Estádio Benfiquista (1 de Dezembro de 1954)
O nosso estádio, inaugurado em 1 de Dezembro de 1954, merece um destaque especial, ou seja, um texto dedicado a uma epopeia popular que ergueu, praticamente sem apoios externos – como tiveram FCP e SCP – um Monumento Nacional. Será um texto longo – e este como já vai longo – seria um “pastelão intragável para um blogue”. Serão explicados os procedimentos, iniciativas (com datas) e as verbas, (ao centavo do escudo) entre 1946 e 1954. Com documentos, fotografias e depoimentos. Fica prometido para 1 de Dezembro de 2012, dia em que se comemorará o 58.º aniversário da sua inauguração. O estádio já não existe (desde 22 de Março de 2003) mas o dia 1 de Dezembro deveria ser comemorado como o “Dia da Utopia Benfiquista”. Desde 1954. Depois de decidir fazer um Estádio do Benfica, no rescaldo das eleições de 1946, procurar terrenos e fazer o projecto pelo arquitecto João Simões, antigo futebolista do “Glorioso” entrou-se numa espiral de ideias, iniciativas e factos memoráveis. Foi com campanhas do cimento e do ferro; donativos na Secretaria, Sede, Feira Popular, terrenos escolhidos e durante a construção (as inesquecíveis enchadadas a dez tostões); leilões e re(leilões) pois quem arrematava ofertava para novo leilão; concursos de quadras e desenhos, de onde sairia o actual tema, hino-não-oficial-mas-mais-popular-que-o-hino-oficial, “Ser Benfiquista”, com música e letra do então director do jornal “O Benfica”, Paulino Gomes Júnior; etc e mais etc. Tentou inaugurar-se o recinto em 5 de Outubro de 1954, data que era aproveitada pelos democratas para importunarem o Regime, pois o 5 de Outubro foi a data, em 1910, em que se instaurou a I República que a Ditadura do 28 de Maio de 1926 derrubou e 5 de Outubro (não havendo feriado e sendo proibidas comemorações no 1.º de Maio) significava para os democratas, o dia em que os republicanos derrubaram a tirania da monarquia, isto quando em 1954 vigorava, desde 1926, uma outra tirania, o salazarismo totalitário e uma ditadura pidesca.
Não foi no 5 de Outubro por que, como o presidente Bogalho fazia questão de querer “O ritmo da construção será feito à medida das capacidades financeiras dos Benfiquistas e só há inauguração quando o estádio estiver completamente pago. Não deixo dívidas aos Benfiquistas”. Optou-se por “adiar” dois meses e aproveitar o 1.º de Dezembro, Dia da Restauração de Portugal e do Orgulho/Auto-estima Benfiquista. Obrigado, Benfiquistas de então.
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1.º de Dezembro de 1954. Um estádio "lindo de morrer" com dois anéis (1.º com 15 mil e 2.º com 20 mil lugares), com campo relvado, projectado para ter quatro torres de iluminação (numa 2.º fase), um 3.º anel para 95 mil pessoas (numa 3.ª fase que acabou por ter uma 4.ª fase), integrado numa Cidade Desportiva planeada, desde 1951, para ter um "mini-estádio" com pista de atletismo e ciclismo, campos de ténis, carreira de tiro, pavilhão e piscina. E não é que viria a ter. Sem apoio do Regime. Mas com apoio dos Benfiquistas. Somos muitos, estúpido
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4 de Janeiro de 1987. 16 .ª jornada do Campeonato Nacional. SLB 3 - FCP 1. 135 000 pessoas, 15 mil acima da lotação oficial. A maior enchente de sempre (e para sempre) em Portugal, na Península Ibérica e Europa. Um estádio imponente, inigualável, arquitectonicamente impecável, colosso e Monumento Nacional. Um exemplo do que pode conseguir uma massa associativa sem igual. NOTA: Ao contrário do que "se diz por aí" não foi na final do Mundial de Juniores em 1991 que se registou a maior enchente! Porquê? Porque em 1991 a capacidade do estádio já estava reduzida a 95 mil, com a instalação dos dois marcadores electrónicos, colocação de 10 mil cadeiras de plástico em parte do 1.º e 2.º anel e construção dos camarotes empresa e de imprensa, servidos por dois elevadores exteriores, na bancada central |
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Estádio sportinguista (10 de Junho de 1956)
Com a construção do Estádio da Luz os sportinguistas passaram da euforia à depressão. Andaram anos a achincalhar a ideia do Benfica construir um estádio para “trinta e cinco mil em alvenaria com relvado” que fosse erguido com donativos dos Benfiquistas. Quando se aperceberam que o Estádio seria uma realidade, tentaram rapidamente elaborar um plano para modificarem o “velho estádio de 1947” (já renovado para responder ao nosso Campo Grande de 1941) no sentido de fazer um estádio para “cinquenta mil espectadores”, ou seja, maior que o do Benfica. Para isso o Conselho Leonino (no SCP não havia eleições) escolheu, em 29 de Janeiro de 1953, o Comandante da Legião Portuguesa (o chefe dos bufos em linguagem popular, dos democratas e reviralhistas) Cecílio Góis Mota. Elemento asqueroso, desprezado entre as elites do Estado Novo, mas aceite pelo trabalho sujo que coordenava (rede de delatores) conseguiu apoio do ministro das Obras Públicas, eng.º Eduardo Arantes e Oliveira (em funções entre 2 de Abril de 1954 a 12 de Abril de 1967) para ajudar nas questões burocráticas e facilidade em obter financiamento. A obra feita à pressa revelou-se um fracasso a três níveis: as campanhas não tiveram o sucesso das realizadas pelo “Glorioso”; o estádio foi construído com “materiais pobres” (cimento em vez da pedra de calcário colocada na Luz); e… nunca foi concluído, faltando fechar a bancada, contrária à Bancada Central, substituída pelo “peão” (via-se o jogo de pé, até 1983, quando foi fechada e o projecto de 1953 concluído). Ou seja, a ideia de ter “mais quinze mil lugares que a Luz esboroou-se ficando com uma lotação de 42 710. “Apenas” mais 7 710 que a Luz. Para a inauguração foi escolhida a data do Dia da Raça, 10 de Junho de 1956, o mesmo dia em que 12 anos antes Salazar inaugurara o Estádio Nacional. Faça-lhes bom proveito. Entretanto com muitas dívidas acumuladas o Conselho Leonino decidiu colocar no poder, em 30 de Junho de 1956 (20 dias depois da inauguração do estádio) Francisco Cazal-Ribeiro, deputado da União Nacional, considerado “mais salazarista que Salazar”. E ele fazia questão de referir, mesmo depois do 25 de Abril de 1974, ter orgulho nesse epíteto.