Benfica
Vai, Cristiano, volta à Inglaterra!
"Para o Benfica e para a sua TV seria excelente que Cristiano Ronaldo regressasse ao Manchester United. Ou que se fosse juntar a José Mourinho em Londres.
O Brasil de Luís Filipe Scolari venceu a Taça das Confederações em casa, num Maracanã renovado segundo as exigências da FIFA, e pôs fim com requintes de malvadez a uma já longuíssima invencibilidade de Espanha em jogos oficiais. É caso para se dizer que os campeões do mundo de sempre venceram os campeões do mundo da actualidade.
Para mim, mesmo não sendo campeão do mundo de futebol em título, como acontece algumas vezes, o Brasil é sempre o campeão do mundo de futebol por direito divino e dom natural.
Concluindo: a um ano de distância do Mundial de 2014 ficou dado, exemplarmente, o recado. A Espanha, que tem arrastado tudo e todos nos últimos anos, que não são favas contadas. Na verdade, a Espanha só arrasou tudo e todos nos últimos anos até ao dia em que teve de jogar com o Brasil.
E Scolari lá voltou a dar ao Brasil um título, coisa que não acontecia desde 2002 quando no Oriente, o escrete venceu o Mundial também sob seu comando. Assim que a final de domingo terminou, Scolari foi entrevistado ainda no relvado pela estação de televisão brasileira que transmitiu o jogo para todo o mundo. E foram bem curiosas e inesperadas as suas primeiras palavras, sabendo-se que o treinador não estava a falar especialmente para nós.
Scolari, cuja última final em competições do género tinha sido a malfadada final do Europeu de 2004, teceu largos elogios aos «portugueses» que sempre o trataram «com muito carinho» e a um país, o nosso, que o tratou muito bem institucionalmente. Numa hora de consagração na sua pátria, Luís Filipe Scolari fez questão de dizer aos brasileiros que traz sempre consigo os portugueses no coração.
E porquê? Estratega das uniões improváveis - como o provou em Portugal onde construiu, de raiz, um casamento ainda duradouro entre a Selecção Nacional e o povo todo em geral -, Scolari prepara-se para reeditar a mesma coisa em versão poderosamente tropical e no seu próprio país.
Ao contrário dos adeptos portugueses, que até à chegada do treinador brasileiro viviam sentimentalmente afastados da sua equipa nacional, os brasileiros sempre mantiveram um namoro intenso, praticamente paixão, com o seu escrete, pesem algumas discordâncias técnico-tácticas com uma série de seleccionadores que por lá passaram e que, em sorte e em triunfos, nunca chegaram aos calcanhares de Scolari.
Mas daqui a um ano há Copa e Scolari quer mais do Brasil em função dos interesses do Brasil em função dos interesses da canarinha e, consequentemente, dos seus próprios interesses. Onde se lê interesses, leia-se ambição.
Se o sargentão conseguiu pôr 9 milhões de portugueses, por definição pouco exuberantes, a enfeitarem-se e mais às suas janelas de bandeiras verde-rubras, o que conseguirá ele fazer com 200 milhões de brasileiros, por definição mais dados a carnavais?
Os elogios de Scolari aos portugueses assim que acabou o jogo de domingo no Maracanã vão nesse sentido. Se os portugueses conseguiram, caras, vocês têm de conseguir muito mais!
Vai ser bom e bonito o Mundial de 2014.
NO jogo com a Espanha, já o resultado ia adiantado, David Luiz cortou miraculosamente, sobre a linha de golo, uma bola que ia entrar. Júlio César estava fora do lance e fora da baliza, e a jogada do ataque espanhol magistralmente concluída por Pedro só podia dar golo.
Mas não deu. Surgido não se sabe de onde, o antigo jogador do Benfica impediu com grande espectacularidade o golo de honra espanhol. O Maracanã, grato e impressionado, veio abaixo em aplausos a David Luiz, jogador que, segundo a imprensa, José Mourinho não quer ter à sua disposição no Chelsea.
Isto para muita gente é absolutamente incompreensível. Já para outros, não
Os benfiquistas, que viram todas as semanas durante uns bons anos David Luiz jogar pela sua equipa, sempre se dividiram quanto à real valia prática do seu então muito jovem defesa central. Sobre o futuro grandioso que o aguardava, diga-se em abono da verdade, nunca houve muitas dúvidas na Luz. Que David Luiz sairia um dia para jogar por grandes emblemas era, por todos, um dado adquirido.
A questão retórica que à época dividia os adeptos do Benfica, e que continua hoje a dividir adeptos em Inglaterra e no Brasil, é se David Luiz é ou não é um defesa-central intransponível. Ora, intransponível, meus amigos, nem a Muralha da China quando mais o David Luiz que, é verdade, quando falha fá-lo sempre com grande espalhafato.
Um dia, quando o jogador brasileiro já se tinha afirmado como o indiscutível defesa-central do Benfica (e não defesa-esquerdo, muita atenção), um amigo benfiquista definiu-mo assim:
- É um jogador de categoria mundial. Só tem um problema?
- Qual é o problema? - perguntei-lhe eu que sempre gostei de David Luiz desde a primeira vez que o vi jogar.
- Dá uma barracada por jogo - foi a resposta que obtive e com a qual não pude deixar de concordar.
E como David Luiz é tão espampanante no que faz de bem como no que faz de mal, estas coisas acabam por dar nas vistas.
Talvez José Mourinho não queira um defesa que dá uma barraca por jogo para o seu Chelsea. Mas será que o viu a voar a mil à hora rentinho à relva para não deixar entrar na baliza de Júlio César a bola de golo que tinha sido rematada por Pedro?
Um dos prazeres em assistir a um jogo de futebol é imaginar o que os outros pensam ou como outros reagem perante as incidências dos noventa minutos. E voltamos a Mourinho. Para imaginar o que o nosso compatriota, tão mal estimado em Madrid, terá pensado e dito ao ver Iker Casillas sofrer três golos de uma assentada.
Cá para mim foi isto:
- Com Diego López esta não entrava!
E disse-o por três vezes.
NOLITO vai-se embora de vez. No último mercado de Inverno, Nolito saiu da Luz emprestado para o Granada e de alguma forma terá ajudado os andaluzes e evitar a descida de divisão. Agora é definitivo o seu adeus à Luz. O Benfica vendeu Nolito ao Celta de Vigo por 2,6 milhões de Euros o que foi considerado um bom negócio para todas as partes envolvidas.
Nolito chegou ao Benfica no Verão de 2011 e causou sensação. Se bem se recordam, do outro lado da rua o Sporting vivia uma pré-temporada complicada o que, por feliz ou infeliz comparação, até levaria um antigo presidente leonino a produzir um comentário altamente abonatório para o jogador que o Benfica fora buscar ao Barcelona B:
- Se tivéssemos um Nolito não estávamos a chorar - disse António Dias da Cunha prevendo, também ele, um percurso de sucesso do jogador ao serviço do emblema rival.
Nada disso se confirmou com o andar da carruagem e Nolito, aos poucos, foi desaparecendo do onze da confiança do seu treinador. Mas nunca deixou de ter uma legião de fãs entre os adeptos do Benfica agradados com as explosões do seu futebol malandro, um futebol de rua quase sempre destemperado mas alegre. E de alegria é que a gente gosta.
NUMA operação financeira que envolveu a banca e um grupo de investidores, o Sporting reestruturou a sua dívida e apronta-se para um futuro que afirma ser seu.
Isto encerra uma novidade. Fazia já muitos anos que um clube de futebol português não saía de uma enrascadela de tesouraria sem ter o apoio directo e benevolente da Olivedesportos.
Numa entrevista relativamente recente, António Oliveira, sócio-fundador da Olivedesportos actualmente desavindo com a empresa, pôs as coisas em pratos limpos:
- A Olivedesportos é o FMI do nosso futebol.
Empréstimos, ou melhor, adiantamentos por contratos, contra condições, esses mesmos contratos. Era a isto que António Oliveira se referia.
Neste mundo específico das instituições, dos contratos e do audio-visual, esta semana também houve outra grande novidade. A Benfica TV, detentora dos jogos do Benfica na Luz para o campeonato e dos jogos do campeonato inglês, passou a ser um canal pago. Obrigando, não será especulação concluir, a Sport TV a lançar um canal low-cost. Veremos o que vem aí.
Para o Benfica e para a sua TV seria excelente que Cristiano Ronaldo regressasse ao Manchester United. Ou que se fosse juntar a José Mourinho em Londres. Quem não quer ver Cristiano Ronaldo jogar à bola durante um ano inteiro?
Vai, Cristiano, volta à Inglaterra!"
Leonor Pinhão, in A Bola
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