Verdades Inconvenientes (3.ª em 5)
Benfica

Verdades Inconvenientes (3.ª em 5)


OPINIÃO

                           Situação dos textos neste momento
                 Manuel Conceição Afonso (CONCLUÍDO)
(De operário linotipista a dirigente da União Operária Nacional)
                               João Tamagnini Barbosa (CONCLUÍDO)
(De Sidonista a desterrado, pelo Regime, na ilha Terceira)

                                 Mário Madeira (CONCLUÍDO)
                  (Governador Civil e figura do Regime)
    Júlio Ribeiro da Costa (CONCLUÍDO)
(Salazar avisou-o, em Coimbra: De capitão não passarás…)

                  Duarte Borges Coutinho (CONCLUÍDO)
(Entre a educação liberal inglesa e a democracia adiada)


NOTA: O facto desta terceira penada das cinco previstas estar a ser mais exaustiva do que imaginei quando pensei neste assunto, tornando os textos demasiado extensos obrigou-me (por uma questão de leitura) a dividi-la em três partes, tantas quantos os clubes envolvidos: FC Porto (publicado em 19 de Junho de 2012), Sporting CP(ontem) e SL Benfica (hoje). Quem já leu a primeira e segunda parte (FC Porto e Sporting CP) só encontrará “novidades” a partir do seguinte aviso: INÉDITO A PARTIR DAQUI

«É necessário repetir muitas vezes uma mentira que acosse o inimigo para que ela se torne verdade» Citação atribuída ao Ministro da Propaganda Nazi, Josef Goebbels (1897 – 1945)

A pretensa ligação do Benfica ao Estado Novo/ Antigo Regime faz parte da propaganda andróide (secundada, como noutros assuntos, pelos sapóides) tendo um dupla intenção: denegrir o Benfica (conotando-o com um regime político nefasto) e justificar porque é, na actualidade, o Benfica o maior clube português (o “Glorioso” só é o clube mais popular em Portugal, prestigiado no estrangeiro e com mais títulos conquistados, porque foi apoiado durante os 48 anos do Estado Novo). O azar dos aldrabões é que «apanha-se mais depressa um mentiroso que um coxo» (ou deficiente motor, utilizando o politicamente correcto tão do agrado dos bem-pensantes do mundo ocidental). É isso que vamos mostrar, ilustrar e demonstrar em cinco penadas, publicando-se, hoje, a terceira.

PRIMEIRA PARTE
Caça-democratas e caça-situacionistas durante o Estado Novo
Tendo em conta apenas dirigentes que foram presidentes das Direcções nos três clubes e que também tiveram cargos de responsabilidade – ou seja ficam de fora os “apenas simpatizantes” (por ser de difícil definição) no aparelho corporativo e repressivo do Estado Novo, temos:

FC Porto: Democratas 0 – Situacionistas 5

5-0
Urgel Horta
Ângelo César
Augusto Pires de Lima
Cesário Bonito
Júlio Ribeiro Campos


Sporting CP: Democratas 0 – Situacionistas 7

7-0
Salazar Carreira
Oliveira Duarte
Ribeiro Ferreira
Góis Mota
Cazal Ribeiro
Viana Rebelo
Brás Medeiros


SL Benfica: Democratas 4 – Situacionistas 1

1-4
Mário Madeira

4-1
Manuel Conceição Afonso
Júlio Ribeiro da Costa
João Tamagnini Barbosa
Duarte Borges Coutinho

SEGUNDA PARTE
Uma descrição, o mais exacta possível

FC Porto: Democratas 0 – Situacionistas 5

5-0
Urgel Horta
Ângelo César
Augusto Pires de Lima
Cesário Bonito
Júlio Ribeiro Campos

Em 1928, o presidente da Direcção do FC Porto era o inefável fascista Abílio Urgel Horta. Nascido em 17 de Junho de 1896, em Felgar, uma freguesia de Torre de Moncorvo, cedo rumou para a cidade do Porto, onde se formou em medicina. Aos 32 anos, sendo presidente do FCP e tendo feito amizades, com alguns dos militares que implantaram (28 de Maio de 1926) em Portugal a Ditadura Nacional que estaria na origem, em 1933, do Estado Novo, consegue com uma “cunha de tamanho fascista” que o Presidente da República Óscar Carmona, Manuel Rodrigues Júnior (Ministro das Finanças) e José Alfredo Mendes de Magalhães (Ministro da Instrução Pública) assinem o Decreto-Lei que fez do FC Porto o pioneiro (e único durante 32 anos e seis meses) detentor do estatuto de Utilidade Pública. Este médico fascizóide regressaria à presidência da Direcção portista, entre 1951 e 1953, para “sacar do Poder Autoritário e Repressivo Português” o Estádio das Antas, inaugurado pomposamente em 28 de Maio de 1952, o Dia das Comemorações Fascistas, integrando a inauguração do estádio nas comemorações dos 26 anos da implantação do Regime. O médico fascizóide foi deputado da União Nacional, em diversas legislaturas, mostrando-se particularmente activo, na VI (1953-1957), VII (1957-1961) e VIII (1961-1965). Infelizmente, já não viu a Implantação da Democracia. Como ele, certamente, se indignaria com o poder actual do FC Porto ao conotar o Benfica com o Regime que sempre defendeu, e com o qual o seu clube (FC Porto) tanto beneficiou. Ingratidão “pintodacostista”.

O fascista Dr. Ângelo César Machado nasceu em 1900 numa pequena freguesia de Viseu, denominada... Andrade. Andrade à nascença, Andrade e fascista toda uma vida. Ângelo César cruzou-se com Salazar (nascido no Vimieiro... Viseu, em 1889) na Universidade de Direito de Coimbra, onde Salazar foi seu professor. Estabeleceu-se entre eles uma grande amizade – formou-se em 1924 – com ambos a integrarem o Centro Católico. O fascista Ângelo César esteve na fundação da Milícia Lusitana, que depois de 1926 integrou a “Liga Nacional 28 de Maio”, génese da Legião Portuguesa (os delatores do Regime, popularmente designados por “Bufaria”). Ângelo César foi destacado deputado na Assembleia Nacional, fazendo a apologia de Salazar não só como militante do partido único União Nacional, mas com artigos panegíricos a Salazar e ao Fascismo publicados num dos jornais patrocinados pelo Estado Novo, o “Diário da Manhã” órgão de imprensa em que os tipógrafos por vezes se “esqueciam” de colocar o “til” porque entendiam classificar melhor as notícias “Diário da Manha”. Enquanto deputado da fascista União Nacional foi presidente da Direcção do FC Porto, entre 1938 e 1939, se bem que o inefável medíocre nosso contemporâneo Bernardino Barros tenha tentado branquear a sua acção fazendo-o passar por um oposicionista do salazarismo (ver imagem). Têm cá uma lata, estes portistas.

O Dr. Cesário Bonito nasceu em Peso da Régua, a 1 de Agosto de 1909. Formou-se em medicina sendo discípulo de Ângelo César Machado (uma década mais velho). No FCP ocupou vários cargos directivos fazendo parte do grupo, com Urgel Horta, Ângelo César e Júlio Ribeiro Campos, entre outros, que foi dirigindo o clube portista durante os anos 40 até à década de 60, com Cesário Bonito a assumir por três vezes a presidência da Direcção: 1945/48, 1955/57 e 1965/67. Amigo de Urgel Horta quue pertenceu à “Bufa portuense”, a Junta Central da Legião Portuguesa no Norte de Portugal. Divulgador da União Nacional e do espírito do Estado Novo na cidade do Porto foi uma figura temida por democratas e oposicionistas. Felizmente, aos 65 anos, quando viu a liberdade ser restaurada, refugiou-se no anonimato, só “surgindo ressuscitado” pelo poder portista na sua morte. Faleceu no Porto, aos 78 anos, em 4 de Setembro de 1987.

Em pesquisa:
António Augusto Pires de Lima (Governador civil do Porto)
Júlio Ribeiro Campos (Junta Central da Legião Portuguesa no Norte de Portugal)


Sporting CP: Democratas 0 – Situacionistas 7

7-0
Salazar Carreira
Cazal Ribeiro
Góis Mota
Oliveira Duarte
Ribeiro Ferreira
Viana Rebelo
Brás Medeiros

Um dos maiores apoiantes no desporto do salazarismo foi José Salazar Carreira presidente do SCP em 1925/26. Nasceu em Lisboa, a 2 de Novembro de 1894. Foi com a implantação do Estado Novo, depois da II Guerra Mundial que se torna um dos melhores ideólogos do aparelho do Regime, exercendo “com mestria” o cargo de Inspector Geral dos Desportos, até 1964, afastando-se por limite de idade (60 anos). A famigerada DGD que os Benfiquistas denominavam por DGS (DG do Sporting) tal a celeridade com que resolvia os problemas do SCP e as dificuldades do SLB e a morosidade colocada para os problemas do SLB e as dificuldades do SCP. O chamado “caso Eusébio” (Dezembro de 1960/Maio de 1961) é um bom exemplo. Salazar Carreira como principal responsável na DGD tinha, também, grande poder de influência no SNI (Secretariado Nacional de Informação) que controlava jornais e jornalistas. Salazar Carreira idealizava uma comunicação em jornais, rádios e depois na televisão controlada por sportinguistas - com qualidade profissional, mas do SCP - que depois reproduzissem o sportinguismo nos media, dando prioridade à pesquisa e contratação de jovens sportinguistas. Fernando Correia é um bom exemplo desta “política”, como o próprio – por ser competente, excelente profissional e íntegro – já reconheceu. Nunca acharam estranho haver tantos sapóidesnos media? Depois de muitos e brilhantes serviços prestados ao Estado Novo e ao SCP, em simultâneo e com promiscuidade, faleceu, aos 80 anos, em 7 de Dezembro de 1974.

Em 16 de Março de 1914 nasceu em Lisboa Francisco de Moncada do Cazal Ribeiro de Carvalho. A sua carreira no dirigismo sportinguista e no Regime totalitário não podem ser dissociados. Ou seja, coerência e promiscuidade entre clube e política. Uma constante, por exemplo, ao contrário do FCP, onde há muito “interesseirismo”. No SCP fascismo/sportinguismo estão relacionados e estão intimamente ligados. Cazal Ribeiro ascendeu no aparelho político do Regime dentro do partido único (União Nacional), vereador na Câmara Municipal de Lisboa, Comandante de Batalhão da Legião Portuguesa (Bufaria) e deputado pelo Círculo de Lisboa, na Assembleia Nacional, na IX (1965-69), X (1969-1973) e XI (1973-1974) Legislatura, esta interrompida em 25 de Abril de 1974. Teve vários cargos nos órgãos directivos do SCP. Assumia-se como dedicado sportinguista e admirador de Salazar. Com verdade, não por interesse. Ninguém lhe pode apontar intenções. Servia o Regime porque acreditava ser o melhor para Portugal e portugueses. Faleceu em 30 de Dezembro de 1995. Uma entrevista (de que publicamos um excerto) ao jornal “Expresso” não deixa dúvidas quanto à sua ideologia:
Esta entrevista a Francisco Cazal Ribeiro realizou-se em 1993 e foi publicada no Expresso.
Francisco Cazal-Ribeiro foi uma das figuras mais conhecidas do salazarismo.
Vou transcrever as partes mais interessantes da entrevista, começando pela introdução:
“Diz, peremptório: «Eu era tão salazarista que nunca poderia ser marcelista.» Mas continuou deputado no tempo de Marcello porque quis «ficar atento à evolução para cuidar da continuidade». Foi preso a seguir ao 25 de Abril, saiu do país a conselho de Galvão de Melo, e regressou em 1983. Tem agora 79 anos, mas não mudou com a idade. Assume que nunca se converterá à democracia e considera que o 25 de Abril foi «uma traição».”
EXP. - O senhor era um «ultra» do salazarismo e um deputado conhecido pelas suas posições irredutíveis...
C.R. - Sim, era um símbolo do salazarismo que era preciso abater. Assim como o Tenreiro era o símbolo da corrupção, que era preciso castigar. A mim não me abateram e ao pobre do Tenreiro, que ainda é vivo, não descobriram nada de menos lícito ou ilegal.
EXP. - Ainda hoje assume essa condição de salazarista?
C.R. - Inteiramente. Basta entrar em minha casa, como vê: desde o meu quarto, onde tenho um autógrafo de Salazar que muito me envaidece - «Ao Cazal Ribeiro, com muita estima e a maior consideração» -, escrito nas costas de uma fotografia em que ele está a apertar a mão a Paulo VI.
EXP. - ... e defende um Estado autoritário porquê?
C.R. - Quando penso assim, penso como português e como latino. Se eu fosse sueco, era muito possível que fosse democrata.
EXP. - Porquê essa distinção? Os latinos são menos capazes do que os nórdicos?
C.R. - Eu respondo-lhe com uma pergunta: acha que a democracia é possível para estas décadas mais próximas em África?
O Dr. Carlos Cecílio Nunes Góis Motafoi uma das figuras mais odiosas do Regime, sendo durante muitos anos Comandante da Legião Portuguesa. Góis Mota além de desprezado entre muitos desportistas, também era citado entre intelectuais e militares, em Portugal ou nas Colónias. Muito há a dizer sobre ele… mas nem vale a pena, aqui no EDB. Faleceu em 25 de Janeiro de 1973. Dois exemplos de textos em que é citado:

Por Carlos Mário Alexandrino da Silva (estudos africanos)

Os Serviços de Informação da Legião Portuguesa chefiados pelo inspector de educação aposentado Parente de Figueiredo e dos quais fazia parte também o "misterioso" e ganancioso jornalista Luís Lupi, por iniciativa do Dr. Carlos Cecílio Nunes Góis Mota, Secretário-Geral daquela Organização paramilitar, que em 1961 recrutara uma companhia (na LP denominada "TERÇO") de voluntários para guarnecer e proteger as instalações da Companhia Angolana de Agricultura -dos Espírito Santo Silva- no Cuanza Sul, tinham contratado, para ser agente especial em Angola, um ex-colono europeu que havia falido como comerciante no Huambo - Nova Lisboa-: Fernando da Conceição Araújo.

Araújo, demonstrara ser íntimo de militantes e conhecedor das actividades da FUA, prontificando-se a retornar àquela região como agente especial, à revelia da PIDE. O incansável e dinâmico Dr. Góis Mota, homem da confiança de Salazar, queria mostrar que era capaz de superar a PIDE...

Fernando Araújo enviara, algumas semanas antes da sua morte, um relatório secreto que fora encaminhado ao GNP pelo Dr. Góis Mota, que supervisionava a actividade daquele agente especial da LP em Angola. Nesse Relatório Imediato ele denunciava a existência nas cidades de Sá da Bandeira (Lubango), Moçâmedes, Lobito, Benguela e Nova Lisboa (Huambo) de pessoas "socialmente bem colocadas" que eram adeptos da FUA.


E outro de José Saramago:

Memórias de 1934
Encontro na Caminho algumas cartas de leitores que ainda não conhecem o meu endereço... Uma delas traz no remetente um apelido que me é familiar desde há mais de sessenta anos, desde 1934 precisamente, quando, tendo deixado o Liceu de Gil Vicente, comecei a frequentar a Escola Industrial de Afonso Domingues, donde sairia com o curso de serralheiro mecânico. Durante o tempo que ali andei, foi meu professor de Mecânica e de Matemática o engenheiro Jorge O’Neill, que, catorze anos mais tarde, viria a dar-me emprego na Companhia Previdente (de que era administrador-delegado), quando, na sequência da campanha presidencial de Norton de Matos, me demiti, antes que fosse demitido, da Caixa de Previdência onde trabalhava. Um certo Dr. Góis Mota, ajudante da Procuradoria-Geral da República, comandante da Brigada Naval da Legião Portuguesa e «fiscal» do comportamento político dos empregados da Caixa, de que era assessor jurídico, instaurou-nos, a mim e a outro colega, uma caricatura de processo disciplinar, durante o qual me disse (sic) que se os meus camaradas tivessem ganho ele estaria pendurado num candeeiro da Avenida... A minha culpa visível tinha sido, simplesmente, a de não acatar a ordem de que todo o pessoal deveria concentrar-se, no dia da eleição, à porta da secção de voto do Liceu de Camões, porque ele, Góis Mota, segundo dizia, requerera e tinha em seu poder as certidões de eleitor de todos nós, de modo a que pudéssemos ir votar a uma secção que não fosse a nossa. O legionário Góis Mota, ajudante do Procurador da República, estava a mentir: votei na Graça, como devia, e ninguém me disse que, por ter sido passada certidão de eleitor, não podia votar ali. (Na eleição seguinte o meu nome deixaria de constar dos cadernos eleitorais...)

in "Cadernos de Lanzarote - volume IV, 28 de Maio de 1996

Em Lisboa, a 12 de Novembro de 1910, nasceuHorácio José de Sá Viana Rebelo que seria, como brigadeiro, 53 anos depois, entre 1963 e 1964 (conquista da Taça dos Vencedores das Taças), presidente do Sporting CP. Quando chegou à presidência tinha já um longo percurso dentro do Regime do Estado Novo. Militar desde os 20 anos (1930), inscreve-se como associado do SCP em 11 de Outubro de 1944, aos 34 anos, já com a patente de capitão (desde 1943). Dentro do exército português é um dos militares mais prestigiados, tendo também actividade política, em paralelo com a de sócio do SCP: membro da Junta Central da Legião Portuguesa (de Góis Mota, com muitos legionários ligados ao sportinguismo, quase uma simbiose), entre 1944 e 1949, é “eleito” pelo Círculo de Leiria para três legislaturas (a IV, V e VI, respectivamente entre 1945-49, 1949-53 e 1953-57), se bem que nesta não chegue a tomar posse por incompatibilidade com outras funções: subsecretário de estado do exército (1950-1956) e governador-geral de Angola (1956-1959). Nos anos 60 está ligado à reorganização do exército português para responder à Guerra Colonial, chegando a vice-chefe do Estado-Maior do Exército (1964), Ministro da Defesa Nacional (1968-1973) e, em acumulação, do Exército (1970-1973). Foram algumas das suas intervenções “mais legislativas e corporativas” que agitaram os “militares de carreira” que levou a uma revolta corporativa que descambou numa revolução política, o 25 de Abril. Mal sabia ele! Faleceu, aos 84 anos, em 28 de Janeiro de 1995.

Em 30 de Maio de 1912 nasceu em Avelar, uma pequena freguesia do concelho de Ansião, no distrito de Leiria, Guilherme Braga Brás Medeiros. Com o curso de Direito, da Universidade de Lisboa, entrou para associado do SCP, aos 31 anos, em 7 de Dezembro de 1943. Teve vários cargos directivos, avultando os dois períodos em que foi presidente do SCP: entre 15 de Dezembro de 1958 e 10 de Maio de 1961; e 28 de Julho de 1965 e 4 de Abril de 1973. Brás Medeiros foi uma figura importante do Regime, simpatizante fervoroso e divulgador do salazarismo, mas como administrador do jornal “Diário Popular” revelou-se tolerante para com a “ala crítica” do Estado Novo e oposicionistas moderados. No primeiro período como presidente (1958/1961) mostrou-se incapaz de responder ao crescimento desportivo do Benfica e no segundo (1965/1973) escolhido pelo “Conselho Leonino” para responder à hegemonia do “Glorioso” no futebol, afirmou que o SCP já não conseguia ombrear com o Benfica propondo uma aposta nas modalidades “mais baratas” (ciclismo, atletismo, andebol, basquetebol, ténis de mesa, etc) para contrabalançar, desportivamente, a dimensão do Benfica. Teve como grande discípulo João Rocha (1973/1986). Faleceu, em Lisboa, a 30 de Agosto de 1994, aos 82 anos de idade.

Em 1891 nasceu Joaquim Guerreiro de Oliveira Duarte que seria o melhor presidente da história do SCP, mas isso sou eu a afirmar, que não é “problema” de Benfiquista! Oliveira Duarte entrou para associado do SCP em 20 de Maio de 1921, já com carreira na Marinha de Guerra. Militar (médico dentista) da “ala direita” durante a I República aderiu “com facilidade” ao golpe do 28 de Maio de 1926 (aos 35 anos) tendo já tarimba em cargos directivos no SCP. Depois de uma passagem rápida (seis meses) pela presidência (5 de Setembro de 1928 a 12 de Março de 1929) seria nos dez anos de presidência, entre 28 de Julho de 1932 e 2 de Setembro de 1942, que o já comodoro da marinha Oliveira Duarte conseguiria um mandato de enorme valia, construindo os alicerces de um clube bem adaptado ao Regime. Percebendo que o futebol não podia evoluir sem ter os futebolistas com maior dedicação ao treino, o SCP assumiu que o futebol passaria de semi-amador a semi-profissional, ou seja, o futebol deixaria de ser considerado um “gancho” para os jogadores acrescentarem mais dinheiro aos seus rendimentos. O SCP contrataria os futebolistas dando-lhes um prémio, e asseguraria um emprego – que permitisse flexibilidade para treinar - para aumentar-lhes o rendimento que o clube (os clubes) não tinha capacidade para pagar. Sabendo que o SCP tinha muitos dirigentes com promiscuidade no Estado Novo obteve destes facilidade em colocar os futebolistas (e outros atletas de várias modalidades) nos organismos corporativos (grémios, por exemplo) e administrativos (direcções-gerais, por exemplo) do Regime. O SCP depressa virou clube de moda para os melhores de várias modalidades, pois podiam auferir verbas elevadas, entre pagamentos do clube e ordenados em organismos públicos. Por exemplo, o Benfica nunca conseguiu responder, pois tinha muito menos dirigentes conotados com o Estado Novo (antes “pelo contrário”) “perdendo” futebolistas e outros atletas conceituados para o SCP por incapacidade de oferecer empregos bem remunerados. Só mais tarde, nos anos 40 conseguiu que alguns associados “mais abonados” empregassem atletas do “Glorioso” nas suas empresas, fábricas ou lojas. E só conseguimos ultrapassar o SCP quando deixamos o semi-profissionalismo e optámos, em 1954, pelo profissionalismo. Aí o SCP (e Brás Medeiros) foi inapto, pois o SCP não sendo tão popular foi incapaz de gerar receitas, com o Benfica a fazer campanhas europeias arrasadoras, em termos desportivos e financeiros. Oliveira Duarte faleceu, aos 67 anos, em 13 de Maio de 1958.

Em 1906 nasceu António José Ribeiro Ferreira que se distinguiria dentro do Regime como um dos melhores divulgadores da ideologia no Ribatejo, província “rebelde que ele domesticou”. Advogado entrou para sócio do SCP, aos 29 anos, em 21 de Outubro de 1935. Rapidamente se tornou no “delfim ou braço direito” de Oliveira Duarte conseguindo potenciar nos anos 40/50 o que este “inventara” nos anos 30/40. Ribeiro Ferreira era um “perito civil” dentro do Regime, dirigente da União Nacional (primeiro em Santarém depois a nível nacional) e também dirigente sportinguista. Como presidente conseguiu feitos para o SCP de elevado valor, pois foi durante o seu mandato (19 de Janeiro de 1946 a 13 de Fevereiro 1953, por falecimento) que o clube conquistou um tricampeonato nacional (1947-1949) e ficou “encaminhado” para um tetracampeonato (1951-1954) já concluído noutro mandato, o de Góis Mota (cá está ele… mais uma vez). Góis Mota e Salazar Carreira, tal como Oliveira Duarte são figuras incontornáveis… Ribeiro Ferreira faleceu em 13 de Fevereiro de 1953, ainda muito novo (47 anos) vitima de um tumor cerebral.

NOTA: Não deixa de ser curioso (e significativo) o número de presidentes ligados às forças militares: exército e marinha, que ocuparam num período de 48 anos (1926/1974) cinco presidências no Sporting CP, num total de 15 anos. Completamente diferente do Benfica.

PRESIDENTES DO SPORTING CP ENTRE 1926 e 1974
N.º
Patente
Nome
Período
Anos
10.º

Sanches Navarro
1926-1927
(1926)1
7.º

Soares Júnior
1927-1928
1
12.º
Comodoro
Oliveira Duarte
1928-1929
1
13.º

Eduardo Costa
1929
7 m.
14.º

Álvaro José Sousa
1929-1931
2
15.º

Artur Silva
1931-1932
1
16.º

Carlos Correia
1932
1 mês
17.º

Retamoza Dias
1932
4 m.
12.º
Comodoro
Oliveira Duarte
1932-1942
11
18.º

Amado de Aguilar
1942-1943
1
19.º
Capitão
Diogo Alves Furtado
1943
1 mês
20.º

Cunha e Silva
1943-1944
1
21.º

Barreira de Campos
1944-1946
2
22.º

Ribeiro Ferreira
1946-1953
7
23.º

Góis Mota
1953-1957
4
24.º

Cazal Ribeiro
1957-1958
1
25.º

Brás Medeiros
1958-1961
2
26.º

Gaudêncio Costa
1961-1962
1
27.º
Contra-Almirante
Joel Pascoal
1962-1963
1
28.º
Brigadeiro
Viana Rebelo
1963-1964
1
29.º
General
Homem de Figueiredo
1964-1965
1
25.º

Brás Medeiros
1965-1973
8
30.º

Valadão Chagas
1973
1 dia
31.º

Manuel Nazareth
1973
5 m.
32.º

João Rocha
1973-1986
1 (1974)

Em pesquisa:
Amado de Aguilar (Advogado)
Joel Pascoal (contra-almirante da Marinha de Guerra)
Homem de Figueiredo (General do Exército)
Valadão Chagas (secretário de Estado da Juventude e desportos em 1973)


SL Benfica: Democratas 4 – Situacionistas 1

1-4
Mário Madeira
4-1
Manuel Conceição Afonso
Júlio Ribeiro da Costa
João Tamagnini Barbosa
Duarte Borges Coutinho

INÉDITO A PARTIR DAQUI

Onde está o presidente?


A grande figura política, em termos ideológicos, que chegou a presidente da Direcção do Benfica é sem dúvida Manuel da Conceição Afonso. E logo uma figura de oposicionista ao Regime. Sem paralelo, quanto a passado e formação política, em qualquer clube, pelo menos entre os mais mediáticos e com mais adeptos em Portugal. Nasceu em 1890. Como era hábito entre as classes mais baixas, começou cedo a trabalhar, na Imprensa Nacional, como tipógrafo, ou melhor, linotipista (lia as notícias/assuntos manuscritos pelos repórteres/escritores e colocava as letras de chumbo correspondentes para fazer os textos a imprimir). Aos 15 anos, delegado da Associação de Classe dos Tipógrafos de Lisboa, integrava a União Operária Nacional, criada no Congresso Operário de Tomar, entre 14 e 17 de Março de 1914.
Dirigente sindical muito activo
A UON foi a primeira tentativa de agrupar os sindicatos dispersos para aumentar a sua força junto do patronato e poder). Em 1 de Maio de 1917 é um dos três relatores na Conferência Operária de Lisboa, com a tese: “A organização operária perante as condições de paz”. Segue-se em Portugal, um período de instabilidade social, com greves, repressão e tumultos, que a tomada de poder por Sidónio Pais, em 11 de Dezembro de 1917 até ao seu assassinato no estação ferroviária do Rossio, aos 46 anos, em 14 de Dezembro de 1918. É provável que tenha estabelecido os primeiros contactos com João Tamagnini Barbosa, ministro sidonista, nas delegações que a UON enviava ao governo. Com a queda do Sidonismo e o afastamento dos moderados, intensificou-se a repressão sobre o operariado. Em 27 de Março de 1919 há uma greve dos tipógrafos, e a queda do governo de José Relvas e um sucedâneo de conflitos laborais desembocam numa Greve Geral, a primeira em Portugal, em 16 de Junho de 1919, que mostrou a força da UON. Participa no II Congresso Operário Nacional da UON, em 15 de Setembro de 1919, na cidade de Coimbra, onde é criada a CGT (Confederação Geral do Trabalho) substituindo a UON. Com a luta de facções dentro da central sindical Manuel Conceição Afonso afasta-se, premonição de um futuro tumultuoso, “sem eira nem beira”, que descambou na Revolução do 28 de Maio de 1926.
Dirigente benfiquista muito activo
Sem aparente actividade sindical (pelo menos desconheço, depois de 1919), mas ainda tipógrafo linotipista inscreve-se como associado do SLB em 2 de Maio de 1923, aos 33 anos. Sempre muito activo é um dos principais associados que, nas eleições de 1926, pretende dar novo rumo ao futebol do Clube. Foi eleito para vice-presidente da Mesa da Assembleia-Geral. Como presidente da Direcção do Benfica foi eleito em três gerências alternadas: entre 15 de Agosto de 1930 a 20 de Agosto de 1933 (com duas reeleições em 6 de Setembro de 1931 e 7 de Agosto de 1932); entre 3 de Novembro de 1936 e 31 de Julho de 1938 (com reeleição em 25 de Julho de 1937); e pela terceira vez (inédito no SLB) em 19 de Janeiro de 1946 (derrotando por 297 votos (1322/1025) o presidente em exercício, Félix Bermudes). Ou seja, esteve em dois momentos de “rotura”, para modernizar o Benfica – em 1926 para afastar o conservador Cosme Damião e em 1946 para afastar o tradicionalista Félix Bermudes. Mas, sabia-se que dificilmente Manuel Conceição Afonso pactuaria com o estado a que chegara o futebol português.
Pelo Benfica, contra o Regime
A sua candidatura serviu, essencialmente para afastar Félix Bermudes. Decorrera já “meio mandato” quando mais uma vez se fez sentir a forte personalidade de Manuel da Conceição Afonso, que revelava sempre uma consistência, coerência e verticalidade notável, nunca cedendo a pressões ou situações que considerasse lesiva dos interesses do “Glorioso”. Pressentindo que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) continuava a não ter o enquadramento legal que lhe permitisse autonomia face ao poder político, demitiu-se a 30 de Julho de 1946 de presidente da Direcção, tornada definitiva a 13 de Setembro de 1946. Um mandato que terminaria, meio ano depois, em Janeiro de 1947. E num acto eleitoral (em 25) onde seria votado para presidente da Direcção… João Tamagnini Barbosa, que foi o presidente da Mesa da Assembleia Geral eleito, na gerência anterior, em 19 de Janeiro de 1946! Ou seja, em princípio escolhido, ou pelo menos acordado, por Manuel Conceição Afonso… Um “percurso conjunto” iniciado entre 1917 e 1919 nos meandros da política portuguesa que o Estado Novo aniquilou e… perseguiu. Manuel da Conceição Afonso não voltaria a ocupar cargos por eleição, falecendo com 76 anos, em 23 de Maio de 1966.

Em 1946, à procura de uma solução definitiva para a construção de um Estádio num lugar de acordo com a grandeza do Clube. Fala Manuel Conceição Afonso. Ao seu lado direito, João Tamagnini Barbosa

João Tamagnini de Sousa Barbosa nasceu no Extremo Oriente (Macau) em 30 de Dezembro de 1883, fazendo aí os seus estudos iniciais, no Colégio Jesuíta. Em 1904, ano da fundação do “Glorioso”, com 21 anos, ingressa na Escola do Exército (ramo de Engenharia) e na Escola Politécnica. Depois da implantação da República, em 5 de Outubro de 1910, distinguiu-se como um dos mais influentes políticos da I República, logo desde 1911, como deputado do Partido Radical, pelo Círculo de Lisboa. Seguiu-se uma estadia em Moçambique, onde foi presidente da Câmara Municipal de Lourenço Marques (actual Maputo) e de Inhambane. Ocupou depois o lugar de deputado, ao ser eleito para a Câmara dos Deputados: entre 1915 e 1917 por Moçambique e entre 1918 e 1919 pelo Círculo de Tomar.
Chegar a chefe de governo (actual primeiro-ministro)
Com a ascensão política de Sidónio Pais chefiou vários ministérios: Colónias (11 de Dezembro de 1917 a 15 de Maio de 1918), Interior (15 de Maio a 8 de Outubro de 1918) e Finanças (8 de Outubro a 23 de Dezembro de 1918). Chegou, então, a chefiar o governo português, aos 34 anos, durante 35 dias, entre 23 de Dezembro de 1918 e 27 de Janeiro de 1919, em tempos conturbados após o assassinato do dr. Sidónio Pais, ocorrido a 14 de Dezembro de 1918. Tudo indica que neste período teria contactado com dirigentes da União Operário Nacional, entre eles Manuel Conceição Afonso.
Esfrangalhar o “Reviralho”
Com a Revolução do 28 de Maio de 1926 afastou-se (foi afastado...) da política, sendo mesmo um dos militares deportados, em 1927, para a Ilha da Madeira, no sentido de dispersar militares hostis à Ditadura Nacional. Abandonada (à força…) a política, encetou um percurso profissional notável como engenheiro em Moçambique, Macau e em Portugal, onde foi administrador de várias empresas. Sempre temido, devido ao seu enorme prestígio - nos políticos da I República e entre os militares - temendo o “Reviralho” (tentativa de voltar ao antes do 28 de Maio de 1926) foi “desterrado” para a distante ilha Terceira, no longínquo Açores. Como militar atingiu a patente de brigadeiro, sendo o comandante militar da base das Lages, nos Açores, durante a 2.ª Guerra Mundial, onde fez um trabalho notável de apoio aos aliados (EUA e Inglaterra) em oposição à Alemanha e Itália! Foi porque nas Lages… não se passava nada. Acabou por ser protagonista, com o envolvimento dos EUA na II Guerra Mundial.
Eis que chega ao “Glorioso”
Entrou para associado do Benfica muito tarde, aos 60 anos, em 26 de Outubro de 1944, com o n.º 13 007. De perseguido (em 1927 e anos seguintes) a prestigiado (pela vitória aliada) na política portuguesa, pouco tempo depois (quinze meses...) em 19 de Janeiro de 1946 foi eleito presidente da Mesa da Assembleia Geral (cujo presidente da Direcção foi… Manuel Conceição Afonso) e nas eleições seguintes (em 1947) presidente da Direcção. Seria reeleito para um segundo mandato consecutivo (terceiro como dirigente) em 30 de Janeiro de 1948. O segundo mandato de Tamagnini Barbosa ficou muito marcado pela doença que o debilitou seriamente.
Falecer na presidência do Clube
Em 5 de Junho de 1948 tivera uma primeira congestão cerebral de que foi recuperando durante o Verão. Parecia já recuperado, quando faleceu, sendo entre todos os presidentes da Direcção do nosso Clube, o único a ter tal desenlace fatídico. Aliás o presidente estivera pouco mais de 24 horas antes, naquele que seria o seu último acto oficial ao serviço do Clube, na cerimónia de inauguração da prova de tiro “Armando Murta”, na carreira de tiro da Sede na Avenida Gomes Pereira, a 13 de Dezembro. Faleceu às duas horas e trinta minutos da madrugada, vítima de congestão cerebral em 15 de Dezembro de 1948, a quinze dias de completar 65 anos e a mês e meio de terminar o mandato.

O nosso presidente na Sede, na antevéspera do seu falecimento...
Mário Lampreia de Gusmão Madeira nasceu na cidade de Beja, em 22 de Novembro de 1901, licenciando-se em Direito na Universidade Clássica de Lisboa, aos 22 anos, em 1923. Atraído pela política foi dos últimos deputados eleitos na I República que terminou com o 28 de Maio de 1926.

Dos organismos corporativos ao aparelho político do Regime
Foi um típico português que ascendeu dentro das instituições do Estado Novo. No seu caso, desde simples assistente (aos 35 anos, em 1936) a secretário-geral (aos 47 anos, em 1948) do INTP (Instituto Nacional do Trabalho e Previdência). Entretanto iniciou uma carreira política como Governador Civil de Setúbal (16 de Junho de 1962 a 26 de Outubro de 1944), Deputado na IV Legislatura do partido único União Nacional (1945 a 1949) que interrompe quando foi nomeado Governador Civil de Lisboa (1947 – 1959).

Intervenções parlamentares relacionados com questões sociais
O registo das suas intervenções, (ver digitalização) na Assembleia Nacional, mostram-no um deputado preocupado com as questões do trabalho, previdência e assistência social. Sem intervenções de carácter ideológico, podemos dizer que representaria a facção mais moderada do Regime, mas num partido único, será sempre um representante do Estado Novo.

Quarentão quando entrou para associado
Aos 45 anos, em 14 de Maio de 1947, entrou para associado do Benfica com o n.º 47 777. Dois anos depois, foi eleito presidente da Direcção, em 29 de Janeiro de 1949, com tomada de posse em 22 de Fevereiro de 1949. Era pois uma figura de prestígio na sociedade portuguesa – governador civil de Setúbal, Lisboa e deputado. O Benfica tinha, pela primeira vez, 45 anos depois da fundação, um associado com passado político ligado – de facto (simpatizantes “não contam” por ser de difícil definição) ao regime vigente, algo que nunca ocorrera no tempo da Monarquia (1904-1910), antes pelo contrário porque o presidente Januário Barreto era… Republicano; no tempo da I República (1910-1926) e no Estado Novo (1926-1949).
Um presidente do Regime… uma Taça Latina (internacional), mas apenas um campeonato nacional
O modo generoso e cordial colocado, mesmo na resolução de situações adversas, permitiram-lhe o sucesso que possibilitou a sua escolha nas duas eleições seguintes: em 4 de Fevereiro de 1950 e em 17 de Fevereiro de 1951, esta ratificada em 3 de Março de 1951, por renúncia dos directores eleitos, devido ao facto dos associados exigirem a reeleição do vice-presidente Francisco Retorta. Registe-se também o facto de em 17 de Fevereiro, a eleição do presidente do Conselho Fiscal, o dr. Augusto da Fonseca, ter significado que este benfiquista passou a ser o segundo (depois do capitão Júlio Ribeiro da Costa), e último até à actualidade, que exerceu as três presidências nos nossos Corpos Gerentes. Mário Madeira podia ser (e era!) do Regime, mas o Benfica não conquistou os títulos de campeão nacional em 1948/49, 1949/50 e 1950/51. Havia que fosse MAIS DO REGIME que nós! Restou, e de que maneira, a Taça Latina de 1950.
Regresso ao Instituto Nacional do Trabalho e Previdência (INTP)
Após as eleições, em 15 de Março de 1952, o dr. Mário Madeira deixaria os cargos no “Glorioso”, regressando ao INTP (1961 a 1965) e Ministério das Corporações e Previdência Social (1965 a 1969) ocupando, também, a presidência do ACP – Automóvel Clube de Portugal, durante 21 anos, entre 1953 e 1974, vindo a falecer em Cascais, aos 83 anos, em 26 de Fevereiro de 1985. Esquecido!

Foi um homem do Regime?! Foi!? Mas também um Benfiquista que nos fez ainda mais gigantes!

Júlio Ribeiro da Costa nascido em 30 de Dezembro de 1894, em Condeixa-a-Nova, foi eleito aos 43 anos presidente da Direcção, após quase 26 anos como associado, pois entrara para sócio, com o n.º 663, aos 17 anos, em 12 de Novembro de 1912, proposto por Cosme Damião! Este nosso precioso fundador não poupava esforços para reforçar todas as equipas de futebol. Apercebendo-se do valor de Ribeiro da Costa, enquanto futebolista “escolar” do Liceu da Lapa (actual Pedro Nunes) convidou-o a ingressar na 4.ª categoria do SLB logo em 1912/13. Só que cedo as suas qualidades como dirigente suplantariam as capacidades desportivas, e em 13 de Agosto de 1914 foi eleito como 2.º secretário da Mesa da Assembleia Geral, num mandato em que o presidente da Direcção era o dr. Alberto Lima. Enquanto futebolista Júlio Ribeiro da Costa fez a “habitual” ascensão nas equipas dirigidas por Cosme Damião, defesa direito da 4.ª à 1.ª categoria, onde não se conseguiu fixar porque entretanto foi continuar os seus estudos em Coimbra, passando a fazer parte da equipa de futebol da Associação Académica de Coimbra, entre 1916/17 e 1919/20, chegando mesmo a defrontar o “seu” Benfica, a 7 de Março de 1920, num encontro, em Coimbra, em que vencemos por 8-1. Quando regressou a Lisboa foi eleito a 10 de Setembro de 1921, vogal da Direcção presidida por Bento Mântua, continuando a sua carreira desportiva na 2.ª categoria, ainda como defesa direito, em 1921/22.
Futebolista da Associação Académica de Coimbra e “(ini)amiguinho” de Salazar
Aos 28 anos, foi completar a sua formação militar e académica em Coimbra, jogando oficialmente, e capitaneando, a equipa da Associação Académica em 1922/23 e 1923/24. Foi nesta segunda passagem que se cruzou com o novo, e influente, professor de Direito na Universidade coimbrã, Oliveira Salazar, a leccionar entre 1916 e 27 de Abril de 1928, quando é solicitado em Lisboa para organizar o Ministério das Finanças, num país “à beira do colapso”. Entre os dois – Salazar e Ribeiro da Costa (segundo este) depressa surgiram divergências ideológicas e de atitude cívica, que teriam efeitos, negativos, na carreira de Júlio Ribeiro da Costa.
Regresso às origens
Após alguns anos – entre meados da década de 20 e meados dos anos 30 - em que teve que se dedicar à sua actividade profissional, viu a sua carreira militar bloqueada (em capitão) pelas “divergências coimbrãs” com o presidente do Conselho de Ministros, dr. Oliveira Salazar. Em 15 de Outubro de 1935, aos 40 anos, foi eleito vice-presidente da Mesa da Assembleia Geral, num mandato que teve Vasco Ribeiro como presidente da Direcção. Manteve-se no cargo nas gerências seguintes (1936 e 1937) presididas, na Direcção, por Manuel da Conceição Afonso. Foi depois, em 31 de Julho de 1938, eleito presidente da Direcção. Mesmo sabendo-se, no Benfica, que Salazar “não ia à bola com ele!”
Afastou-se para não… afastarem (mais…) o Benfica
Júlio Ribeiro da Costa no mandato seguinte foi eleito, em 29 de Julho de 1939, presidente da Mesa da Assembleia Geral, mas teve sempre a impressão de que o Benfica estava a ser prejudicado politicamente (e desportivamente) pelo facto de ser “persona non grata do Regime”, decidindo afastar-se definitivamente, em 1946, dos cargos directivos. Tornou-se no entanto uma referência do benfiquismo, pelas suas participações nas Assembleias Gerais, em alocuções assertivas e concisas, em momentos delicados ou festivos, sempre prestável para reforçar a nossa identidade. Uma das mais nobres referências do “Glorioso”, foi agraciado com a “Águia de Prata” em 30 de Março de 1962 e com a distinção máxima, a “Águia de Ouro” em 6 de Dezembro de 1991. Já como sócio n.º 1 do Benfica, também “anel de platina” em 1988. Tive oportunidade de falar com ele e com o seu grande amigo Rogério Jonet, sócio n.º 2!, em finais de 1991. Após 80 anos de associado, faleceu em 21 de Setembro de 1992.


Um Presidente Com P Muito Grande. Um democrata (no Benfica) em tempo de ditadura (no País) que obrigava a muito respeito... de TODOS. Desde governantes a dirigentes federativos e associativos pró-Regime, a Brás Medeiros (do Regime e do SCP) e Pinto Magalhães (Banqueiro fascista e do FCP)

Em 12 de Abril de 1969 os 2 839 associados do Benfica detentores de 44 810 votos elegeram como presidente da Direcção Duarte António Borges Coutinho (lista A) com 58 por cento dos votos, cabendo aos dois outros indigitados para igual cargo, Fernando Martins (lista B) e Romão Martins (lista C) respectivamente 31 e 17 por cento dos votos. Para presidente da Mesa da Assembleia Geral foi escolhido Justino Pinheiro Machado com 26 093 votos e para presidente do Conselho Fiscal, o Dr. António José de Melo com 25 971 votos.
Educação esmerada em Inglaterra
Borges Coutinho nasceu em Lisboa, a 18 de Novembro de 1921, frequentando em criança o nosso Estádio das Amoreiras onde se fez benfiquista, mas seria em Inglaterra que teria educação esmerada, estudando engenharia. Quando se iniciou a 2.ª Guerra Mundial alistou-se como voluntário na RAF, sendo piloto da aviação. Esse tempo de vivência no Reino Unido moldou-lhe a personalidade gabando o regime democrata e liberal inglês que permitiam, segundo ele, desenvolver os povos no sentido de procurarem ser melhores e mais inovadores. Algo que se cerceava em Portugal. Não foi um acaso, logo três dias após o 25 de Abril, deslocar-se à Junta de Salvação Nacional apresentar cumprimentos e colocar o Benfica ao dispor do poder democrático. Isto enquanto o Conselho Leonino debandava para Espanha e Brasil, e alguns “fachos” do FC Porto, como Pinto de Magalhães “meterem o rabinho entre as pernas” a caminho do exílio. Em 1974, Pinto da Costa não passava, em termos políticos, de um reles reaccionário. Desde 1974 apenas deixou de ser reaccionário…
Um democrata em tempo de ditadura
Depois do regresso a Portugal formou-se em “Ciências Económicas e Financeiras” ingressando como associado do “Glorioso”, aos 37 anos, em 19 de Maio de 1959. Menos de cinco anos depois foi eleito a 26 de Março de 1964 como director dos Assuntos Administrativos e das Instalações Sociais sob a presidência de Adolfo Vieira de Brito. Depois de concorrer como director em duas listas derrotadas nas eleições de 8 de Maio de 1965 (com Fernando Lourenço indigitado para presidente da Direcção) e 17 de Junho de 1966 (com o General João Caeiro Carrasco indigitado para presidente da Direcção), concorre aos 47 anos a presidente da Direcção conseguindo ser eleito pelos associados do Clube, cargo onde se manteve durante quatro biénios consecutivos. O modo como exerceu a presidência, com eficácia mas também com naturalidade, permitia ter a ideia que “Borges Coutinho nascera para ser presidente do Benfica!”. A gerência brilhante de 1969/70 possibilitou a sua reeleição para mais três mandatos consecutivos, sempre sem oposição – a 3 de Julho de 1971 eleito com 8 805 votos de 507 associados, a 31 de Março de 1973 eleito com 11 153 votos de 629 sócios e a 24 de Junho de 1975 com 5 294 votos de 306 associados. Entretanto a 14 de Março de 1973 foi eleito com a distinção suprema do Clube, a “Águia de Ouro”.
Um exemplo de Benfiquismo
Depois de quatro biénios consecutivos, Borges Coutinho não concorreu às eleições de 26 de Maio de 1977, mas a sua extraordinária acção prolongou-se muito para além da sua gerência, permitindo ao “Glorioso” conquistar ainda títulos e prestígio nas décadas seguintes, apesar dos erros que seriam cometidos sucessivamente pelos benfiquistas (associados) – dirigentes ou apenas sócios! Borges Coutinho teve também o mérito (e não foi pequeno…) de com as suas gerências bem sucedidas, equilibradas e o seu carisma, apaziguar alguma desunião associativa que se começava a esboçar entre os benfiquistas durante a segunda metade dos anos 60, mas que (infelizmente…) recrudesceria depois do seu afastamento em 1977!
Afastado pela doença que seria fatal
Após 2 967 dias como presidente da Direcção, Borges Coutinho aos 55 anos afastou-se do dirigismo desportivo. Terminava uma das melhores gerências da nossa gloriosa história, incomparável a qualquer presidente de clubes adversários – passados ou actuais, até porque teve por substrato a delicadeza e finos propósitos de educação! Figura grande da sociedade portuguesa, marquês da Praia e Monforte amava fervorosamente o Benfica, jamais lhe regateando dedicação e sacrifícios, nos bons e maus momentos sempre com uma dignidade ímpar, modelando e inspirando, no mesmo sentido e com o seu exemplo os sentimentos e acções dos seus pares, sempre no desejo de elevar bem alto o nome do Benfica e não o seu (porque ele não precisava do nome do Benfica para ser grande). Faleceu aos 59 anos, em Londres, onde se encontrava a fazer exames médicos, em 18 de Maio de 1981. 

Qual é, qual é que tem mais figuras do Regime?!
Qual é, qual é que tem mais oposicionistas!?
Pois…pois. Cuidem-se…

Alberto Miguéns

NOTA: Plano de publicação (previsão)

PUBLICADO
13 de Junho/ Sem jogos da Selecção Nacional
14 de Junho/ Datas das inaugurações dos Estádios
19 de Junho/ FC Porto/ Dirigentes (e responsáveis) democratas
21 de Junho/ Sporting CP/ Dirigentes (e responsáveis) democratas
22 de Junho/ SL Benfica / Dirigentes (e responsáveis) democratas

A PUBLICAR
26 de Junho/ Dirigentes (e responsáveis) democratas (completo)
27 de Junho/ Eleições (e Assembleias Gerais) democráticas
28 de Junho/ Sem finais de competições oficiais “em casa”



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