Alegre visita aos Leões da Almirante Reis
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Alegre visita aos Leões da Almirante Reis


"Quando assistirem a um Benfica-Marítimo, não se esqueçam: estão com os olhos postos num clássico com mais de 100 anos! E a primeira presença dos encarnados na Madeira já foi há mais de 90...

Tenho feito deste espaço, e vocês também, pois ele depende da magnânima paciência de que me lê, um local de peregrinações. Pelo tempo e pelo espaço. Às vezes regresso bem atrás na memória. Não na minha que não é felizmente tão antiga, mas na dos que viveram momentos extraordinários da história do Benfica e do Futebol em Portugal. Vamos então até 1922. Abril de 1922.
No dia 5, exactamente pelo meio-dia, a equipa do Benfica embarca no cais de Santos com destino à ilha da Madeira. Um acontecimento! Pela primeira vez um clube continental visita o arquipélago. Mas no momento da partida há elementos em falta. O guarda-redes Francisco Vieira não consegue licença militar e fica em Lisboa; o mesmo se passa com o defesa José Pimenta, aluno da Escola de Guerra. Como medida preventiva é chamado Herculano Santos, empregado numa fábrica de chocolates a pouca distância do cais de embarque, que sai do escritório com a roupa que tem no corpo e segue viagem.
São então estes, os excursionistas, segundo o registo de Mário de Oliveira e Rebelo da Silva: Luís Caldas, José Bastos e Herculano dos Santos; Fernando Jesus, Vítor Gonçalves e Fausto Peres; Belford, José Simões, Ribeiro dos Reis, Jesus Crespo e Alberto Augusto, todos do primeiro «team». Suplentes eram:  António Brás, António Pimenta, Mário de Carvalho e Vítor Hugo. Os «cartolas», como dizem os brasileiros, ou seja os dirigentes: Cosme Damião, «capitão geral», como se dizia na altura e Júlio Ribeiro da Costa. «Fazia também parte da comitiva o dedicado consócio do Benfica José de Melo».
Ribeiro dos Reis escreveria mais tarde em «Os Sports»: «Foi um belo passeio, o melhor de toda a minha carreira futebolística. Duas semanas de vida intensa, acarinhados festivamente em todos os lados».

É assim que nascem os clássicos
O Benfica ganhava o saudável hábito das viagens. Não apenas no estrangeiro, mas pelo território português, nas ilhas e nas colónias, como sucederia no espaço de alguns anos. Na Madeira, os 'encarnados' defrontaram o Marítimo (2-3), o Clube Sports da Madeira (1-0, de novo o Marítimo (3-6), a selecção da Associação de Futebol do Funchal (6-1) e um misto do Clube Sports da Madeira e do Santa Clara, clube formado pelos Ingleses que trabalhavam na colocação do cabo submarino (4-0). Um calendário preenchido e repleto de momento de fraterna amizade.
Dia 9 de Abril, frente ao Marítimo, o campo da Almirante Reis - o Marítimo é conhecido pelos Leões da Almirante Reis, graças ao seu leão agarrado a um leme - rebentou pelas costuras: 4 mil pessoas não perderam pitada de um jogo emocionante. Muitas senhoras presentes, notava a imprensa. Mas um pelado irregular e cheio de pedras soltas, queixavam-se os jogadores 'encarnados'.
Nasceria aí uma relação entre o Clube Sport Marítimo e o Sport Lisboa e Benfica, com cada um dos clubes a ser nomeado sócio honorário do outro.
De relevo, também, a qualidade competitiva das equipas madeirenses, que não tinham contactos com o continente, mas beneficiavam da forte presença de ingleses na ilha, de tal forma que foi no Largo da Achada, freguesia da Camacha, que se disputou o primeiro jogo de Futebol em Portugal, em 1975, iniciativa de Harry Hinton, treze anos antes do famoso encontro promovido por Guilherme Pinto Bastos, em Carcavelos.
A despedida foi, pois, apoteótica. Antes de entrarem a bordo do Vapor Funchal, da empresa Insulana de Navegação, para regressarem a Lisboa, os representantes do Benfica foram agraciados com uma festa de despedida. Álvaro Reis Gomes, director do Marítimo, fez de Cosme Damião «capitão geral» honorário do seu clube e Júlio Ribeiro da Costa e Ribeiro dos Reis directores honorários.
O mesmo tenente-coronel Ribeiro dos Reis escreveria: «As tradições do Benfica, a sua popularidade e ainda o facto de ter sido ele que trouxera a Lisboa, alguns anos antes, o Marítimo, justificaram a escolha do seu nome para inaugurar o intercâmbio que se pretendia estabelecer».
Por isso, quando hoje Benfica e Marítimo se defrontam, às vezes perante um certo desinteresse de jogo sem história, são se esqueçam: estão a assistir a um clássico com mais de 100 anos de história!"

Afonso de Melo, in O Benfica



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