Da fulgurância à pacatez
Benfica

Da fulgurância à pacatez


"No princípio foi a loucura total. Quatro golos nos primeiros 17' de um clássico é coisa que não acontece todos os dias. Do grande golo de Matic à oferta de Artur, que Jackson aproveitou, houve de tudo e, num repente, o nulo transformou-se num inesperado 2-2. Com a contribuição, também, de Mangala, por ter aberto as hostilidades e de Gaitán por as ter encerrado. Depois desta entrada surpreendente, ia, finalmente, começar o jogo.
Afinal, Luisão, cuja presença durante a semana fora dada como certa, nem sequer foi convocado. Tal como Rorigo, também ele a não recuperar de uma lesão recente. Mas nada que alarmasse ou sequer fugisse à normalidade, uma vez que Jardel e Lima (ou Cardozo) não são propriamente titulares de fresca data. Já o FC Porto inovou mais, por força do impedimento físico de James (sem substituto à altura) e de Atsu, de abalada para o CAN. O belga Defour foi, assim, a aposta.
Face a estes condicionalismos, Vítor Pereira apresentou na Luz um conjunto diferente, mais coeso e cuja evidente preocupação foi o reforço do miolo. À frente do quarteto defensivo, onde Mangala começa a fazer esquecer Maicón, aparecia o trinco Fernando com a impressionante ubiquidade que o caracteriza e, depois, nova cortina, com Defour na direita, a fazer as vezes de James, já que Varela surgiu no outro corredor, deixando o eixo para os criativos Lucho e Moutinho.
Na frente, isolado mas não sozinho, que o bloco intermédio posicionava-se bem adiantado garantindo o necessário apoio, surgia Jakson. E foi este dispositivo dos visitantes que manietou o Benfica, sobretudo na 1ª parte, apesar da empolgante acção de Matic, incansável no desfazer da teia contrária. No 2º tempo, Jesus trocou Enzo Perez - muito desgastado pelo jogo "apertado" imposto pelo FC Porto - por Carlos Martins, na expectativa de que os destemperados mas eficazes "repentes" deste pudessem provocar desequilíbrios. O que o adversário, porém, não consentiu.
Já a entrada de Aimar para uma posição charneira, entre o miolo e o ataque (saiu Lima), terá constituído uma tentativa de consolidar e disciplinar um pouco mais o meio-campo, dada a superioridade numérica do FC Porto nessa zona, desde o início, ao mesmo tempo que servia de ponte para Cardozo. E a verdade é que o Benfica ganhou então algum ascendente, que a mudança de Defour pelo ex-lesionadíssimo Izmailov, no outro lado, não logrou contrariar.
Tivesse Jesus optado nessa altura, e não tão em cima do fim do jogo, por Ola John e provavelmente teria retirado maiores proventos. Foi nesse período que o Benfica enjeitou a grande e talvez única ocasião que o jogo conheceu nesta metade complementar. Cardozo teve artes de se escapar à vigilância azul e branca e só não facturou porque Helton não o permitiu, garantindo, desta forma, o empate que acaba por se ajustar ao desenrolar do jogo.
Quanto ao árbitro, não terá querido estragar o espectáculo com a exibição de muitos cartões e acabou por estragá-lo pela falta deles. Maxi e Matic passaram das marcas, é verdade, mas é bom que se diga que Fernando e Moutinho também não se mostraram meninos de coro. Foi o FC Porto, de resto, a registar o maior número de faltas cometidas, o que é capaz de querer dizer alguma coisa. Mas não foi por causa do árbitro que a discussão se ficou pelo empate."

Rui Tovar, in Sapo Desporto



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