Quatro homens, uma paixão
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Quatro homens, uma paixão


"Quando tantos falam de Eusébio e alguns como se fossem os seus melhores amigos, recordo homens simples de tão simples amizades.

Eusébio morreu e como morreu, morreu também um bocadinho de todos nós, porque Eusébio foi o português do século XX que mais tocou transversalmente os portugueses, o que mais disse respeito a todos, como fica amplamente confirmado pela onda de consternação e admiração que a sua morte provocou. Nesse sentido, Eusébio foi e é um português culturalmente marcante. Eusébio era dos portugueses e ra como era, não era como alguém queria que fosse ou como alguém o queria fazer.
Eusébio não se deixou moldar nem seguiu estratégias; nunca se aproveitou da grandeza que teve e viveu com a intensidade com que jogou e viveu com a simplicidade com que jogou. Nunca foi mais nem menos do que ele próprio.
Às vezes duro e tantas vezes meigo, às vezes azedo e tantas vezes terno e gentil, às vezes com o rosto meio fechado de antipatia e quase sempre verdadeiro, amável e simples. Eusébio foi tão enorme que a Eusébio tudo se perdoava, mesmo quando não era fácil a relação com ele.
Como singelamente declarou esse brasileiro tão português que é Carlos Mozer, a única verdade que a maioria de nós pode testemunhar é que Eusébio sempre teve tudo o que esperamos de um ídolo. Foi tocante e admirável.
Mas nesta hora em que todos falam de Eusébio como se fossem os seus melhores amigos, sinto apenas vontade de recordar quatro homens, quatro homens simples que fizeram parte da vida simples de Eusébio.

Emílio Augusto Andrade Júnior é mais conhecido por Ti Emílio. Nasceu em Lisboa a 2 de Abril de 1921, é o proprietário dos restaurante Tia Matilde, na capital, e terá sido verdadeiramente o pai que Eusébio quase não teve.
Ti Emílio é um grande benfiquista no sentido da devoção mas sempre recusou fazer parte de qualquer direcção do clube. Foi sempre um benfiquista de ajudar e não de aparecer nas fotografias. Acompanhou a equipa encarnada anos e anos por todo o mundo e deu-lhe tantas vezes de comer que se tornou inseparável do emblema.
É de homem destes que se fazem os grandes clubes.
Ti Emílio vai fazer 93 anos, e desses anos todos muita da sua energia da sua generosidade e do saber foram dedicados a Eusébio.
Ti Emílio não precisa de dizer uma palavra sobre o seu filho negro. Todas as palavras do mundo seriam poucas para falar de tanta coisa.

É com o auxílio de um artigo do PORTUGUESE TIMES  de New Bedford, cidade próxima de Boston, no estado norte-americano do Massachusetts, região de muitos portugueses, que aqui recordo a figura de Vítor Baptista, o homem que ofereceu a Eusébio e ao Benfica a estátua que permanece no Estádio da Luz e que por estes dias se transformou no santuário à memória do 'pantera negra'.
Vítor Baptista é, pois, um emigrante português nos Estados Unidos, natural de Angra do Heroísmo, da açoriana ilha da Terceira, um emigrante de Boston, desde 1973, aonde chegou aos 18 anos, e foi ele o primeiro a lembrar-se de uma grande homenagem pública, e em vida, ao grande Eusébio. Não foi o Benfica, como por aí se ouviu.
O amor de Vítor Baptista pelo futebol, pelo Benfica e, em particular, a sua paixão por Eusébio, levou-o a tomar a iniciativa de mandar construir a estátua do maior jogador português do século XX, para deixar a figura às gerações seguintes.
«Recordo as grandes alegrias que Eusébio deu ao meu pai (precocemente falecido aos 40 anos), quando o Benfica na segunda Taça dos Clubes Campeões Europeus e de tantas outras tardes de glória nas décadas  de 60 e 70 tornou mais feliz a vida dos portugueses», disse, um dia, àquele jornal, Vítor Baptista, que explicou que a estátua que mandou erguer não deixou, também, de ser «uma homenagem a meu pai e a todos os portugueses que se identificam com os valores que Eusébio representava quando envergou a camisola do Benfica e da Selecção».
Dizia Vítor Baptista que Eusébio «era naquele tempo a única nota positiva do País, e o único que nos dava orgulho de sermos portugueses, com tantas e tantas alegrias que nos proporcionou atravás das vitórias que conseguia para Portugal no estrangeiro».
Confessou ainda que o facto de ser benfiquista teve pouca importância no projecto da estátua. «Admirava Eusébio pelas suas qualidades de atleta. Segui muito de perto a sua carreira. Vi-o jogar várias vezes e pelos contactos que tive com ele posse testemunhar que é um homem excepcional. Admiro-o pelas suas qualidades de carácter e pela sua honestidade como atleta. Eusébio mostrou sempre uma conduta irrepreensível dentro das quatro linhas, portando-se sempre correctamente com companheiros e adversários, raramente discutindo as decisões dos árbitros».
Foi este homem, que tão deliciosamente descrevia Eusébio, como se vê, que cumpriu em Janeiro de 1992 o sonho de oferecer ao 'pantera negra' e ao Benfica a estátua agora transformada em santuário. A 25 daquele mês daquele ano Eusébio fez 50 anos e Vítor Baptista quis apenas o que sempre quiseram muitos de nós: admirá-lo!

O nome de José Morais dirá menos aos portugueses do que os Ti Emílio ou Vítor Baptista, porque por uma ou outra razão, Ti Emílio e Vítor Baptista estão ligados a aspectos mais conhecidos da vida de Eusébio.
Amigo e confidente, companheiro, assessor e secretário, amparo e motorista, paciente e sempre presente, íntimo e permanente, quase da família e para sempre, José Morais é talvez o homem que, conhecendo há muito o 'pantera negra', mais de perto - tão perto, tão perto... - o acompanhou nos últimos dez ou quinze anos, se não estou em erro, para todos os cantinhos, mas mesmo todos os cantinhos do mundo.
Fosse Eusébio chamado a uma festa na África do Sul, ou convidado para homenagem na Polónia ou a uma palestra nos Estados Unidos ou a inauguração benfiquista no Canadá ou a um jogo de beneficência na Coreia do Sul, ia, sim, mas não ia sem José Morais.
E José Morais tudo fez para manter gigante a dignidade que o carácter, a figura e a dimensão de Eusébio mereciam.

Por último, lembro ainda o nome de Alcino António, provavelmente o maior e mais pessoal amigo que Eusébio teve nas direcções do Benfica desde o final da década de 80.
Como eu os admiro."

João Bonzinho, in A Bola



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