Benfica
Glória ao Futebol moderno
"No dia 15 de Junho de 1952, Benfica e Sporting foram intérpretes da que terá sido a mais emocionante Final da história da Taça de Portugal. 5-4 foi o resultado. Rogério «Pipi» resolveu o encontro no último minuto...
Regressemos ao Jamor. Não para resolver os confetis da festa recente do Vitória de Guimarães, que tanto doeu na alma benfiquista, mas para retomar a recordação daquele quádrupla vitória na Taça de Portugal, com o intervalo de uma época pelo meio, precisamente a de 1949/50, ano em que por se ter disputado em Lisboa a Taça Latina não houve lugar à habitual festa da Taça.
Vimos, na passada semana, como o Benfica destroçara a Académica do Dr. Bentes, o «Rato Atómico», por expressivos 5-1, com quatro golos de Rogério «Pipi». Foi a primeira vitória das três consecutivas após o tal interregno de 1950. Seguir-se-iam duas finais contra rivais de estadão, aqueles que mais marcam a história do Clube da Luz: Sporting e FC Porto. E assim mesmo, por esta ordem.
No dia 15 de Junho de 1952, o Estádio Nacional engalanou-se para uma Final a cheirar bem, a cheirar a Lisboa, entre Benfica e Sporting. Jogo de estalo! E não adivinhavam os adeptos de ambos os clubes que demandaram o Vale do Jamor naquela tarde o espectáculo emocionante a que iriam assistir. Chamaram-lhe «A Apoteose do Jamor». E ia assim, linha a linha: «Quando, ao faltar um minuto para acabar o maravilhoso conto do Jamor, uma história fantástica e emocionante do Futebol português, Rogério marcou a 5.ª bola em remate feliz, roçando o poste, e depois desmaiava na alegria do feito e da vitória, o Benfica conquistara a Taça de Portugal na Final mais rica de que há memória, mas o grande triunfador era verdadeiramente o Futebol, tanto na expressão benfica como sportingue, que nos dera a melhor Final de todos os tempos!»
Ah! Palavras ufanas, cheias de entusiasmo. E não era para menos. Esse mesmo Rogério, o Rogério Lantres de Carvalho, o Rogério «Pipi» como ficou popularmente conhecido, que ao minuto 43, desperdiçara um penálti, fechava um 5-4 as contas de um dérbi excepcional que manteve os olhos dos milhares e milhares de espectadores que enchiam as bancadas do Estádio Nacional presos a todo aquele teatro trágico que se desenrolava sobre o relvado.
Arte e harmonia
O marcador, foi, ao longo dos 90 minutos, saltando de um lado para o outro, provocando os nervos e os histerismos ora destes ora daqueles, sempre sem que ninguém fosse capaz de antever para que lado o resultado iria cair. Reparem: 0-1 por Albano, de penálti, aos 9 minutos; 1-1 por Rogério, de penálti, aos 23 minutos; 2-1 por Corona, aos 49 minutos; 2-2 por Rola, aos 51 minutos; 2-3 por Martins, aos 56 minutos; 3-3 por Rogério, aos 69 minutos; 3-4 por Rola, aos 71 minutos; 4-4 por José Águas, aos 73 minutos; 5-4 por Rogério, aos 89 minutos. UFA! Só escrever já cansa, quanto mais jogar...
Tavares da Silva, grande jornalista do seu tempo, que chegou a ser Seleccionador Nacional, desenrolou no «Diário de Lisboa» uma prosa brilhante sobre este encontro e que começava, precisamente, com as linhas que mais acima reproduzimos. E vale a pena dar-vos a conhecer mais alguns dos adjectivos com que o célebre colunista pintalgou a final do Jamor de 1952. Aproveitem.
«A todos os títulos, a Final da Taça de 1951/52 representou uma lata expressão de Futebol moderno, de uma velocidade outrora desconhecida e de movimentação sintonizada, com espaço suficiente para as manobras individuais, empenhando-se os jogadores exclusivamente nas boas normas do fair-play. O desafio teve interesse, graça, animação e ansiedade! Viram-se, na base da referida movimentação e velocidade, golpes estupendos de arte e harmonia, atitudes escultóricas, figuras acrobáticas, todo um mundo de riqueza no campo desportivo! (...) Os dois mais famosos grupos portugueses contaram-nos, no Jamor, uma bela história que, daqui a tempos, quando se falar ou relembrar as grandes manifestações do Futebol português, será sempre recordada: - Ali, no Vale do Jamor, uma vez, em fim de época de 1952, assistimos a uma Final da Taça como nunca tínhamos visto e não mais pelos tempos fora havíamos de ver...»
Para nós, os outro, os que não vimos, resta a memória indelével das palavras escritas."
Afonso de Melo, in O Benfica
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