Porto mingua, Benfica cresce
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Porto mingua, Benfica cresce


"É a última tendência, sobretudo na Europa. Zenit e APOEL face a Basileia... dá ferrugem/tristeza 'versus' ritmo/convicção


TRISTE, enferrujado e nervoso FC Porto. Mantém-se na corrida à fase seguinte da Liga dos Campeões, mas muito aumentam as rugas de preocupação: empate, em casa, perante o APOEL de Chipre, de seguida a contundente derrota na Rússia. E o nível de exibição limitou-se a passar de péssimo para medíocre.

O campeão de Chipre, líder do grupo, é mesmo surpresa. Mas, caramba, o FC Porto só assim, como anda, em rodas baixas, não consegue ganhar-lhe - e até consente que a disputa da vitória se faça taco-a-taco em quase todo o tempo. Na primeira parte, chegou a ser aflitivo, apesar de cedo ter surgido o golo de Hulk com ajuda do guarda-redes. Ivan Jovanovic tem de ser muito bom treinador para conseguir tão sólidas organização e convicção - as frequentes saídas para ataque cipriota chegaram a ser espectaculares - numa equipa sem estrelas (Ailton, brasileiro, ponta-de-lança, tem muito para vir a sê-lo), onde entram Manduca (ex-V- Setúbal e ex-Benfica) e Kaká (ex-SC Braga) e cujo meio-campo é manobrado por Hélio Pinto e Nuno Morais, dois portugueses sem lugar no nosso futebol...


BENFICA: em Basileia confirmou nível de rendimento anos luz à frente do fraquíssimo Benfica dos primeiros meses da época passada (e da tão penosa ponta final...); este Benfica é mesmo potencialmente superior ao da penúltima temporada, campeão nacional. Potencialmente... - o que significa ainda lhe faltar (múltiplas) prova dos 9, ao longo da maratona até à meta final de Maio.

Jorge Jesus disse, na pré-época, não ter agora melhor onze-base do que o de há dois anos. Percebeu-se: sentia faltarem-lhe o então fantástico Di Maria (que poder de explosão em drible e velocidade nos contra-ataques!), o melhor Saviola que Portugal viu e já quase esqueceu, o superconsistente médio todo-o-terreno Ramires, David Luiz no auge de ganas para atingir galarim internacional e Fábio Coentrão que, com enorme mérito de Jorge Jesus, iniciava fulgurante transfiguração de mentalidades (acima de tudo, isso!) e de extremo talvez um dia bonzinho para defesa-esquerdo de mão cheia.

Só que, depois dessa afirmação de Jorge Jesus, chegaram Witsel e Garay, muito fazendo crescer a capacidade do meio-campo e do centro da defesa. Mais: Gaitán, não equivalente a Di Maria, tem confirmado consistente evolução competitiva do seu talento (até como extremo, para minha surpresa, pois sempre lhe vi superiores qualidades para se impor na zona central, como médio ofensivo, ou mais perto do ponta-de-lança), Nolito entrou a todo o gás e Bruno César, gradualmente, à medida que progride em condição física e ritmo, vai mostrando muito bom nível técnico, inclusive no remate.

Comparando idênticos períodos da temporada, este Benfica está melhor do que o de há dois anos. Poderá parecer que não, no campeonato, face à fulgurância daquele arranque para o título; mas os adversários desse Benfica foram apanhados de surpresa, e, para além disso, estavam débeis, mormente o FC Porto. Mas é sobretudo à escala europeia (e agora na Champions, em vez da Liga Europa...) que tem sido evidente o crescimento benfiquista, em maturidade e... consistência táctica. A grande diferença está no meio-campo. Javi Garcia tem agora dois anos de rodagem; e há a novidade Witsel, cujas capacidades e características trouxeram pujança à linha média (bem superiores ritmo e segurança nos desdobramentos ataque-defesa) e versatilidade nas opções táctico-estratégicas. O Benfica de há dois anos era trepidante, amiúde até fulgurante, na ofensiva, mas o actual fez desaparecer as então notórias debilidades na transição defensiva. Foi-se a sofreguidão de dar espectáculo, chegaram bem maior solidez, muito mais equilíbrio; logo, superior capacidade competitiva.

Finalmente, e sempre face ao último Benfica campeão, o actual plantel tem muito melhor naipe de alternativas no banco de suplentes. Atenção, porém: isso é indiscutível na força atacante; mas há debilidades nas opções: qualitativas, para o sector defensivo, e numéricas, para o meio-campo."


Santos Neves, in A Bola



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