tapete sintético do Bessa que relvado vão encontrar os campeões nacionais. Que tipo de risco de lesão? Há maior benefício ou nem por isso? E a qualidade do jogo?
Jorge Jesus lamentou o relvado que espera as águias no Bessa.
«Nem percebo como é que há campos sintéticos porque aqui não há muita chuva. Nos países nórdicos é que há neve. É um campo diferente. O ritmo de jogo é diferente. É tudo pior num jogo sintético. No pelado, na relva, num sintético ou em alcatrão, nós temos de nos preparar para lá jogar», frisou em declarações proferidas à Benfica TV.
Luís Botas, responsável pela Global Stadium (empresa que colocou e faz a manutenção do relvado do Estádio do Bessa), conversou com o zz.pt num momento de pausa no Estádio do Bessa, enquanto se vão ultimando detalhes para receber os encarnados.
Jesus queixou-se do relvado do Bessa
«Não vou comentar as declarações do Jorge Jesus. Respeito o pensamento de um treinador como ele. Quem somos nós para colocar em causa a opinião do Jesus? Espero é que no final do encontro com o Boavista ele possa mudar de opinião», começou por dizer ao zz.pt Luís Botas, que diz entender as palavras de Jesus mas espera que no final do jogo o técnico possa pensar de forma diferente.
«Eu acho natural que o Jesus, ou outro treinador, falem que gostam de sentir o cheiro a relva, que é mais agradável. Temos que respeitar. Eu defendo a minha área pois acredito.»
Ao zerozero.pt, Luís Botas garantiu ainda que o relvado estará «ótimo» para o duelo.
«O relvado é ótimo, tem boas condições, é muito melhor que muitos outros em Portugal. É verdade que nesta altura os relvados estão todos em boas condições mas quando chegar o inverno é que ser verá a grande diferença. Desde que existe este relvado no Bessa ando atento aos jogos que são cancelados ou adiados ou interrompidos por causa das condições climatéricas e posso dizer que me recordo de vários. Em Alvalade, um Sporting x Videoton, um duelo do FC Porto em Oliveira de Azeméis. Recordo-me de um jogo do Benfica em Guimarães em que os responsáveis do Benfica se queixaram. Em Portugal chove e chove muito. O relvado do Bessa estará agora igual aos melhores e no inverno estará muito melhor. Talvez só o relvado do Dragão, que é um caso muito específico, e o tapete da Luz, que tem estado muito bem, podem estar melhores durante todo o ano.»
O certificado da FIFA diz que dentro dos parâmetros de ensaios que são feitos ao relvado sintético, ele cumpre na perfeição os limites máximos de qualidadeLuís Botas
O "fantasma" das lesões costuma ser muito associado a este tipo de relvados. Luís Botas prefere não entrar por esse aspeto.
«A bola vai rolar normalmente. Isso não será um problema para equipas como o Benfica. Eu costumo é referir a questão das lesões. Um relvado deste tipo não coloca problemas de lesões. Não podemos culpar o relvado sintético pelas lesões. Nesse caso também teríamos que culpar os relvados naturais pela lesão do Enzo [Pérez] no jogo com o Paços de Ferreira e outras lesões que os jogadores sofrem em tapetes naturais. O relvado sintético está sujeito aos mesmos riscos que os outros.»
Luís Botas, segundo da direita para a esquerda, numa das visitas ao Estádio do Bessa ©Global Stadium
«Isto para ser aprovado tem que passar por uma bateria de testes, coisa que os relvados naturais nem sempre são sujeitos. O certificado da FIFA diz que dentro dos parâmetros de ensaios que são feitos ao relvado sintético, ele cumpre na perfeição os limites máximos de qualidade. Isto tem que ver com a tração, rolamento da bola, etc. Se cumpre todos esses requisitos, não há motivos para falar em lesões ou vantagem para a equipa que joga nele», acrescentou.
Ao zz.pt, Luís Botas explicou ainda que o relvado do Estádio do Bessa foi certificado por todas as entidades responsáveis do futebol (desde a Liga portuguesa à FIFA).
«A FIFA mede os relvados sintéticos tendo por base um grande relvado nacional. Não sei qual foi ou quais foram. Sei é que o relvado do Bessa foi aprovado e certificado pela FIFA e por todas as entidades do futebol», sublinhou o responsável pelaGlobal Stadium, que assumiu que a única vantagem que o Boavista terá no jogo em relação ao relvado tem que ver com o facto de treinar mais vezes, como normalmente as equipas que jogam em casa tiram benefício desse aspeto.
«A única vantagem que o Boavista terá é por jogar no seu estádio, como o Benfica tem vantagem de jogar na Luz ou o FC Porto no Dragão. Isso é fruto de treinar mais vezes e jogar no seu tapete.»
Luís Botas explicou ainda ao zz.pt que a aplicação de tapetes sintéticos será uma solução para o futuro.
«A questão financeira também é muito importante. Não há clubes que estão a 'nadar em dinheiro'. O relvado sintético tem um maior custo no começo mas depois fica mais barato que um natural. As contas ao custo/hora de utilização é importante. Somar o valor da instalação e manutenção e depois dividir pelas horas de utilização veremos que num relvado sintético os clubes podem treinar e jogar e ficará mais barato.»
Além do relvado do Estádio do Bessa, a Global Stadium já colocou tapetes sintéticos em Angola, na Rússia, em França, nos Estados Unidos da América e terá pela frente a colocação de 55 relvados sintéticos no Brasil nos próximos 18 meses.