Finalmente... consegui!
Benfica

Finalmente... consegui!


"Depois de quase 60 anos de sócio, fiz parte da comitiva do nosso SLB que se deslocou a Entschede, na Holanda, para jogar com o Twente. Bem, não foi bem parte integral, mas sim só meia dose, ou seja, fui ter a Entschede na véspera do jogo, fiquei com parte da comitiva no hotel escolhido pela Benfica Viagens, fui ao jogo e voltei no avião da equipa e acompanhantes.

Isto até nem é história, não tem o mínimo de interesse, milhares de outros benfiqusitas já o fizeram e muitos outros o irão fazer futuramente. Simplesmente há algumas particularidades que são interessantes de contar. Primeiro, é preciso ser mesmo muito, mas muito benfiquista para, depois de dois dias de reuniões importantes na Alemanha, escolher um jogo do Benfica e logo contra um adversário forte, como o Twente, para tentar relaxar um pouco um pouco. Mas a fé na nossa equipa foi superior a qualquer receio e lá fomos. Fizemos 650 Km nas grandes autoestradas alemãs e chegámos ao destino. Estávamos contentes, encontrámos amigos benfiquistas que não víamos há anos, outros que nem conhecíamos, a não ser de nome, voltámos a rir com as piadas habituais quando estes grupos se reúnem, ouvimos histórias mais ou menos verdadeiras - assim a modos que contos de grupo de pescadores -, enfim, descontraímos mesmo e sentimos que a família benfiquista tem o seu quê de especial.

No meio de tudo isto, lembrei-me da minha mãe. Bem, eu lembro-se dela todos os dias, pois com os seus 86 anos superlúcidos tem de saber todos os dias onde eu ando, o que faço, em que país estou, e isto há dezenas de anos que todos os dias - independentemente de onde estiver, em qualquer parte do mundo - falamos ao telefone, nem que seja só para dizer que está tudo bem. Mas desta vez lembrei-me dela por causa do Benfica.

Após o meu pai ter falecido muito cedo, com apenas 50 e poucos anos, a 'velha', como sempre a tratei carinhosamente, por influência dos meus contactos com os Fittipaldi nos anos 70, começou a viajar com o Benfica, indo para todo o lado com a equipa, assistindo aos jogos do nosso clube...

Bem, a minha mãe desde sempre nos acompanhou, a mim e ao meu pai, aos jogos no Campo Grande e na Luz, não tendo ainda visitado a Catedral por questões de saúde. Portanto, a avó Linda é uma entendida no futebol. Lembro-me de que tinha muito mau feitio quando assistia aos jogos em Lisboa, participava nos insultos, nos assobios, mandava vir com os árbitros e com quem quer que fosse que não estivesse de acordo com a sua forma de interpretar as regras deste jogo de paixão. Mas a recordação de hoje tem a ver com um telefonema da minha mãe, há já muitos anos. Eu estava na Alemanha, a estudar em casa para exames de meio de curso. O telefone tocou, já tarde, atendi e a 'velha', do outro lado da linha, dizia, toda contente, ter visitado nessa tarde um vulcão e as terras cinzentas da Islândia, pois tinha ido a Reykjavik ver o nosso Benfica. E estavam lá várias pessoas nossas amigas, que me mandavam um abraço e força para os exames. Passei-me! A minha mãe na Islândia, para ver o Benfica (sim, a minha mãe só via o Benfica, OK?) em terras vulcânicas! Desde então, aqui na Europa, quando, já mais recentemente, e por telemóvel, nos falávamos, perguntando sempre onde estava, respondia: 'Conheço, já antes aí estive, fui ver o Benfica!' Desde Praga, Moscovo, Kiev, etc., a 'velha' tinha lá ido já antes de mim ver o Benfica. Hoje, liguei-lhe do Estádio do Twente para a Casa de Repouso de Vale de Lobos, tinha acabado de jantar. «Olá 'velha', estou na Holanda, em Enschede, para o jogo do 'glorioso' contra o Twente. Está tudo bem?», disse-lhe meio a gritar, porque o jogo estava quase a começar. Pareceu-me triste, achei eu. Mas não, não estava, disse-me: «É que eu aí nunca estive, tenho pena.» Pois eu não, disse para comigo, finalmente vou ver um jogo do Benfica fora de casa a um sítio a que a minha mãe nunca foi. Foram precisos quase 60 anos de sócio para conseguir tal feito. Viva o Benfica! E a minha mãe também...!"


Domingos Piedade, in Mística



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