Benfica
Manifestamente pouco
"Também há benfiquistas desagradados com Paulo Bento. Por causa do Josué. Jogador que cospe num adversário numa semana não pode ser recompensado com a titularidade na Selecção
DEVE ser mesmo muito difícil. Que tarefa hercúlea para Paulo Bento. A tarefa de moralizar os jogadores da selecção para o duplo confronto que vem aí ainda não se sabe contra quem, sentindo-se ele próprio, impossível não se sentir, tão desmoralizado com o que tem ouvido dizer sobre si nos últimos tempos.
Por exemplo, mal Rui Patrício falhou aquele pontapé que deu origem ao golo do empate de Israel, à beira do fim do jogo em Alvalade, desatou logo o presidente do FC Porto que estava longe, em Toronto, a desancar no homem com quem está zangado desde que Paulo Bento veio à baila com a história das «postas de pescada».
Não foi assim há tanto tempo. Provavelmente, as relações entre os dois já não seriam as melhores, desconheço. Adiante.
A verdade é que o segundo de infelicidade de Rui Patrício fez a felicidade de alguma gente. Especialmente, atrevo-me a dizer sem generalizar, entre portistas, sempre solidários com o seu presidente como manda o protocolo, e entre sportinguistas para quem Paulo Bento é sinónimo de quatro segundos lugares consecutivos em quatro Ligas, o que foi considerado manifestamente pouco.
Paulo Bento tem dado argumentos aos seus anti. É o responsável por uma equipa nacional muito bem pontuada em todos os rankings da especialidade e que não conseguiu ganhar nenhum dos dois jogos que fez com Israel na caminhada para o Brasil. Perdeu um e empatou outro. Também é manifestamente pouco, convenhamos.
- Posso jurar que Paulo Bento nunca será treinador do FC Porto! – gritou lá de Toronto, aguçado pelo infortúnio da selecção, o presidente do, precisamente, FC Porto.
- Ah, valente! – respondeu o séquito.
Mas, atenção, também há entre os benfiquistas, mais uma vez sem generalizar, muita gente desagradada com o seleccionador nacional pelas opções que tomou nesta fase final de definição do nosso grupo de qualificação para o Mundial.
E porquê? Ora. por causa do Josué. Pois, para os puristas que estão a par de tudo através dos jornais e da televisão, um jogador que cospe num adversário numa semana não pode, jamais, ser recompensado na semana seguinte com a titularidade na selecção nacional.
- Isto numa Inglaterra nunca acontecia! – dizem em bom português.
E, por esta razão, acusam Paulo Bento de estar a lavar a imagem de um jogador de um clube rival.
É muito difícil contentar esta gente toda.
No que diz respeito à sopa, já lá vamos.
É verdade que a nossa selecção não está a jogar grande coisa. Mas também não está a jogar assim tão mal que leve a França, nossa possível adversária do play-off de acesso ao Mundial de 2014, a desejar calhar connosco no sorteio da próxima segunda-feira. São, portanto, infundados os patrióticos receios de Cristiano Ronaldo. No fim do jogo com Israel, o madeirense de ouro expressou em voz alta o que lhe ia na alma. Não quer jogar com a França porque «pode haver outros interesses». Poder, pode.
Embarcando alegremente na teoria da conspiração, também se pode concluir que aos franceses interessa muito mais jogar com a Islândia, ou mesmo com a Roménia, do que com os portugueses, seus tradicionais fregueses, é verdade, mas sempre capazes, por serem portugueses, de surpreenderem o mundo com uma qualquer originalidade.
Confiemos no sorteio e no Platini, esse grande malandro. A França não vai jogar com Portugal porque não quer. Podermos todos ficar descansados. Os «interesses» deles são iguais aos nossos.
Se, no entanto, sair um França-Portugal, ou vice-versa, lave-se imediatamente a honra do presidente francês da UEFA. Será a prova de que não houve bolas quentes nem bolas frias no sorteio dos play-offs. Ou isso ou a nossa cotação está mesmo muito por baixo.
A Bósnia qualificou-se directamente para o Mundial. Foi a nossa adversária por duas vezes, nos play-offs para o Mundial da África do Sul, em 2010, e para o Europeu da Polónia-Ucrânia, ou vice-versa, em 2012. O crescimento da Bósnia como selecção pertinente parece sustentado. Nos últimos três torneios de qualificação em que participou ficou por duas vezes em segundo lugar e por uma vez em primeiro lugar, esta, a mais recente.
Tal como a Bósnia exibe um padrão de crescimento, é de desejar que o padrão da selecção portuguesa não seja o diametralmente oposto. Depois de uma série de qualificações directas consecutivas, dois play´-offs e… e… e o que for soará.
OS sócios do Olhanense não aceitam ir ver os jogos da sua equipa em casa ao Estádio do Algarve, esse mono em terra de ninguém, uma das inutilidades saídas do erário público para alimentar o festim de construção do Euro 2004. Perdoem-me o moralismo.
Olhão é uma cidade especial, múltipla, orgulhosa, cheia de raça e de História. Olhão é tudo menos banal. Filhos de quem são, os sócios do Olhanense optaram por uma muito expressiva iniciativa de protesto contra a marcação do jogo com o Arouca, o próximo compromisso dos algarvios, no tal estádio que pouco serviu para o Euro’2004 e que, depois disso, para quase nada serviu ou serve.
Leio na edição de sábado deste jornal que, à hora do Olhanense-Arouca «duas mil pessoas ficarão no Estádio José Arcanjo a ouvir o relato do jogo que se disputa no Estádio do Algarve» à beira da A22, trata-se de uma autoestrada.
O Estádio José Arcanjo é a casa do Olhanense em Olhão, desde 1984, é o digno sucessor do mítico Estádio Padinha e é, naturalmente, o lugar onde os olhanenses se sentem bem e em casa. Alguém de bom senso lhes poderá levar a mal recusarem-se a uma deslocação forçada com o mesquinho intuito de pintalgar de seres vivos as quase virgens bancadas, em plástico japonês, do mono?
Claro que não. Desejo o maior sucesso ao protesto dos olhanenses.
DEPREENDE-SE de uma notícia da edição de A BOLA de segunda-feira que o Gaitán está amuado porque ambicionava a camisola 10 de Aimar. Para desconsolo seu, a dita camisola foi parar ao cacifo do sérvio Djuricic. É este o teor da notícia, resumidamente, como se exige a todos os teores.
Nico Gaitán é, porventura, um dos jogadores mais talentosos actualmente ao serviço do Benfica. Mas, sinceramente, não vejo diferença alguma, no capítulo da qualidade e da entrega ao jogo, entre o Gaitán pré-camisola-10-para-Djuricic e o Gaitán pós-camisola-10-para-Djuricic. Diria até que é exactamente a mesma coisa.
É uma pena, um pecado, que um jogador como Gaitán, jogando ou não na posição que prefere, nos tenha habituado a olhá-lo com a complacência com que se olha para um jogador sazonal. Ou seja, para aquele tipo de jogador que em cada estação do ano assina uma maravilhosa exibição. É pouco. É pena.
NÃO me importa se a sopa estava a ferver, ou morna, ou fria. Não me importa se o basquetebolista Marçal do Maia Basket é o mesmo basquetebolista Marçal do FC Porto que tanto se enervou quando o Benfica foi ganhar o campeonato da modalidade na casa do Dragão. Já passou, já lá vai.
O que se passou no restaurante Terceiro Anel, para além do pecado do desperdício, foi mau. Mau para o Benfica que, alheio ao incidente como ninguém duvida, vê o seu bom nome envolvido numa cena a todos os títulos lamentável.
Pela parte que me toca, e eu não estava lá, peço desculpa ao basquetebolista Marçal. Faço-o com toda a franqueza. Não sou nem mais nem menos benfiquista do que os discóbolos da sopa. Sou apenas pelo Benfica e pela civilização. As duas coisas ao mesmo tempo, de preferência."
Leonor Pinhão, in A Bola
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