Verdades Inconvenientes (2.ª em 5)
Benfica

Verdades Inconvenientes (2.ª em 5)


OPINIÃO

O FC Porto decidiu - o Regime não impôs - inaugurar o seu Estádio, nas Antas, em 28 de Maio de 1952, o dia da comemoração do 26.º aniversário da implantação do regime totalitário de onde surgiu o Estado Novo. E tinham razão porque se não fosse a promiscuidade entre dirigentes e políticos fascistas como Urgel Horta e Cesário Bonito não tinham conseguido fazê-lo "tão baratucho"! Que vergonha...

O Sporting CP decidiu - ninguém impôs - após a Revolta Militar do 28 de Maio de 1926 passar a denominar o seu campo na Azinhaga de Telheiras n.º 412, conhecido como Estádio do Campo Grande por... Estádio do 28 de Maio. Que categoria! E espertos!

O Sporting CP decidiu - o Regime não impôs - inaugurar o seu Estádio (na realidade a remodelação do anterior) no então denominado Dia de Camões, de Portugal e da Raça, em 10 de Junho de 1956. E tinha muitos motivos por fazer coincidir essa data com o dia das principais celebrações do Regime (que foram sendo transferidas de 28 de Maio para 10 de Junho). Que vergonha...

O SL Benfica quando foi obrigado - por expropriação do nosso Estádio das Amoreiras - a ocupar provisoriamente o Estádio... 28 de Maio (até 1937 alugado pelo SCP) tomou três decisões: fazer bancadas de madeira (compare-se com a 2.ª imagem anterior, pois o local/ campo é o mesmo), recuperar o nome original (Estádio do Campo Grande, eliminando o 28 de Maio) e fazer a inauguração a... 5 de Outubro de 1941 (a data de um feriado político mais problemática para o Estado Novo, pela apropriação que os democratas faziam - todos os anos - dos ideais da I República, surgida em 5 de Outubro de 1910 e terminada em 28 de Maio de 1926!) Pois é! Que orgulho... 71 anos depois...

O SL Benfica quando teve necessidade de fazer um estádio definitivo escolheu a data de inauguração (porque não foi possível a 5 de Outubro, por atrasos na construção) a 1 de Dezembro de 1954, dia da comemoração da Restauração de Independência de Portugal (face a Espanha) em 1640. Não foi em 28 de Maio, nem a 10 de Junho. Que orgulho... 58 anos depois... 


MORAL DA HISTÓRIA:

Havia um clube que beneficiava do apoio do Regime
De um Regime que se apropriava de comemorações
Mas o clube do Regime afrontava as datas do Regime
O Regime afrontado ficava a gostar mais desse clube
Tal como: Quanto mais me bates mais gosto de ti
Que amor louco entre o Regime e o Clube que o ignorava


Aviso Prévio: Texto longo

             
«É necessário repetir muitas vezes uma mentira que acosse o inimigo para que ela se torne verdade» Citação atribuída ao Ministro da Propaganda Nazi, Josef Goebbels (1897 – 1945)

A pretensa ligação do Benfica ao Estado Novo/ Antigo Regime faz parte da propaganda andróide (secundada, como noutros assuntos, pelos sapóides) tendo um dupla intenção: denegrir o Benfica (conotando-o com um regime político nefasto) e justificar porque é, na actualidade, o Benfica o maior clube português (o “Glorioso” só é o clube mais popular em Portugal, prestigiado no estrangeiro e com mais títulos conquistados, porque foi apoiado durante os 48 anos do Estado Novo). O azar dos aldrabões é que «apanha-se mais depressa um mentiroso que um coxo» (ou deficiente motor, utilizando o politicamente correcto tão do agrado dos bem-pensantes do mundo ocidental). É isso que vamos mostrar, ilustrar e demonstrar em cinco penadas, publicando-se, hoje, a segunda.

Os Estádios e o Estado Novo
Estádio Nacional (Oeiras): Após muitos anos a imaginar - e outros tantos a pedi-lo -para Portugal um estádio com capacidade para albergar, em condições dignas, milhares de espectadores e um campo “igual aos do estrangeiro”, ou seja relvado e não “ervado” para receber condignamente as selecções estrangeiras, jogos internacionais de clubes e as finais da Taça de Portugal, eis que o Estado Novo, através do ministro das Obras Públicas, eng.º Duarte Pacheco, anuncia a construção do Estádio Nacional junto à ribeira do Jamor, no concelho de Oeiras, na periferia de Lisboa, servido pela primeira auto-estrada feita em Portugal, entre as Amoreiras e a Cruz Quebrada. Foi com pompa e circunstância que se inaugurou o Estádio em 10 de Junho de 1944, 18 anos depois da Revolta Militar do 28 de Maio e onze anos após o início do Estado Novo. A partir desta inauguração, em 1944, o 10 de Junho, passou a ser conhecido, para além do habitual (que vinha da I República) Dia de Camões e de Portugal, por Dia de Camões, de Portugal e da Raça.






Estádio 28 de Maio (Braga): Após 1944, não demorou muito tempo até a cidade do Porto começar a pedir um Estádio Nacional para o Norte. E começaram os preparativos, só que cedo se percebeu o objectivo do pedido. Não se tratava de um estádio para o “Norte” mas sim de fazer um estádio “à borla” para o FC Porto, pois o estádio seria construído a cem por cento pelo Estado ficando o FC Porto com direito de usufruto por 49 anos assegurando os custos de manutenção. Espertalhões! O governo percebeu a “golpada” e disse que haveria um estádio a norte, mas seria construído em Braga, cidade onde teve origem a Revolta Militar de 28 de Maio de 1926 e ficaria sob a responsabilidade da Câmara Municipal, não seria de nenhum clube. Foi inaugurado em… 28 de Maio de 1950 para assinalar o 24.º aniversário da Revolta Militar.






Estádio portista (28 de Maio de 1952)
Quando o governo decidiu fazer um estádio a norte, em Braga, os portistas não desistiram de conseguir contrapartidas financeiras e de procedimentos que permitissem abandonar o caduco, de 1912, Campo da Constituição (nem era um estádio) substituindo-o por um estádio moderno e funcional. Como o FCP tinha dirigentes bem colocados no aparelho do Estado Novo (ministros como Augusto Pires de Lima e deputados como Urgel Horta) e outros bem conotados com o fascismo, como os médicos Ângelo César e o Cesário Bonito, conseguiram sacar muito dinheiro ao Estado (principalmente através do ministro das Obras Públicas, eng.º Frederico Ulrich), utilizar a Câmara Municipal (vem de longe "a mama" até... Rui Rio) para expropriar terrenos e “aligeirar” procedimentos. Mas… melhor que eu, quem melhor para contar o que se passou que transcrever parte da História dos 50 anos (1906 – 1956) do FC Porto da autoria de António Rodrigues Teles, um notável historiador do seu clube que na actualidade, por ser rigoroso, honesto e verdadeiro, está proscrito.



Páginas 1090 e 1091 do Volume III da História dos 50 anos do FC Porto (1906-1956) de António Rodrigues Teles, editada em 1958.

Bem escolhida a data da inauguração. Mesmo a uma quarta-feira! 28 de Maio de 1956. Dia da Revolta que implantou a Ditadura Nacional (em 1926) e depois o Estado Novo (1933). Uma boa maneira de homenagear um Regime que lhes deu (praticamente…) um Estádio. Como pode esta gentalha andróide ser tão ingrata para com um Regime que tanto fez por eles e tanto lhes permitiu. E permite. Porque, na realidade, eles têm sido sempre “Um Clube de Todos (e Qualquer) Regime”. Desde que caia e corra… para o saco azul

Que data tão bem escolhida para a inauguração - 28 de Maio de 1952 - mesmo a uma quarta-feira. Depois de sacarem tantos "contos de escudos" ao governo, moverem influências e garantirem processos através de trapalhadas, fizeram bem, muito bem, em homenagear o Estado Novo, celebrando o 26.º aniversário da Revolta Militar que instalou em Portugal o totalitarismo até 1974. Pelo menos ingratos não foram. Também 3000 contos - e até foi bem mais... - nos anos 50 era "dinheiro grande". O Benfica é que não entrou na festa e espetou-lhes 8-2 na inauguração do 28 de Maio do Porto, também chamado... Antas...

Antas...28 de Maio... 8 a 2.... Benfica.... Pinto da Costa é que é ingrato. Devia estar eternamente agradecido ao Regime que, praticamente, lhes deu um Estádio. E aos futebolistas do FC Porto, que, num tempo, em que não havia Xistradas, Proençadas, Sousadas e Arturzadas, entre outras aldrabadas, levaram oito! Pinto da Costa justifica o resultado afirmando que os "jogadoures puortistas queriam festâ, beberão antes do jogo e devião fazer isso depois. Os Mouiros aproveitaram-se e marcaram todas as bolas que atirarão à baliza. Morcões."

Estádio Benfiquista (1 de Dezembro de 1954)
O nosso estádio, inaugurado em 1 de Dezembro de 1954, merece um destaque especial, ou seja, um texto dedicado a uma epopeia popular que ergueu, praticamente sem apoios externos – como tiveram FCP e SCP – um Monumento Nacional. Será um texto longo – e este como já vai longo – seria um “pastelão intragável para um blogue”. Serão explicados os procedimentos, iniciativas (com datas) e as verbas, (ao centavo do escudo) entre 1946 e 1954. Com documentos, fotografias e depoimentos. Fica prometido para 1 de Dezembro de 2012, dia em que se comemorará o 58.º aniversário da sua inauguração. O estádio já não existe (desde 22 de Março de 2003) mas o dia 1 de Dezembro deveria ser comemorado como o “Dia da Utopia Benfiquista”. Desde 1954. Depois de decidir fazer um Estádio do Benfica, no rescaldo das eleições de 1946, procurar terrenos e fazer o projecto pelo arquitecto João Simões, antigo futebolista do “Glorioso” entrou-se numa espiral de ideias, iniciativas e factos memoráveis. Foi com campanhas do cimento e do ferro; donativos na Secretaria, Sede, Feira Popular, terrenos escolhidos e durante a construção (as inesquecíveis enchadadas a dez tostões); leilões e re(leilões) pois quem arrematava ofertava para novo leilão; concursos de quadras e desenhos, de onde sairia o actual tema, hino-não-oficial-mas-mais-popular-que-o-hino-oficial, “Ser Benfiquista”, com música e letra do então director do jornal “O Benfica”, Paulino Gomes Júnior; etc e mais etc. Tentou inaugurar-se o recinto em 5 de Outubro de 1954, data que era aproveitada pelos democratas para importunarem o Regime, pois o 5 de Outubro foi a data, em 1910, em que se instaurou a I República que a Ditadura do 28 de Maio de 1926 derrubou e 5 de Outubro (não havendo feriado e sendo proibidas comemorações no 1.º de Maio) significava para os democratas, o dia em que os republicanos derrubaram a tirania da monarquia, isto quando em 1954 vigorava, desde 1926, uma outra tirania, o salazarismo totalitário e uma ditadura pidesca.
Não foi no 5 de Outubro por que, como o presidente Bogalho fazia questão de querer “O ritmo da construção será feito à medida das capacidades financeiras dos Benfiquistas e só há inauguração quando o estádio estiver completamente pago. Não deixo dívidas aos Benfiquistas”. Optou-se por “adiar” dois meses e aproveitar o 1.º de Dezembro, Dia da Restauração de Portugal e do Orgulho/Auto-estima Benfiquista. Obrigado, Benfiquistas de então.

1.º de Dezembro de 1954. Um estádio "lindo de morrer" com dois anéis (1.º com 15 mil e 2.º com 20 mil lugares), com campo relvado, projectado para ter quatro torres de iluminação (numa 2.º fase), um 3.º anel para 95 mil pessoas (numa 3.ª fase que acabou por ter uma 4.ª fase), integrado numa Cidade Desportiva planeada, desde 1951, para ter um "mini-estádio" com pista de atletismo e ciclismo, campos de ténis, carreira de tiro, pavilhão e piscina. E não é que viria a ter. Sem apoio do Regime. Mas com apoio dos Benfiquistas. Somos muitos, estúpido
4 de Janeiro de 1987. 16 .ª jornada do Campeonato Nacional. SLB 3 - FCP 1. 135 000 pessoas, 15 mil acima da lotação oficial. A maior enchente de sempre (e para sempre) em Portugal, na Península Ibérica e Europa. Um estádio imponente, inigualável, arquitectonicamente impecável, colosso e Monumento Nacional. Um exemplo do que pode conseguir uma massa associativa sem igual. NOTA: Ao contrário do que "se diz por aí" não foi na final do Mundial de Juniores em 1991 que se registou a maior enchente! Porquê? Porque em 1991 a capacidade do estádio já estava reduzida a 95 mil, com a instalação dos dois marcadores electrónicos, colocação de 10 mil cadeiras de plástico em parte do 1.º e 2.º anel e construção dos camarotes empresa e de imprensa, servidos por dois elevadores exteriores, na bancada central


Estádio sportinguista (10 de Junho de 1956)
Com a construção do Estádio da Luz os sportinguistas passaram da euforia à depressão. Andaram anos a achincalhar a ideia do Benfica construir um estádio para “trinta e cinco mil em alvenaria com relvado” que fosse erguido com donativos dos Benfiquistas. Quando se aperceberam que o Estádio seria uma realidade, tentaram rapidamente elaborar um plano para modificarem o “velho estádio de 1947” (já renovado para responder ao nosso Campo Grande de 1941) no sentido de fazer um estádio para “cinquenta mil espectadores”, ou seja, maior que o do Benfica. Para isso o Conselho Leonino (no SCP não havia eleições) escolheu, em 29 de Janeiro de 1953, o Comandante da Legião Portuguesa (o chefe dos bufos em linguagem popular, dos democratas e reviralhistas) Cecílio Góis Mota. Elemento asqueroso, desprezado entre as elites do Estado Novo, mas aceite pelo trabalho sujo que coordenava (rede de delatores) conseguiu apoio do ministro das Obras Públicas, eng.º Eduardo Arantes e Oliveira (em funções entre 2 de Abril de 1954 a 12 de Abril de 1967) para ajudar nas questões burocráticas e facilidade em obter financiamento. A obra feita à pressa revelou-se um fracasso a três níveis: as campanhas não tiveram o sucesso das realizadas pelo “Glorioso”; o estádio foi construído com “materiais pobres” (cimento em vez da pedra de calcário colocada na Luz); e… nunca foi concluído, faltando fechar a bancada, contrária à Bancada Central, substituída pelo “peão” (via-se o jogo de pé, até 1983, quando foi fechada e o projecto de 1953 concluído). Ou seja, a ideia de ter “mais quinze mil lugares que a Luz esboroou-se ficando com uma lotação de 42 710. “Apenas” mais 7 710 que a Luz. Para a inauguração foi escolhida a data do Dia da Raça, 10 de Junho de 1956, o mesmo dia em que 12 anos antes Salazar inaugurara o Estádio Nacional. Faça-lhes bom proveito. Entretanto com muitas dívidas acumuladas o Conselho Leonino decidiu colocar no poder, em 30 de Junho de 1956 (20 dias depois da inauguração do estádio) Francisco Cazal-Ribeiro, deputado da União Nacional, considerado “mais salazarista que Salazar”. E ele fazia questão de referir, mesmo depois do 25 de Abril de 1974, ter orgulho nesse epíteto.

O anterior José Alvalade (1947 - 1953) que depois de remodelado foi inaugurado no Dia da Raça, em 10 de Junho de 1956, 12 anos depois do Estádio Nacional

10 de Junho de 1956, Dia da Raça e do Sportinguismo, num estádio projectado para 50 mil mas que, inacabado - como se vê - ficou-se pelos 42 710. Oh lá lá...

O último José Alvalade, do século XX, já depois de concluído, em 1983, com o fecho da bancada, no lugar do antigo peão que durou 26 anos (1956 a 1982) mas que mais não era que uma ilustração do que faz ser... garganeiro (pensar em grande e fazer pequeno).



Afinal quais são os clubes do Regime? O que ignora as datas mais ideológicas do Estado Novo, ou os lambe-botas do FCP (28 de Maio) e fascizóides do SCP (10 de Junho)?

Alberto Miguéns

NOTA: Plano de publicação (previsão)

PUBLICADO
13 de Junho/ Sem jogos da Selecção Nacional
14 de Junho/ Datas das inaugurações dos Estádios

A PUBLICAR
15 de Junho/ Dirigentes (e responsáveis) democratas
19 de Junho/ Eleições (e Assembleias Gerais) democráticas
20 de Junho/ Sem finais de competições oficiais “em casa”





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