Benfica
Nesse Brasil que canta e é feliz...
"Primeira deslocação do Benfica às Américas teve festa a duplicar: cá e lá. E até o Belenenses, Atlético, Estoril e Sporting enviaram dirigentes ao aeroporto para desejarem sucesso à comitiva 'encarnada'.
Antes da partida, a comemoração. Seis títulos nas oito provas principais de Futebol em Portugal: Campeões Nacionais e Vencedores da Taça (categorias de Honra); Campeões Nacionais e Regionais de Juniores; Vencedores da Taça Eng. José Frederico Ulrich (reservas); Vencedores da Taça Dr. Sá e Oliveira (principiantes).
Um Benfica em festa, portanto. Tão em festa que a comitiva que embarcou para o Brasil para disputar alguns jogos particulares numa sensacional estreia no Rio de Janeiro e em São Paulo, viu-se rodeada de gente à chegada ao aeroporto da Portela de Sacavém, agitando bandeirinhas vermelhas e aclamando os jogadores um a um.
Estávamos em Junho de 1955. A viagem do Benfica ao Brasil foi um acontecimento. Os oponentes eram de peso: Flamengo, Peñarol, Palmeiras, América e Corinthians. Todos eles adversários «novos em folha», que o Benfica nunca havia defrontado. Viria, com o decorrer dos anos, a multiplicar esses contactos, e a fazer de alguns deles «gente muito lá de casa». Foi de tal forma um acontecimento, que muitos clubes portugueses fizeram questão de se deslocar ao aeroporto para desejar aos benfiquistas uma boa viagem e uma digressão de sucesso. Sporting, Belenenses, Atlético e Estoril mandaram representantes. E a Federação Portuguesa de Futebol, e a Associação de Futebol de Lisboa.
Festa à partida e festa à chegada. O avião da Panair acabara de aterrar no aeroporto do Rio de Janeiro, depois de uma escala no Recife,e já as rádios brasileiras, com o seu estilo inconfundível, lançavam no éter o relato do que parecia um jogo de Futebol.
Não era. Era só o Benfica que chegava ao Brasil. E punha pela primeira vez o pé nesse Brasil que canta e é feliz, feliz...
Joaquim Bogalho liderou a comitiva formada pelo treinador, Otto Glória, e 17 jogadores Campeões
Samba de um golo só
Os microfones pareciam cogumelos, brotando por todo o lado, questionando jogadores, técnicos e dirigentes. Até no treino, o primeiro, nessa noite no Maracanã, havia magotes de gente como se de um prélio se tratasse. Batem-se chapas, gasta-se magnésio. Mas o jogo que é bom, o jogo que todos esperam, o jogo que qual os atletas anseiam é só no dia seguinte, pelo final da tarde.
O adversário, primeiro adversário desta viagem histórica, era o Flamengo, clube mais popular do Rio de Janeiro e de todo o Brasil. O Benfica perdeu. Não há, como se sabe, derrotas boas, mas o Benfica impressionou os brasileiros. «O Benfica apresentou um bom futebol, trouxe bons valores, e no final deixou grande parte do público com uma dúvida - o empate não teria sido mais justo?». escreveu-se na Tribuna de Imprensa. «O Benfica conquistou o público e caiu como um campeão», titulava A Última Hora.
Aos três minutos, o Benfica já perdia. Golo de Evaristo, golo único do jogo. O mesmo Evaristo que voltaria a defrontar o Benfica, uns anos depois, pelo Barcelona.
As equipas alinham:
Flamengo - Ary; Tornires e Jordan; Serbilho, Pavão e Dequinha; Joel, Rubens, Índio, Evaristo e Esquerdinha.
Benfica - Costa Pereira; Jacinto e Ângelo; Caiado, Artur e Alfredo; Zezinho, Arsénio, Águas, Coluna e Palmeiro.
O Benfica cumpre o seu primeiro jogo nas Américas desferindo ataques sobre o adversário, forçando-o a recuar. Coluna erguia-se em pleno Maracanã como um príncipe etíope, como o poderia ter descrito Nelson Rodrigues. Os tiros de Águas e Palmeiro levam, no entanto, pólvora seca e o resultado não se desfaz. Samba de um golo só.
As equipas saem sob aplausos. O Benfica deixara cair a participação na Taça Latina, que conquistara brilhantemente em 1950, para se lançar na aventura desta viagem longa e demorada. Era tempo de fazer com que o nome do Clube crescesse através do Mundo. E esse é sempre o fantástico destino das grandes viagens..."
Afonso de Melo, in O Benfica
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