Benfica
Os números de uma farsa
"Terminado que está o Campeonato Nacional de Futebol, a desilusão reina entre os benfiquistas. O principal objectivo da época não foi atingido. O título voltou a fugir-nos, depois de se insinuar, durante semanas, no nosso horizonte.
Perante a decepcionante realidade, diferentes tipos de reacção de observam. Uns choram as lágrimas da sua genuína amargura. Outros procuram exorcizar frustrações, disparando culpas para cima de quase toda a gente. É a natureza humana que, particularmente no mundo da bola, onde todos as emoções são levadas ao extremo, se manifesta nas suas melhores, e piores, facetas.
Um Campeonato manipulado
Cabe agora aos cronistas dissecar os motivos que levaram a este desfecho. Houve erros próprios, que não podemos iludir, e que deveremos saber corrigir dentro da nossa casa, com serenidade, e sem pressões nem dramatismos exagerados. Mas há uma verdade que nenhum observador isento poderá esquecer: este Campenato foi, em larguíssima medida, manipulado pelas arbitragens, que nos momentos decisivos nos puxaram pelos pés, levando outros ao colo.
É assim há mais de vinte anos. Já estamos de certo modo habituados. Tão habituados que até achamos normal, e exigimos aos nossos profissionais que se sobreponham a esse obstáculo - como se ele não existisse, como se ele não fosse suficientemente opaco para os impedir de chegar mais longe, e de nos oferecer mais alegrias.
O Futebol é sempre analisado em cima dos resultados. Quem ganha, leva tudo. Para quem perde, fica apenas a desilusão, e por vezes a revolta. O FC Porto foi campeão, e é isso que vai constar nos arquivos da história. Poucos se irão lembrar das portas e travessas por onde este título passou. Ninguém irá reconhecer mérito aos perdedores, mesmo sendo eles, neste caso, apenas vítimas de uma perseguição ignóbil e desenfreada.
Os factos
Resta-nos a memória. E para isso deixo aqui um número: 24. Vinte e quatro penáltis por marcar a favor do Benfica. Em 24 ocasiões, os árbitros não viram, ou não quiseram ver, infracções dentro da área dos nosso adversários. É demais, para uma só época, para tão só trinta jornadas.
Deixo aqui a referência a todos esses lances. Dariam para um filme. O filme de uma mentira. Não nos deixemos enganar por ela.
2.ªJ, c/Feirense: agarrão a Nolito;
4.ªJ, c/Guimarães: corte com a mão junto à linha de fundo, com o resultado zero a zero;
5.ªJ, c/P. Ferreira: falta sobre Aimar, aos 44', derrube a Matic, e corte com a mão;
10.ªJ, f/Braga: falta sobre Luisão na sequência de um canto;
17.ªJ, f/Feirense: corte com a mão, falta sobre Rodrigo, e empurrão a Javi;
19.ªJ, f/Guimarães: pontapé no pé de Rodrigo;
20.ªJ, f/Académica: corte com a mão de Cedric, aos 7 minutos, e rasteira a Aimar aos 57 minutos;
22.ªJ, f/P. Ferreira: agarrão a Jardel logo no início, derrube a Bruno César, e duas faltas sobre Nélson Oliveira nos minutos finais;
24.ªJ, f/Olhanense: empurrão a Javi, agarrão a Cardozo, e corte com a mão de Toy;
26.ªJ, f/Sporting: rasteira a Gaitán logo no primeiro minuto, e agarrão a Luisão ainda na primeira parte;
28.ªJ, f/Rio Ave: empurrões a Cardozo e Saviola, ambos nos últimos dez minutos.
São estes os lances que referi, 17 dos quais ocorridos a partir do momento em que nos viram com cinco pontos de vantagem. Não são todos claros. Alguns seriam passíveis de diferentes interpretações. Mas muitos - seguramente bem mais de metade -, constituíram erros grosseiros de quem tinha por missão fazer cumprir as regras. E, juntamente com outros lances (fora-de-jogo de Maicon, penálti de Emerson em Braga, etc) desvirtuaram o Campeonato, fabricando um campeão que não merecia sê-lo.
Não adianta queixarmo-nos do treinador, das opções tácticas, ou dos falhanços deste ou daquele jogador. Muito menos dos dirigentes, e de uma ou outra contratação. Em condições normais, com verdade desportiva, teríamos sido campeões, com este treinador, com este plantel, e com esta Direcção. E essa é uma verdade que jamais poderemos ignorar na hora de fazer o balanço a esta triste temporada."
Luís Fialho, in O Benfica
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