As grandes esperanças do merceeiro analfabeto
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As grandes esperanças do merceeiro analfabeto


"Esfregando as mãos sebentas, o merceeiro analfabeto confessou, despudoradamente, que deposita grandes esperanças em Vítor Pereira. Pudera! Ano após ano, grandes esperanças são depositadas nos senhores de cócoras. Sempre disponíveis para um jantar de marisco em Matosinhos, nunca recusando um convite para uma deslocação nocturna a um arrabalde manhoso para uma muito católica apostólica romana conversa sobre pecadilhos parentais com o Professor Bambo da Madalena, fiéis utilizadores dos serviços íntimos das senhoras do calor da noite, é nos sequazes de Vítor Pereira que, muito correctamente, o merceeiro analfabeto aposta para mais uma época de vergonhosas fraudes semanais e de títulos de fancaria.

É nesta (in)cultura que tais vermes rastejam e se multiplicam. Sem surpresas. Ou talvez com a surpresa grotesca de ver um parolo tomar de assalto o castelo das Antas. Diz ele, fotografado orgulhosamente em tronco nú, para que todos possamos aquilatar das suas insuficiências e admirar o seu peito de tísico, que viveu os melhores momentos da sua estúpida existência. Parece que o estaminé estava ao abandono. Nem um único steward (provavelmente de cara esmurrada pelo incrível Shrek) lhe surgiu num corredor esconso. Dormiu serenamente, como qualquer habitual flausina, no gabinete onde, pelos vistos, repousam os troféus - eles sabem bem que quem ganha não são técnicos nem jogadores...

Depois, num reflexo de súbita criatividade, desceu ao relvado com duas taças e passeou-se com elas, fingindo ter em seu redor um estádio cheio a aplaudi-lo. O homenzinho pode ser um tonto, mas não é completamente insano. No fundo, limitou-se a fazer aquilo que habitualmente fazem os jogadores do seu clube: passeiam-se pateticamente exibindo taças que não são deles."


Afonso de Melo, in O Benfica



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