Se Rogério Carvalho "Pipi" diz...
Benfica

Se Rogério Carvalho "Pipi" diz...


DEPOIS DE JONET E ALBINO A PALAVRA A ROGÉRIO CARVALHO.


NOTA: Quem leu o texto de ontem/anteontem pode “saltar” até Rogério Carvalho dixit, pois esta parte inicial é a repetição de ontem para quem chegou hoje ao blogue e desconhece o enquadramento feito ontem. Obrigado.

O modo como se treinou no Benfica ao longo do tempo (desde 1904) sempre me interessou. Por isso nunca perdia a oportunidade quando tinha tempo, estando na presença de uma Gloriosa Glória (e esta mostrava disposição para isso) questionar acerca do modo como “entre os rapazes do seu tempo” preparavam o jogo seguinte…geralmente ao domingo ou nalgum dia feriado.

Domingo
Andando a arrumar uns papéis dei com vários apontamentos de conversas com Rogério Jonet, Albino, Rogério Carvalho e Artur Santos, abarcando um período de 60 anos do Glorioso Futebol, entre a primeira década do século XX e o final da década de 50! Entre Cosme Damião e Otto Glória.

Do Foot-Ball ao Futebol
Entre 1904 e 2015 quase tudo mudou no futebol menos essência do jogo. Tal como entre 26 de Outubro de 1863 (criação do Futebol, em Londres) e 7 de Setembro de 2015. Colocar mais vezes a bola dentro da baliza (goal ou objectivo, inglês/português) que o adversário. Tudo mudou, na globalidade para melhor: piso dos campos, bancadas para os espectadores, equipamentos, chuteiras e bolas, iluminação, alimentação dos futebolistas, tácticas, falatório (fio de jogo, ideia de jogo, desenho táctico, etecetra e tal, mais que tudo o futebolês levado ao exagero, principalmente às segundas-feiras) e principalmente, os treinos para vencer. São estes o motivo do texto de hoje.

Querer saber mais
Se tudo mudou os treinos então mudaram e voltaram a mudar várias vezes. Em Portugal tiveram quatro mudanças radicais ajustando-se ao modo como os futebolistas podiam jogar: de amador para semi-amador (os clubes davam uma quantia em dinheiro para o futebolista se “estabelecer”), depois para semi-profissional (o clube conseguia um emprego permitindo ao futebolista aumentar o ordenado somado ao pago pelo clube) e finalmente para profissional.

Como eram os treinos no início do Clube (ou quase)
Porque a informação que consegui é para meados dos anos 10 quando o treinador do Benfica era o incontornável Cosme Damião.

Rogério Jonet dixit
No tempo de Cosme Damião (anos 10 e 20) não havia treinos obrigatórios mas os futebolistas eram aconselhados «sempre que pudessem a passarem pelo campo, ao final da tarde (entre a Primavera e o Outono. De Inverno em dias solarengos desde que não fosse já escuro...) para fazerem umas corridas, darem uns pontapés na bola e fazerem uns chutos à baliza». Não havia treinos obrigatórios é uma forma de dizer. Havia em domingos sem jogos calendarizados. Não havendo jogo de determinada categoria, os treinos realizar-se-iam nos horários em que o campo estivesse livre de jogos das outras categorias. Por exemplo, se a 2.ª e a 3.ª categoria jogassem nesse domingo frente a adversários de outros clubes Cosme Damião marcava um treino entre futebolistas da 1.ª e da 4.ª categoria. Os futebolistas do Benfica eram aconselhados a fazerem 30/45 minutos de ginástica, durante todo o ano, depois e antes de se deitarem, respectivamente, de manhã e à noite. Quando havia jogos ao domingo era proibido qualquer exercício ao sábado (o campo estava mesmo fechado para jogos com bola) e os jogadores aconselhados a terem precaução com entorses e pancadas nas pernas. No Benfica dizia-se que se alguém queria singrar no futebol devia «ir o maior número de vezes ao campo durante a semana, deixando conversas, discussões e os maus hábitos nas tascas e tabernas».

Quem foi Rogério Jonet?
Um guarda-redes das categorias inferiores (nunca se estreou na 1.ª categoria). Jogou entre 1913 e 1921 convivendo de perto com Cosme Damião, como futebolista ou associado. Para mais informações podem sempre ler um texto neste blogue publicado em 4 de Março de 1914 (clicar)

António Ribeiro dos Reis
Foi um dos principais "revoltosos bem sucedidos" nas eleições de 6 de Agosto de 1926 que levaram ao afastamento de Cosme Damião. Para ele o Benfica estava a "ficar para trás no futebol" pelo facto de Cosme Damião não querer contratar futebolistas tendo de pagar ao clube de origem do jogador e dar "luvas" ao jogador contratado. O Benfica é um clube glorioso, os jogadores é que devem procurar o Benfica para jogar!

Albino dixit
No tempo de Ribeiro dos Reis (anos 20 e 30) havia dois treinos de manhã (das oito às dez horas) duas vezes por semana (terças e quintas-feiras) no estádio das Amoreiras (1925-1940) e - em vésperas de jogos "em casa" ou Lisboa/Estoril/Setúbal - uma sessão facultativa de teoria e regras de futebol e/ou conselhos tácticos para o jogo do dia seguinte, sábado ao final da tarde, na Secretarias do clube que foram mudando mas eram sempre na Baixa. Nas quintas-feiras era um “treino de conjunto” em que saía, no final, a convocatória (apesar de não haver substituições, escalavam-se sempre 15 para jogos na zona de Lisboa e 14 para jogos com viagens longas de comboio). Para jogos em Lisboa cada um tinha de assegurar o seu transporte de modo a chegar duas horas/hora-e-meia antes do início do jogo, geralmente às 15 horas de domingo. Nos jogos longe de Lisboa (Coimbra, Porto e Braga) saíamos depois de almoço de sábado, no comboio rápido para o Porto para pernoitar no hotel Batalha (jogos no Norte). Se o jogo fosse em Braga, saíamos desse hotel depois de um almoço breve mais cedo que o habitual, em táxis do Porto (cerca de oito alugados pelo Clube) para Braga. Em Coimbra o "Glorioso" instalava-se no hotel Astória, a dez minutos do campo do Arnado e a vinte/trinta (a subir) do campo de Santa Cruz. Para o Algarve saíamos do Barreiro, de comboio logo na manhã de sábado para o hotel Eva em Faro. E daí ao início da tarde de domingo de comboio para Olhão ou Vila Real de Santo António.

Quem foi Albino?
Um centrocampista dos melhores de sempre em Portugal. Aliás foi quando tirei as notas acerca do treino de hoje que ele me contou um história deliciosa que em tempos publiquei neste blogue:
Para perceber Albino como jogador ver o texto publicado em 28 de Março de 2015 (clicar)
Para ler a história deliciosa publicada em 29 de Março de 2015 (clicar)

Rogério de Carvalho dixit
No tempo dele (1942/43 a 1953/54) entre Janos Biri e antes da chegada de Otto Glória havia três treinos por semana, no estádio do Campo Grande, entre as oito e as dez horas e meia/onze horas da manhã. Com um plano quase imutável:
Terças-feiras: exercícios físicos, corrida a várias velocidades e distâncias, aplicações físico-técnicas em pares e destreza com bola envolvendo todo o plantel;
Quintas-feiras: treino de conjunto (peladinha) entre o "onze habitual" (que dava a indicação dos convocados para domingo) e a reserva (que procurava jogar com as características do próximo adversário de domingo);
Sextas-feiras: exercícios sem bola, muitas vezes apenas ginástica. Era vulgar ao fim de uma hora de treino alguns jogadores dizerem que tinham de ir mais cedo para o emprego que o patrão avisara de véspera... Muitos patrões ou responsáveis pelo emprego dos futebolistas até referiam o porquê de dispensar empregados para fazerem ginástica num campo de futebol se eram futebolistas. Que fizessem ginástica em casa…
Rogério não se recorda de estágios, mas recorda-se de um “retiro”. Foi na semana que mediou entre a final e a finalíssima para a Taça Latina 1950. Ted Smith convenceu os dirigentes do Benfica a alugarem um hotel em Sintra para aproveitar a frescura dessa vila nos arredores de Lisboa para treinarem nos jardins (espaços verdes) do hotel num clima mais ameno pois a fase final da Taça Latina entrara pelas canículas de Verão. E lá foram até Sintra. O bom e o bonito foi que entretanto chegou ao hotel um grupo de… jovens nórdicas. Nunca mais os dirigentes (que receberam reforços de Lisboa) conseguiram descansar até rumarem ao Estádio Nacional para conquistar a bela Taça!


Quem foi Rogério Carvalho…
Um avançado esquerdo (interior ou extremo) que é um dos melhores de sempre em Portugal. Talvez o melhor interior de sempre em Portugal. Actualmente é o decano dos futebolistas do “Glorioso” (estreia em 4 de Outubro de 1942) e dos internacionais de Portugal (estreia em 21 de Maio de 1945). Até deixo uma nota. Ele “não quer nada” com os actuais dirigentes do Clube”. Geralmente encontro-me com ele três vezes por ano, uma no início de Abril, a segunda “sagrada” em 18 de Junho (Dia da Taça Latina) e por último em finais de Setembro. Depois dos primeiros chuviscos frios, o nosso Rogério refugia-se, quase hiberna, em casa até ao raiar da Primavera. Tem um desígnio: Vai completar 93 anos em 7 de Dezembro de 2015 e quer chegar (pelo menos… aos 100 anos/ 2022). Por isso, está para breve o meu último encontro (pessoal) com ele em 2015. Depois, em 2016, só lá para Abril! Se alguém tiver perguntas a fazer ao nosso Pipi é deixá-las na caixa de correio que eu procurarei levá-las ao seu conhecimento em breve.

Para perceber Rogério como jogador ver o texto publicado em 7 de Dezembro de 2012 (clicar)

UM(S) DIA(S) DESTE(S) HAVERÁ MAIS…

ESPERO EM BREVE FALAR COM AS SEGUINTES GLÓRIAS
Já o devia ter feito. Mas sabe-se como é. Estão aqui mais próximos, são mais novos, fica para depois. Mas o tempo é inexorável. Nunca para. E a um ano segue-se outro. E ficamos todos mais velhos um ano. E mais uns anos a seguir…

Artur Santos dixit
Com Otto Glória...

José Augusto dixit
Com Béla Guttmann e seguintes até Jimmy Hagan....

Toni dixit
Com Jimmy Hagan e seguintes

Pietra dixit
Com Jorge Jesus

Em breve, neste blogue, perto de si!

Alberto Miguéns

PLANO PARA AS EDIÇÕES DURANTE  SETEMBRO
(provisório como é evidente)
De 10 a 23 de Setembro de 2015 (Sempre pela meia-noite)
Quinta-feira (de 9 para 10): Uma modalidade por semana: Râguebi;
Sexta-feira (de 10 para 11): O Benfica e o CF "Os Belenenses";
Sábado (de 11 para 12): E depois da Quarta?;
Domingo (de 12 para 13): Cuidado com eles;
Segunda-feira (de 13 para 14): Desde que Luisão chegou…;
Terça-feira (de 14 para 15): O Benfica e o FC Astana;
Quarta-feira (de 15 para 16): Que estreia na Liga dos Campeões 2015/16?;
Quinta-feira (de 16 para 17): Uma modalidade por semana: Pólo Aquático;
Sexta-feira (de 17 para 18): E o "Glorioso" na 4.ª jornada?;
Sábado (de 18 para 19): O Benfica e o CF "Os Belenenses";
Domingo (de 19 para 20): O “Clássico de Portugal”;
Segunda-feira (de 20 para 21): E depois de Contumil?;
Terça-feira (de 21 para 22): Mentiras Oficiais Made in SLB;
Quarta-feira (de 22 para 23): Benfica tão brilhante que se vê no escuro



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