Benfica
Ordinary People
"A tradução vai a trouxe-mouxe, mas vulgar não chega. E assim sempre dá um ar cinematográfico com Robert Redford e tudo. Se um menino pequeno me estende a mão, eu dou-lhe a minha, feliz. É assim que se responde à ternura dos meninos. Se não responder ao seu gesto inocente e infantil, não sou vulgar, sou ordinário. Mas autorizo-vos a insultarem-me do pior. Escolham, no dicionário, os adjectivos que mais jeito vos derem: reles?, chulo?, desprezível?, pulha?, rasca?, vil?, escroque?, abjecto?, abominável? (este não que é ligeiramente simpático desde que meta neve), imundo?, infame?, miserável?, nojento?, patife?, salafrário?, repulsivo?, torpe?, velhaco?, Aceitemos, portanto, que qualquer destas definições casam na perfeição com qualquer sabujo que se recuse dar a mão a um menino que lha estende.
Agora, imaginemos que em vez de um são onze, os imundos. Não se trata de um grupo nem de um conjunto: é uma cáfila. Não deitem ainda fora o dicionário, pode vir a revelar-se muito útil. Quando alguém querido do meio morre, é habitual respeitar-se num espectáculo um minuto de silêncio em sua memória. Só que há gente que não tem respeito nenhum por coisa nenhuma. Gente ordinária, lá está. Se eu enlouquecer de repente e me apanharem a assobiar ou a soltar palavrões no decorrer de um minuto de silêncio, seja em alma de quem for, estão autorizados a considerar-me um ser inferior, um macaco, um cerdo, um tramposo, um marrancho, um lapuz e um esterco humano, todo junto. E eu nem reclamarei porque vocês têm toda a razão e cabe-me ir grunhir para uma cova sem fundo na qual caibam todos os cochinos do velho império, que são muitos.
Quando alguém abusa da pseudo-autoridade que um apito lhe confere para esculhar uns a torto e a direito e beneficiar outros como um capacho, sabendo que os uns serão sempre os mesmos uns e os outros sempre os mesmos outros, como poderemos classificar tamanho sevandija? De gente ordinária, claro está!"
Afonso de Melo, in O Benfica
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