Zé Gato - o 1 e o 11 ao mesmo tempo
Benfica

Zé Gato - o 1 e o 11 ao mesmo tempo


"A propósito de um livro de um autor italiano que se intitula a si próprio Zé Ninguém... A solidão na grande-área do romance. Há drama e tristeza e sonho e a realização de uma esperança. E um guarda-redes sempre pronto a defender os remates traiçoeiros da vida.

um tema que me diz muito: a literatura. E depois há a literatura e o futebol ou, se quisermos, o futebol dentro da literatura.
No Brasil sempre se escreveu muito sobre futebol. E bem! Que digo eu? Maravilhosamente! João Cabral de Melo Neto, Nelson Rodrigues, Armando Nogueira, Nelson Motta, Ruy de Castro, Mário Filho, Luís Fernandes Veríssimo e mais e mais e mais. Futebol crónica, futebol poema. Muito pouco futebol romance.
Em Portugal sempre se escreveu muito sobre futebol. E bem! Repito! Extraordinariamente. Mas nos jornais, sobretudo. Os livros chutaram-se muito para canto. E vieram depois livros avulso, que se deixavam a eles mesmo fora de jogo da literatura. Apenas entretenimento.
Hoje vou falar maioritariamente com palavras alheias. A propósito de Luca Leone, italiano de Roma que assina sob o pseudónimo de John Doe. John Doe? Zé Ninguém? Será mesmo.
Foi o Luís Lapão que me falou de Luca Leone.
Ele veio a Lisboa e ao Estádio da Luz, ao Museu Benfica - Cosme Damião, para conhecer José Henrique, o meu bom amigo Zé Gato.
Porque José Henrique é o personagem principal do seu romance «Solo Come in Area Di Rigore» que ainda não tem tradução para português mas terá brevemente, espero eu e todos aqueles que gostam de literatura e de futebol.
Deitei-me à voragem do livro. No original, claro está. Sai-se dele como de um finta do Chalana, no zigue-zague da baliza.
Leia-se a propósito Dario Ricci
É um romance, não se esqueçam. O Zé Gato está lá mas não é ele, é a personagem dele. É a vida da personagem e não do próprio.
Há drama e tristeza e sonho e a realização de um esperança.
José Henrique está página e página na solidão da grande-área.
Dario Ricci, jornalista desportivo e escritor sublinha: «O número estampado nas costas, o 1, primo e portanto indivisível, recorda-nos a solidão da sua própria natureza ao mesmo tempo que contem em si todos os outros. E eis o grande prodígio matemático: 1+1 em futebol dá 11, equipa completa, ainda mais se este 1 é o 'capitão' como sucede com o nosso protagonista.
- 'Eu, frente a frente com o Mundo, com aquela faixa no braço esquerdo, represento todos!', diz José Henrique recordando todos os seus sonhos de criança e os dos adeptos. Porque no futebol, mais do que em qualquer outro jogo de equipa, como sentencia o guarda-redes das águias de Lisboa.
- 'Ninguém joga nunca sozinho para si próprio!'»
Confesso que li e quis continuar a ler.
O romance dentro do romance. O herói dentro do seu heroísmo imperfeito.
Ainda Ricci: «Para fazer deste romance um suado hino ao desporto mais amado do mundo bastaria a palavra de José Henrique, guarda-redes e jogador, sobre muitos dos seus adversários - extraordinário o retrato dos 'números 10', aqueles que no futebol são tudo menos um guarda-redes, isto é, 11-1=10, apesar do próprio José Henrique desmentir esta premissa -, sobre os seus treinadores, sobre o seu ombro desfeito mas miraculosamente pronto para os momentos que contam, sobre as suas defesas e golos sofridos, sobre a sua obsessão pela Taça dos Campeões, o Santo Graal do futebol mundial, sobre essa Lisboa loucamente apaixonada pelo jogo. Mas, José Henrique - graças à pena sapiente de John Doe - é muito mais do que um guarda-redes ou do que um jogador. José é simplesmente um homem que demonstra como com as luvas rebate os remates traiçoeiros da vida numa aventura existencial que se torna na contínua alternância entre a exaltação da glória e a precipitação no abismo. E o que é a vida de um homem, afinal? Por isso, respeito e honra a José Henrique que com a faixa no braço e luvas suadas é 1 e 11 ao mesmo tempo: é um de nós e representa-os a todos. Aliás, aquela águia voando não segura nas patas a frase E PLURIBUS UNUM?»
Leia-se. Vale a pena. Futebol e literatura são, por vezes, capa e contracapa do livro de sonhos.
O José Henrique merece. A sua vida dará mais do que um livro. E não será preciso perguntar: Quem és tu Zé Gato?"

Afonso de Melo, in O Benfica



loading...

- Um Nome Para A Literatura...
"Dificilmente se escreveu, em Portugal e no mundo, tão belas páginas sobre um atleta do que as que foram dedicadas a Eusébio. Voltemos a ele, portanto. Inesquecível, sim; irrepetível, também. Eusébio. Voltemos a falar de Eusébio. É sempre bom...

- Eusébio.
"Há nomes assim: esse ponto final parágrafo aí em cima poderia ser um ponto absolutamente final. Ou seja: o livro estaria pronto, concluído, perfeito. Porque a Eusébio nada se acrescenta. «Exagero subjectivo!, exclamarão alguns. Estão no seu direito....

- José Àguas "cantado" Pela Filha Do "pai Herói"
"Foi Helena Águas (a Lena d'Água das canções, voz única e inesquecível) que, utilizando o seu apelido de baptismo, decidiu escrever 'José Águas, o Meu Pai Herói' (Oficina do Livro), biografia de um dos maiores jogadores de sempre...

- A Literatura E O Desporto : A PropÓsito De Sophia
Se não laboro em erro, o desporto, como tema literário, foi tratado, pela vez primeira, pelo estro vibrante de Píndaro. Os Jogos dominavam a vida da Grécia clássica e ele deixou-se embriagar pelos feitos atléticos dos campeões olímpicos. Nada...

- O Museu Cosme DamiÃo É Uma Coisa Do Outro Mundo
Esta quinta-feiraChalana: “O Museu Cosme Damião é uma coisa do outro Mundo”Foram três as glórias benfiquistas que visitaram, esta quinta-feira, o Museu Benfica Cosme Damião, entre elas Chalana e José Henrique. A pisar pela primeira vez a imponente...



Benfica








.