Após resolver o impasse com a OAS sobre a Arena, o presidente Fábio Koff teve que administrar outro problema tão grave, porém, na célula central do Grêmio, o departamento de futebol: o recente mau relacionamento deVanderlei Luxemburgo com os dirigentes Rui Costa e Marcos Chitolina.
Divergências sobre o local da intertemporada no recesso da Copa das Confederações, quanto aos adversários a serem escolhidos e ao uso ou não de uniforme oficial em dois testes além do pedido - não aceito pelo então treinador - de tirar Welliton do jogo-treino com o Caxias foram a gota d’água para a demissão que era maturada, pelo mau desempenho do time em campo, desde o empate com o São Paulo, em 12 de junho, a última partida antes da pausa no Brasileirão. O GLOBOESPORTE.COM reconta esses passos finais, que culminaram na saída de Luxa, anunciada na manhã de sábado, no Olímpico.
1. Local da intertemporada
A escolha de Porto Alegre como sede da preparação foi oficializada em 13 de junho, sete dias após Koff costurar as alterações no contrato de exploração do novo estádio. Àquela altura, o mandatário passara a ser figura mais frequente no vestiário. Acompanhou de perto a preferência de Luxa em levar a delegação a Londrina, cidade paranaense cotada inclusive para sediar a pré-temporada no começo do ano. Foi informado do descontentamento do ex-comandante com a demora na definição dos rivais dos jogos-treino - o São Paulo-RS é o oponente de quarta-feira. Ele, ainda, não queria dar caráter decisivo aos testes, por isso, o uso do uniforme de treino enquanto o futebol cogitava até cobrar ingresso da torcida.
Na noite de quinta-feira, Koff recebeu o relato de que o então chefe da comissão técnica não aceitava interferência na escalação, afinal, os cartolas determinaram o não aproveitamento de Welliton, protagonista de negociação com o futebol árabe.
2. Caso Welliton e recado de Chitolina
Escalação de Welliton foi episódio-chave
(Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA) Os maiores conflitos foram com Chitolina, assessor político de Koff. Luxa passou a ter ressalvas ao dirigente após a estadia em Bogotá, onde permaneceram por 12 dias e voltaram eliminados da Libertadores com derrota para o Santa Fé.
Chitolina, ao comunicar o veto ao uso do Welliton, na última quinta-feira, justificou por ser uma determinação do presidente. Luxa retrucou, pedindo a presença de Koff, já que não aceitaria recados de terceiros. O recado final, o da demissão, veio na manhã de sábado, antes do jogo-treino com o Caxias. O empresário Gilmar Veloz já havia sido informado na sexta-feira, em contato telefônico de Koff.
Koff, no entanto, nega os conflitos. Alega "nunca ter sido informado de nenhum problema". Rui, o diretor executivo de futebol, adota a mesma postura. À exceção da divergência sobre a intertemporada:
- A gente (direção) tinha posição sobre a intertemporada ser em casa. Havia a questão financeira e o fato de termos ficados dois períodos longo fora na Libertadores (Quito, para enfrentar a LDU, e Bogotá, Santa Fé). Os jogadores precisavam ficar com as famílias. Então, houve um convencimento do treinador. Ele, sim, preferia sair. Havia essa divergência, mas ela foi resolvida. Os demais casos especulados são internos e, portanto, não irei me manifestar.
Chitolina não atendeu aos telefonemas feitos pelo GLOBOESPORTE.COM. Luxa preferiu não fazer nenhum comentário ao atender a reportagem. Disse apenas que avalia se manifestar e, se for o caso, "será na hora certa".
3. Vice-presidentes e a 'força excessiva'
Koff recebia de vice-presidentes críticas a Luxa
(Foto: Hector Werlang/Globoesporte.com) Mas outros dois membros da gestão Koff já haviam saírdo após rusgas com Luxa: Fábio Mundstock, coordenador da campanha de eleição do atual mandatário, que revelara suposto veto do técnico a contratação de Lugano, e Omar Selaimen, ex-assessor de futebol, que reclamou publicamente de eventuais "poderes do técnico".
Estes episódios contribuíram para a demissão debatida, nas palavras de Rui, em outros momentos, por causa de maus resultados dentro de campo: eliminação do torneio sul-americano e empate com o São Paulo, última partida antes do recesso do Brasileirão. Koff, na verdade, viu de perto e concordou com o que integrantes do Conselho de Administração chamavam de "força excessiva" do treinador no clube, o chamado "fogo amigo", que recentemente Luxa disse ser "comum" no futebol.
O treinador, aliás, desconfiava que pessoas da direção vazavam informações. Agora, dois deles que atenderam a reportagem adotaram tom ameno. Até porque o presidente determinou silêncio sobre o caso para evitar o vazamento de informações.
- Estava viajando, então, não posso falar sobre - alegou Nestor Hein.
- Presidente tem legitimidade para decidir e não precisa nos consultar - completou Marcos Herrmann.
A direção, agora, busca um técnico substituto. E alguém com a cara de Grêmio, conforme Rui Costa:
- Tem de ser alguém que conheça o clube. Tenha boa compreensão do Grêmio, da forma como se joga, qual a expectativa da torcida. Pode ter trabalhado aqui ou não.
Renato Gaúcho foi um nome cotado. Mas não há prazo para o anúncio. Por hora, o interino é Roger Machado. O Grêmio tem o primeiro compromisso oficial contra o Atlético-PR, em 6 de julho.
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