A máquina só emperrou no Jamor
Benfica

A máquina só emperrou no Jamor


"Benfica, 7 - Boavista, 1; Benfica, 13 - Académico de Viseu, 1; Benfica, 9 - Marítimo, 3; Vitória de Setúbal, 0 - Benfica, 5. UFA! Trinta e quatro golos em quatros jogos!!! Foi este o caminho para a Final da Taça de 1948/49. Depois, 2-1, ao Atlético...

A Final da Taça de Portugal está aí, quase, quase a jogar-se. Virá talvez a propósito relembrar episódios relacionados com a prova, e com o Benfica. Naturalmente, que são muitos, ou mesmo mais do que muitos, não fossemos encarnados os grandes açambarcadores de Taças em Portugal.
Ora bem, na época de 1948/49 o Benfica jogou a Final contra o Atlético, vencendo, por 2-1. Em 1949/50, por via da disputa em Portugal da Taça da Latina (que o Benfica também ganhou), não houve espaço para a Taça de Portugal, retomando-se a prova em 1950/51, com nova vitória do Benfica, desta vez frente à Académica de Coimbra, por 5-1. Em 1951/52, a Final da Taça é disputada entre os dois velhos rivais de Lisboa: Benfica, 5 - Sporting, 4. Finalmente, em 1952/53, é vez de o Benfica jogar a Final frente ao FC Porto: 5-0.
Melhor era impossível: quatro edições da competição, quatro vitórias. E as últimas três finais todas com «chapa cinco».
Impressionante a forma como o Benfica atingiu a Final de 1949! Ora vejam: Benfica, 7 - Boavista, 1; Benfica, 13 - Académico de Viseu, 1; Benfica, 9 - Marítimo, 3; Vitória de Setúbal, 0 - Benfica, 5. UFA! Trinta e quatro golos em quatros jogos!!! Uma daquelas marcas impossível de igualar. Rogério «Pipi» marcou nove, Corona marcou oito, Arsénio marcou sete, Espírito Santo marcou seis... Avançados insaciáveis. Curioso, no entanto. Chegados ao Jamor, os goleadores 'encarnados' pareceram emperrar a máquina, tantos foram os remates perdidos, os oportunidades desperdiçadas. Além disso, reconhecia em uníssono a Imprensa da época, o Atlético tivera uma defesa de grande categoria e um guarda-redes inspirado, Correia de seu nome. Mas, convenhamos quem andara a espancar opositores uns atrás dos outros até chegar ao Jamor fizera cair sobre os seus próprios ombros a responsabilidade de continuar a saga. Não foi bem assim...

Golos ao cair do pano
Faltou ambiente  escrevia-se. Talvez fosse uma das razões para o menos acerto. O público não respondeu à chamada, o estádio estava meio vazio. Respinguem-se umas palavras de aqui e de ali: «Talvez por acaso, talvez porque se questionam os regulamentos da Taça de Portugal, talvez ainda porque não apareceu em 1949 a 'final mais desejada', faltou alegria no Vale do Jamor. Faltou ambiente, certeza de que poderia ver-se um encontro renhido, autêntico partida decisiva de Final de época».
Apesar de tudo, o resultado foi meio mentiroso, deixando pairar no ar uma ideia de equilíbrio que não existiu: «O Benfica poderia ter obtido bem mais do que o 2-1 se os seus avançados atinassem com os remates à baliza de Correia. Este, que durante muito tempo defendeu bem e com felicidade  veio todavia a ser vítima da sua audácia pois estava bastante fora das redes quando Corona e Rogério o bateram com dois tentos em um minuto - o suficiente para afastar o espectro do prolongamento. E ainda para servir a ideia de termos assistido a um desafio equilibrado, marcou o Atlético mesmo no declinar do encontro o melhor golo do desafio...»
Nada como as palavras de quem assistiu in loco a tudo o que se descreve para endurecer a verdade dos parágrafos.
Aos 79 minutos, Corona faz 1-0; aos 80, Rogério «Pipi» faz 2-0; aos 90, Armindo Silva faz 2-1.
A Taça de Portugal é do Benfica. «Não se pode pensar de outra forma: - o destino, ou a lei do mais forte antecipou-se e colocou a vitória e a taça nas mãos de quem mais a mereceu», assinava Rodrigues Teles na sua prosa. E concluía: «Joga muito mais o Benfica. O Atlético também é capaz de melhor façanha. No primeiro, esquecendo a discutida falta de remate e até descrença, vários jogadores estiveram à altura habitual - Francisco Ferreira, Moreira, Félix, Jacinto e Fernandes, por exemplo. No segundo, toda a gente da retaguarda (Correia, famoso aqui e desejado além) e mais Ben David e Martinho».
A veia goleadora do Benfica parecia ter-se esgotado durante as eliminatórias. Valia a eficácia, agora e na hora da vitória..."

Afonso de Melo, in O Benfica




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