Em Cádis, com rabos e orelhas!
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Em Cádis, com rabos e orelhas!


"Em 1963, sob o comando de Lajos Czeizler, o Benfica vence pela primeira vez o Troféu Ramon Carranza, o «Trofeo de los trofeos»... Barcelona e Fiorentina caem aos pés de uma equipa ávida de golos (Dez em dois jogos!!!).

AINDA há pouco tempo falámos aqui de Lajos Czeizler, treinador breve (apenas uma época) de um. Benfica que marcava golos aos pontapés. Pois hoje falamos desse Benfica de Lajos Czeizler e de mais golos aos pontapés.
Foi um dos primeiros desafios do treinador húngaro: a disputa do Troféu Ramon Carranza, em Agosto de 1963.
Ramon Carranza: os espanhóis chamam-lhe «Trofeo de los trofeos». Disputa-se em Cádis, no Verão, como os mais famosos torneios espanhóis de pré-época, os «veraniegos». Disputa-se desde 1955. Falaremos aqui dele em pormenor uma destas semanas.
Em 1963, o Benfica participou no Troféu Ramon Carranza pela primeira vez. Antes dele, tinham participado o Atlético (1955) e o Belenenses (1957). O Benfica voltaria a Cádis em 1964, 1965, 1971 e 1972. Em cinco presenças conquistou duas taças volumosas. Depois pouca a pouco, o Ramon Carranza viria a perder importância.
Mas em 1963, o Ramon Carranza estava no auge da sua importância. Além do Benfica, estavam em Cádis o Barcelona, o Valência e a Fiorentina.
Como geralmente acontecia, os espanhóis preparavam uma final o mais caseira possível  E assim, nas meias-finais, Valência e Fiorentina foram encaixados de um lado enquanto Barcelona e Benfica se encaixaram no outro. A ideia podia ser boa mas saiu frustrada. Empatados (1-1) ao fim de 90 minutos, Valência e Fiorentina seguiram para um prolongamento que firmou a vitória dos italianos (3-2).
Por seu lado, portugueses e catalães reeditaram a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus de Berna. Até no resultado (3-2). Aos 26 minutos, o Benfica chegava à vantagem, por Serafim. Já na segunda parte (49'), Ré, que substituíra Vicente, fez o empate. Não se esperou mais de um minuto para que Yaúca desse nova vantagem ao Benfica.  Zaldúa, aos 66 minutos, volta a empatar para Serafim (81') decidir do jogo e atirar o Benfica para a final.
Para que se comparem os «teams», eis o registo:
BENFICA - Rita; Cavém, Raul e Cruz; Coluna e Humberto; Yaúca, Eusébio, Santana, Serafim e Simões.
BARCELONA - Pesudo; Foncho, Olivella e Eladio; Segarra e Garay; Zaballa, Pereda, Zaldúa, Kocsis (depois Goywaerts) e Vicente (depois Ré).
Mas o melhor estava para vir.

O súbito destroçar da Fiorentina
DEPOIS de o Barcelona ter despachado (4-1) o Valência no jogo de atribuição do terceiro e quarto lugares, a grande final foi ainda mais vibrante do que prometia.
O Benfica entrou em campo com: Rita; Cavém, Raul e Cruz; Coluna e Humberto; José Augusto, Eusébio, Santana, Serafim e Yaúca.
E a Fiorentina: Albertosi; Rubosi, Conciantoni e Castelletti; Guarnesi e Marchesi; Hamrin, Lojacono, Seminário, Maschi e Partu.
Juan Seminário, «El Loco», um fantástico avançado peruano, já havia jogado em Portugal, no Sporting, e não tardaria a ser transferido para o Barcelona.
Esperava-se um jogo de qualidade entre duas equipas com pergaminhos, mas ele até começou lento, sem grande entusiasmo. Depois explodiu.
Hamrin pôs os italianos em vantagem aos 31 minutos. Sobre o intervalo, Santana lesionou-se e deu lugar a José Torres. E o gigante não tardaria a tomar conta dos acontecimentos. Mal saído das cabinas, aos 46 minutos, fez o golo do empate. Agora o desafio era combativo, excitante. Serafim faz 2-1 (72'), mas Locajano empata três minutos depois. Depois é de novo Hamrin a fazer o 3-2, logo no minuto seguinte. Não há aflição do lado benfiquista: Torres está lá a faz o 3-3.
Segue-se para o prolongamento. A Fiorentina não resiste à cavalgada dos 'encarnados'. O lilás pálido de Florença fica destroçado com os golos de Torres(2), Eusébio e Yaúca. A superioridade portuguesa é de tal ordem que o resultado poderia ter sido mais pesado. Sete-a-três! O Benfica sai de Cádis em ombros, como diriam os aficionados da festa brava, com rabos e orelhas. É a sua primeira vitória no Troféu Ramon Carranza. Voltaria mais vezes. É esse o destino dos vencedores.
E repetiria a vitória. Em 1971. Mas é outra vitória..."

Afonso de Melo, in O Benfica



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