Benfica
Verdades Inconvenientes (3.ª em 5)
OPINIÃO
NOTA: O facto desta terceira penada das cinco previstas estar a ser mais exaustiva do que imaginei quando pensei neste assunto, tornando os textos demasiado extensos obrigou-me (por uma questão de leitura) a dividi-la em três partes, tantas quantos os clubes envolvidos: FC Porto (publicado em 19 de Junho de 2012), Sporting CP(hoje) e SL Benfica (amanhã). Quem já leu a primeira parte (FC Porto e três (dos sete presidentes) do SCP só encontrará “novidades” a partir do seguinte aviso: INÉDITO A PARTIR DAQUI
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Consta - não sei se é verdade - que foi o ideólogo para o desporto do Estado Novo, Salazar Carreira que incluiu no regulamento das competições oficiais a obrigatoriedade de fazer a "saudação fascista" desde que na tribuna estivessem entidades oficiais: membros do Governo ou oficiais superiores das Forças Armadas. O SCP fazia-a muitas vezes tal a promiscuidade entre os seus dirigentes que também eram responsáveis dentro do aparelho político, administrativo e corporativo do Estado Novo |
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O FC Porto não só fazia a "saudação fascista" quando era obrigado mas também desfilava a fazê-la. Curioso (porque ao entrar em campo não era obrigatório fazê-la). Só frente à tribuna nas condições acima descritas |
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A Selecção Nacional sempre que jogava em Portugal, porque havia sempre alguém na tribuna que pertencia a uma entidade oficial, era obrigada a fazer a "saudação fascista". Esta foi feita num Portugal vs Espanha, em 30 de Janeiro de 1938
O Benfica também fez a "saudação fascista", mas apenas em finais da Taça de Portugal, com o SCP, FCP ou CF "Os Belenenses" (porque em jogos com intervenção do Benfica, apenas as finais da Taça de Portugal ou jogos com intervenção de clubes conotados com o Regime, tinham entidades oficiais na tribuna...). Há uma fotografia da final de 1938/39 em conjunto com a equipa da Associação Académica de Coimbra. Só que essa imagem é truncada (a equipa da AAC é retirada) para mostrar exclusividade do "Glorioso". Trapaceiros
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Foto de Roland Oliveira na final da Taça de Portugal, no Estádio das Salésias (do CF "Os Belenenses"), em 25 de Junho de 1939. em primeiro plano a equipa da Académica (NOTA: em 2.º lugar, a contar da esquerda, um dos futebolistas do SLB junto da equipa da AAC. É um dos três futebolistas à direita do guarda-redes Martins na última foto) |
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Um plano diferente, num tempo diferente (já com a equipa completa) da fotografia de Roland Oliveira. Foto (penso que...) da Stadium na final da Taça de Portugal de 1938/39.Apenas conheço três fotografias de equipas do SLB a fazer a "saudação fascista": em 26 de Junho de 1938, lado-a-lado com o Sporting CP, na final do Campeonato de Portugal; em 25 de Junho de 1939, lado-a-lado com a equipa da AAC, na final da Taça de Portugal; e em 7 de Julho de 1940, lado-a-lado com o CF "Os Belenenses", na final da Taça de Portugal. Do SCP, FCP e CF "Os B" conheço... muitas. Mesmo com as suas equipas isoladas, com a equipa adversária sem fazer a saudação, em jogos "banais"! |
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Provavelmente a primeira vez que foi feita a "saudação fascista" na final do Campeonato de Portugal, em 30 de Junho de 1935, num Benfica vs SCP (V 2-1). Foi um ensaio, dois anos depois da criação do Estado Novo (1933) quando o dirigente sportinguista Salazar Carreira se instituía como "ideólogo para o desporto do salazarismo". Repare-se no modo anárquico como os futebolistas do SCP fazem a saudação (precisamente o contrário do aprumo, energia e rigor que essa saudação pretende mostrar) e o espanto dos nossos jogadores perante o que se estava a passar! Certamente que foi um ensaio para uma saudação que vigoraria, oficialmente, entre 1937 e 1943! |
«É necessário repetir muitas vezes uma mentira que acosse o inimigo para que ela se torne verdade» Citação atribuída ao Ministro da Propaganda Nazi, Josef Goebbels (1897 – 1945)
A pretensa ligação do Benfica ao Estado Novo/ Antigo Regime faz parte da propaganda andróide (secundada, como noutros assuntos, pelos sapóides) tendo um dupla intenção: denegrir o Benfica (conotando-o com um regime político nefasto) e justificar porque é, na actualidade, o Benfica o maior clube português (o “Glorioso” só é o clube mais popular em Portugal, prestigiado no estrangeiro e com mais títulos conquistados, porque foi apoiado durante os 48 anos do Estado Novo). O azar dos aldrabões é que «apanha-se mais depressa um mentiroso que um coxo» (ou deficiente motor, utilizando o politicamente correcto tão do agrado dos bem-pensantes do mundo ocidental). É isso que vamos mostrar, ilustrar e demonstrar em cinco penadas, publicando-se, hoje, a terceira.
PRIMEIRA PARTE
Caça-democratas e caça-situacionistas durante o Estado Novo
Tendo em conta apenas dirigentes que foram presidentes das Direcções nos três clubes e que também tiveram cargos de responsabilidade – ou seja ficam de fora os “apenas simpatizantes” (por ser de difícil definição) no aparelho corporativo e repressivo do Estado Novo, temos:
FC Porto: Democratas 0 – Situacionistas 5
5-0
Urgel Horta
Ângelo César
Augusto Pires de Lima
Cesário Bonito
Júlio Ribeiro Campos
Sporting CP: Democratas 0 – Situacionistas 7
7-0
Salazar Carreira
Oliveira Duarte
Ribeiro Ferreira
Góis Mota
Cazal Ribeiro
Viana Rebelo
Brás Medeiros
SL Benfica: Democratas 4 – Situacionistas 1
1-4
Mário Madeira
4-1
Manuel Conceição Afonso
Júlio Ribeiro da Costa
João Tamagnini Barbosa
Duarte Borges Coutinho
SEGUNDA PARTE
Uma descrição, o mais exacta possível
FC Porto: Democratas 0 – Situacionistas 5
5-0
Urgel Horta
Ângelo César
Augusto Pires de Lima
Cesário Bonito
Júlio Ribeiro Campos
Em 1928, o presidente da Direcção do FC Porto era o inefável fascista Abílio Urgel Horta. Nascido em 17 de Junho de 1896, em Felgar, uma freguesia de Torre de Moncorvo, cedo rumou para a cidade do Porto, onde se formou em medicina. Aos 32 anos, sendo presidente do FCP e tendo feito amizades, com alguns dos militares que implantaram (28 de Maio de 1926) em Portugal a Ditadura Nacional que estaria na origem, em 1933, do Estado Novo, consegue com uma “cunha de tamanho fascista” que o Presidente da República Óscar Carmona, Manuel Rodrigues Júnior (Ministro das Finanças) e José Alfredo Mendes de Magalhães (Ministro da Instrução Pública) assinem o Decreto-Lei que fez do FC Porto o pioneiro (e único durante 32 anos e seis meses) detentor do estatuto de Utilidade Pública. Este médico fascizóide regressaria à presidência da Direcção portista, entre 1951 e 1953, para “sacar do Poder Autoritário e Repressivo Português” o Estádio das Antas, inaugurado pomposamente em 28 de Maio de 1952, o Dia das Comemorações Fascistas, integrando a inauguração do estádio nas comemorações dos 26 anos da implantação do Regime. O médico fascizóide foi deputado da União Nacional, em diversas legislaturas, mostrando-se particularmente activo, na VI (1953-1957), VII (1957-1961) e VIII (1961-1965). Infelizmente, já não viu a Implantação da Democracia. Como ele, certamente, se indignaria com o poder actual do FC Porto ao conotar o Benfica com o Regime que sempre defendeu, e com o qual o seu clube (FC Porto) tanto beneficiou. Ingratidão “pintodacostista”.
O fascista Dr. Ângelo César Machado nasceu em 1900 numa pequena freguesia de Viseu, denominada... Andrade. Andrade à nascença, Andrade e fascista toda uma vida. Ângelo César cruzou-se com Salazar (nascido no Vimieiro... Viseu, em 1889) na Universidade de Direito de Coimbra, onde Salazar foi seu professor. Estabeleceu-se entre eles uma grande amizade – formou-se em 1924 – com ambos a integrarem o Centro Católico. O fascista Ângelo César esteve na fundação da Milícia Lusitana, que depois de 1926 integrou a “Liga Nacional 28 de Maio”, génese da Legião Portuguesa (os delatores do Regime, popularmente designados por “Bufaria”). Ângelo César foi destacado deputado na Assembleia Nacional, fazendo a apologia de Salazar não só como militante do partido único União Nacional, mas com artigos panegíricos a Salazar e ao Fascismo publicados num dos jornais patrocinados pelo Estado Novo, o “Diário da Manhã” órgão de imprensa em que os tipógrafos por vezes se “esqueciam” de colocar o “til” porque entendiam classificar melhor as notícias “Diário da Manha”. Enquanto deputado da fascista União Nacional foi presidente da Direcção do FC Porto, entre 1938 e 1939, se bem que o inefável medíocre nosso contemporâneo Bernardino Barros tenha tentado branquear a sua acção fazendo-o passar por um oposicionista do salazarismo (ver imagem). Têm cá uma lata, estes portistas.
O Dr. Cesário Bonito nasceu em Peso da Régua, a 1 de Agosto de 1909. Formou-se em medicina sendo discípulo de Ângelo César Machado (uma década mais velho). No FCP ocupou vários cargos directivos fazendo parte do grupo, com Urgel Horta, Ângelo César e Júlio Ribeiro Campos, entre outros, que foi dirigindo o clube portista durante os anos 40 até à década de 60, com Cesário Bonito a assumir por três vezes a presidência da Direcção: 1945/48, 1955/57 e 1965/67. Amigo de Urgel Horta quue pertenceu à “Bufa portuense”, a Junta Central da Legião Portuguesa no Norte de Portugal. Divulgador da União Nacional e do espírito do Estado Novo na cidade do Porto foi uma figura temida por democratas e oposicionistas. Felizmente, aos 65 anos, quando viu a liberdade ser restaurada, refugiou-se no anonimato, só “surgindo ressuscitado” pelo poder portista na sua morte. Faleceu no Porto, aos 78 anos, em 4 de Setembro de 1987.
Em pesquisa:
António Augusto Pires de Lima (Governador civil do Porto)
Júlio Ribeiro Campos (Junta Central da Legião Portuguesa no Norte de Portugal)
Sporting CP: Democratas 0 – Situacionistas 7
7-0
Salazar Carreira
Cazal Ribeiro
Góis Mota
Oliveira Duarte
Ribeiro Ferreira
Viana Rebelo
Brás Medeiros
Um dos maiores apoiantes no desporto do salazarismo foi José Salazar Carreira presidente do SCP em 1925/26. Nasceu em Lisboa, a 2 de Novembro de 1894. Foi com a implantação do Estado Novo, depois da II Guerra Mundial que se torna um dos melhores ideólogos do aparelho do Regime, exercendo “com mestria” o cargo de Inspector Geral dos Desportos, até 1964, afastando-se por limite de idade (60 anos). A famigerada DGD que os Benfiquistas denominavam por DGS (DG do Sporting) tal a celeridade com que resolvia os problemas do SCP e as dificuldades do SLB e a morosidade colocada para os problemas do SLB e as dificuldades do SCP. O chamado “caso Eusébio” (Dezembro de 1960/Maio de 1961) é um bom exemplo. Salazar Carreira como principal responsável na DGD tinha, também, grande poder de influência no SNI (Secretariado Nacional de Informação) que controlava jornais e jornalistas. Salazar Carreira idealizava uma comunicação em jornais, rádios e depois na televisão controlada por sportinguistas - com qualidade profissional, mas do SCP - que depois reproduzissem o sportinguismo nos media, dando prioridade à pesquisa e contratação de jovens sportinguistas. Fernando Correia é um bom exemplo desta “política”, como o próprio – por ser competente, excelente profissional e íntegro – já reconheceu. Nunca acharam estranho haver tantos sapóidesnos media? Depois de muitos e brilhantes serviços prestados ao Estado Novo e ao SCP, em simultâneo e com promiscuidade, faleceu, aos 80 anos, em 7 de Dezembro de 1974.
Em 16 de Março de 1914 nasceu em Lisboa Francisco de Moncada do Cazal Ribeiro de Carvalho. A sua carreira no dirigismo sportinguista e no Regime totalitário não podem ser dissociados. Ou seja, coerência e promiscuidade entre clube e política. Uma constante, por exemplo, ao contrário do FCP, onde há muito “interesseirismo”. No SCP fascismo/sportinguismo estão relacionados e estão intimamente ligados. Cazal Ribeiro ascendeu no aparelho político do Regime dentro do partido único (União Nacional), vereador na Câmara Municipal de Lisboa, Comandante de Batalhão da Legião Portuguesa (Bufaria) e deputado pelo Círculo de Lisboa, na Assembleia Nacional, na IX (1965-69), X (1969-1973) e XI (1973-1974) Legislatura, esta interrompida em 25 de Abril de 1974. Teve vários cargos nos órgãos directivos do SCP. Assumia-se como dedicado sportinguista e admirador de Salazar. Com verdade, não por interesse. Ninguém lhe pode apontar intenções. Servia o Regime porque acreditava ser o melhor para Portugal e portugueses. Faleceu em 30 de Dezembro de 1995. Uma entrevista (de que publicamos um excerto) ao jornal “Expresso” não deixa dúvidas quanto à sua ideologia:
Esta entrevista a Francisco Cazal Ribeiro realizou-se em 1993 e foi publicada no Expresso.
Francisco Cazal-Ribeiro foi uma das figuras mais conhecidas do salazarismo.
Vou transcrever as partes mais interessantes da entrevista, começando pela introdução:
“Diz, peremptório: «Eu era tão salazarista que nunca poderia ser marcelista.» Mas continuou deputado no tempo de Marcello porque quis «ficar atento à evolução para cuidar da continuidade». Foi preso a seguir ao 25 de Abril, saiu do país a conselho de Galvão de Melo, e regressou em 1983. Tem agora 79 anos, mas não mudou com a idade. Assume que nunca se converterá à democracia e considera que o 25 de Abril foi «uma traição».”
EXP. - O senhor era um «ultra» do salazarismo e um deputado conhecido pelas suas posições irredutíveis...
C.R. - Sim, era um símbolo do salazarismo que era preciso abater. Assim como o Tenreiro era o símbolo da corrupção, que era preciso castigar. A mim não me abateram e ao pobre do Tenreiro, que ainda é vivo, não descobriram nada de menos lícito ou ilegal.
EXP. - Ainda hoje assume essa condição de salazarista?
C.R. - Inteiramente. Basta entrar em minha casa, como vê: desde o meu quarto, onde tenho um autógrafo de Salazar que muito me envaidece - «Ao Cazal Ribeiro, com muita estima e a maior consideração» -, escrito nas costas de uma fotografia em que ele está a apertar a mão a Paulo VI.
EXP. - ... e defende um Estado autoritário porquê?
C.R. - Quando penso assim, penso como português e como latino. Se eu fosse sueco, era muito possível que fosse democrata.
EXP. - Porquê essa distinção? Os latinos são menos capazes do que os nórdicos?
C.R. - Eu respondo-lhe com uma pergunta: acha que a democracia é possível para estas décadas mais próximas em África?
O Dr. Carlos Cecílio Nunes Góis Motafoi uma das figuras mais odiosas do Regime, sendo durante muitos anos Comandante da Legião Portuguesa. Góis Mota além de desprezado entre muitos desportistas, também era citado entre intelectuais e militares, em Portugal ou nas Colónias. Muito há a dizer sobre ele… mas nem vale a pena, aqui no EDB. Faleceu em 25 de Janeiro de 1973. Dois exemplos de textos em que é citado:
Por Carlos Mário Alexandrino da Silva (investigador em estudos africanos)
Os Serviços de Informação da Legião Portuguesa chefiados pelo inspector de educação aposentado Parente de Figueiredo e dos quais fazia parte também o "misterioso" e ganancioso jornalista Luís Lupi, por iniciativa do Dr. Carlos Cecílio Nunes Góis Mota, Secretário-Geral daquela Organização paramilitar, que em 1961 recrutara uma companhia (na LP denominada "TERÇO") de voluntários para guarnecer e proteger as instalações da Companhia Angolana de Agricultura -dos Espírito Santo Silva- no Cuanza Sul, tinham contratado, para ser agente especial em Angola, um ex-colono europeu que havia falido como comerciante no Huambo - Nova Lisboa-: Fernando da Conceição Araújo.
Araújo, demonstrara ser íntimo de militantes e conhecedor das actividades da FUA, prontificando-se a retornar àquela região como agente especial, à revelia da PIDE. O incansável e dinâmico Dr. Góis Mota, homem da confiança de Salazar, queria mostrar que era capaz de superar a PIDE...
Fernando Araújo enviara, algumas semanas antes da sua morte, um relatório secreto que fora encaminhado ao GNP pelo Dr. Góis Mota, que supervisionava a actividade daquele agente especial da LP em Angola. Nesse Relatório Imediato ele denunciava a existência nas cidades de Sá da Bandeira (Lubango), Moçâmedes, Lobito, Benguela e Nova Lisboa (Huambo) de pessoas "socialmente bem colocadas" que eram adeptos da FUA.
E outro de José Saramago:
Memórias de 1934
Encontro na Caminho algumas cartas de leitores que ainda não conhecem o meu endereço... Uma delas traz no remetente um apelido que me é familiar desde há mais de sessenta anos, desde 1934 precisamente, quando, tendo deixado o Liceu de Gil Vicente, comecei a frequentar a Escola Industrial de Afonso Domingues, donde sairia com o curso de serralheiro mecânico. Durante o tempo que ali andei, foi meu professor de Mecânica e de Matemática o engenheiro Jorge O’Neill, que, catorze anos mais tarde, viria a dar-me emprego na Companhia Previdente (de que era administrador-delegado), quando, na sequência da campanha presidencial de Norton de Matos, me demiti, antes que fosse demitido, da Caixa de Previdência onde trabalhava. Um certo Dr. Góis Mota, ajudante da Procuradoria-Geral da República, comandante da Brigada Naval da Legião Portuguesa e «fiscal» do comportamento político dos empregados da Caixa, de que era assessor jurídico, instaurou-nos, a mim e a outro colega, uma caricatura de processo disciplinar, durante o qual me disse (sic) que se os meus camaradas tivessem ganho ele estaria pendurado num candeeiro da Avenida... A minha culpa visível tinha sido, simplesmente, a de não acatar a ordem de que todo o pessoal deveria concentrar-se, no dia da eleição, à porta da secção de voto do Liceu de Camões, porque ele, Góis Mota, segundo dizia, requerera e tinha em seu poder as certidões de eleitor de todos nós, de modo a que pudéssemos ir votar a uma secção que não fosse a nossa. O legionário Góis Mota, ajudante do Procurador da República, estava a mentir: votei na Graça, como devia, e ninguém me disse que, por ter sido passada certidão de eleitor, não podia votar ali. (Na eleição seguinte o meu nome deixaria de constar dos cadernos eleitorais...)
in "Cadernos de Lanzarote - volume IV, 28 de Maio de 1996
INÉDITO A PARTIR DAQUI
Em Lisboa, a 12 de Novembro de 1910, nasceuHorácio José de Sá Viana Rebelo que seria, como brigadeiro, 53 anos depois, entre 1963 e 1964 (conquista da Taça dos Vencedores das Taças), presidente do Sporting CP. Quando chegou à presidência tinha já um longo percurso dentro do Regime do Estado Novo. Militar desde os 20 anos (1930), inscreve-se como associado do SCP em 11 de Outubro de 1944, aos 34 anos, já com a patente de capitão (desde 1943). Dentro do exército português é um dos militares mais prestigiados, tendo também actividade política, em paralelo com a de sócio do SCP: membro da Junta Central da Legião Portuguesa (de Góis Mota, com muitos legionários ligados ao sportinguismo, quase uma simbiose), entre 1944 e 1949, é “eleito” pelo Círculo de Leiria para três legislaturas (a IV, V e VI, respectivamente entre 1945-49, 1949-53 e 1953-57), se bem que nesta não chegue a tomar posse por incompatibilidade com outras funções: subsecretário de estado do exército (1950-1956) e governador-geral de Angola (1956-1959). Nos anos 60 está ligado à reorganização do exército português para responder à Guerra Colonial, chegando a vice-chefe do Estado-Maior do Exército (1964), Ministro da Defesa Nacional (1968-1973) e, em acumulação, do Exército (1970-1973). Foram algumas das suas intervenções “mais legislativas e corporativas” que agitaram os “militares de carreira” que levou a uma revolta corporativa que descambou numa revolução política, o 25 de Abril. Mal sabia ele! Faleceu, aos 84 anos, em 28 de Janeiro de 1995.
Em 30 de Maio de 1912 nasceu em Avelar, uma pequena freguesia do concelho de Ansião, no distrito de Leiria, Guilherme Braga Brás Medeiros. Com o curso de Direito, da Universidade de Lisboa, entrou para associado do SCP, aos 31 anos, em 7 de Dezembro de 1943. Teve vários cargos directivos, avultando os dois períodos em que foi presidente do SCP: entre 15 de Dezembro de 1958 e 10 de Maio de 1961; e 28 de Julho de 1965 e 4 de Abril de 1973. Brás Medeiros foi uma figura importante do Regime, simpatizante fervoroso e divulgador do salazarismo, mas como administrador do jornal “Diário Popular” revelou-se tolerante para com a “ala crítica” do Estado Novo e oposicionistas moderados. No primeiro período como presidente (1958/1961) mostrou-se incapaz de responder ao crescimento desportivo do Benfica e no segundo (1965/1973) escolhido pelo “Conselho Leonino” para responder à hegemonia do “Glorioso” no futebol, afirmou que o SCP já não conseguia ombrear com o Benfica propondo uma aposta nas modalidades “mais baratas” (ciclismo, atletismo, andebol, basquetebol, ténis de mesa, etc) para contrabalançar, desportivamente, a dimensão do Benfica. Teve como grande discípulo João Rocha (1973/1986). Faleceu, em Lisboa, a 30 de Agosto de 1994, aos 82 anos de idade.
Em 1891 nasceu Joaquim Guerreiro de Oliveira Duarte que seria o melhor presidente da história do SCP, mas isso sou eu a afirmar, que não é “problema” de Benfiquista! Oliveira Duarte entrou para associado do SCP em 20 de Maio de 1921, já com carreira na Marinha de Guerra. Militar (médico dentista) da “ala direita” durante a I República aderiu “com facilidade” ao golpe do 28 de Maio de 1926 (aos 35 anos) tendo já tarimba em cargos directivos no SCP. Depois de uma passagem rápida (seis meses) pela presidência (5 de Setembro de 1928 a 12 de Março de 1929) seria nos dez anos de presidência, entre 28 de Julho de 1932 e 2 de Setembro de 1942, que o já comodoro da marinha Oliveira Duarte conseguiria um mandato de enorme valia, construindo os alicerces de um clube bem adaptado ao Regime. Percebendo que o futebol não podia evoluir sem ter os futebolistas com maior dedicação ao treino, o SCP assumiu que o futebol passaria de semi-amador a semi-profissional, ou seja, o futebol deixaria de ser considerado um “gancho” para os jogadores acrescentarem mais dinheiro aos seus rendimentos. O SCP contrataria os futebolistas dando-lhes um prémio, e asseguraria um emprego – que permitisse flexibilidade para treinar - para aumentar-lhes o rendimento que o clube (os clubes) não tinha capacidade para pagar. Sabendo que o SCP tinha muitos dirigentes com promiscuidade no Estado Novo obteve destes facilidade em colocar os futebolistas (e outros atletas de várias modalidades) nos organismos corporativos (grémios, por exemplo) e administrativos (direcções-gerais, por exemplo) do Regime. O SCP depressa virou clube de moda para os melhores de várias modalidades, pois podiam auferir verbas elevadas, entre pagamentos do clube e ordenados em organismos públicos. Por exemplo, o Benfica nunca conseguiu responder, pois tinha muito menos dirigentes conotados com o Estado Novo (antes “pelo contrário”) “perdendo” futebolistas e outros atletas conceituados para o SCP por incapacidade de oferecer empregos bem remunerados. Só mais tarde, nos anos 40 conseguiu que alguns associados “mais abonados” empregassem atletas do “Glorioso” nas suas empresas, fábricas ou lojas. E só conseguimos ultrapassar o SCP quando deixamos o semi-profissionalismo e optámos, em 1954, pelo profissionalismo. Aí o SCP (e Brás Medeiros) foi inapto, pois o SCP não sendo tão popular foi incapaz de gerar receitas, com o Benfica a fazer campanhas europeias arrasadoras, em termos desportivos e financeiros. Oliveira Duarte faleceu, aos 67 anos, em 13 de Maio de 1958.
Em 1906 nasceu António José Ribeiro Ferreira que se distinguiria dentro do Regime como um dos melhores divulgadores da ideologia no Ribatejo, província “rebelde que ele domesticou”. Advogado entrou para sócio do SCP, aos 29 anos, em 21 de Outubro de 1935. Rapidamente se tornou no “delfim ou braço direito” de Oliveira Duarte conseguindo potenciar nos anos 40/50 o que este “inventara” nos anos 30/40. Ribeiro Ferreira era um “perito civil” dentro do Regime, dirigente da União Nacional (primeiro em Santarém depois a nível nacional) e também dirigente sportinguista. Como presidente conseguiu feitos para o SCP de elevado valor, pois foi durante o seu mandato (19 de Janeiro de 1946 a 13 de Fevereiro 1953, por falecimento) que o clube conquistou um tricampeonato nacional (1947-1949) e ficou “encaminhado” para um tetracampeonato (1951-1954) já concluído noutro mandato, o de Góis Mota (cá está ele… mais uma vez). Góis Mota e Salazar Carreira, tal como Oliveira Duarte são figuras incontornáveis… Ribeiro Ferreira faleceu em 13 de Fevereiro de 1953, ainda muito novo (47 anos) vitima de um tumor cerebral.
NOTA: Não deixa de ser curioso (e significativo) o número de presidentes ligados às forças militares: exército e marinha, que ocuparam num período de 48 anos (1926/1974), cinco presidências no Sporting CP, num total de 15 anos. Completamente diferente do Benfica.
PRESIDENTES DO SPORTING ENTRE 1926 e 1974 N.º | Patente | Nome | Período | Anos |
10.º |
| Sanches Navarro | 1926-1927 | (1926)1 |
7.º |
| Soares Júnior | 1927-1928 | 1 |
12.º | Comodoro | Oliveira Duarte | 1928-1929 | 1 |
13.º |
| Eduardo Costa | 1929 | 7 m. |
14.º |
| Álvaro José Sousa | 1929-1931 | 2 |
15.º |
| Artur Silva | 1931-1932 | 1 |
16.º |
| Carlos Correia | 1932 | 1 mês |
17.º |
| Retamoza Dias | 1932 | 4 m. |
12.º | Comodoro | Oliveira Duarte | 1932-1942 | 11 |
18.º |
| Amado de Aguilar | 1942-1943 | 1 |
19.º | Capitão | Diogo Alves Furtado | 1943 | 1 mês |
20.º |
| Cunha e Silva | 1943-1944 | 1 |
21.º |
| Barreira de Campos | 1944-1946 | 2 |
22.º |
| Ribeiro Ferreira | 1946-1953 | 7 |
23.º |
| Góis Mota | 1953-1957 | 4 |
24.º |
| Cazal Ribeiro | 1957-1958 | 1 |
25.º |
| Brás Medeiros | 1958-1961 | 2 |
26.º |
| Gaudêncio Costa | 1961-1962 | 1 |
27.º | Contra-Almirante | Joel Pascoal | 1962-1963 | 1 |
28.º | Brigadeiro | Viana Rebelo | 1963-1964 | 1 |
29.º | General | Homem de Figueiredo | 1964-1965 | 1 |
25.º |
| Brás Medeiros | 1965-1973 | 8 |
30.º |
| Valadão Chagas | 1973 | 1 dia |
31.º |
| Manuel Nazareth | 1973 | 5 m. |
32.º |
| João Rocha | 1973-1986 | 1 (1974) |
Em pesquisa:
Amado de Aguilar (Advogado)
Joel Pascoal (contra-almirante da Marinha de Guerra)
Homem de Figueiredo (General do Exército)
Valadão Chagas (secretário de Estado da Juventude e Desportos em 1973)
AMANHÃ SERÃO DESENVOLVIDOS TEXTOS ACERCA DAS SEGUINTES PERSONALIDADES:
SL Benfica: Democratas 4 – Situacionistas 1
1-4
Mário Madeira
(Governador Civil e figura do Regime)
4-1
Manuel Conceição Afonso
(De operário linotipista a dirigente da União Operária Nacional)
Júlio Ribeiro da Costa
(Salazar avisou-o, em Coimbra: De capitão não passarás…)
João Tamagnini Barbosa
(De Sidonista a desterrado, pelo Regime, na ilha Terceira)
Duarte Borges Coutinho
(Entre a educação liberal inglesa e a democracia adiada)
Qual é, qual é que tem mais figuras do Regime?!
Qual é, qual é que tem mais oposicionistas!?
Pois…pois. Cuidem-se…
Alberto Miguéns
NOTA: Plano de publicação (previsão)
PUBLICADO
13 de Junho/ Sem jogos da Selecção Nacional
14 de Junho/ Datas das inaugurações dos Estádios
19 de Junho/ FC Porto/ Dirigentes (e responsáveis) democratas
21 de Junho/ Sporting CP/ Dirigentes (e responsáveis) democratas
A PUBLICAR
22 de Junho/ SLB e Final/ Dirigentes (e responsáveis) democratas
26 de Junho/ Eleições (e Assembleias Gerais) democráticas
27 de Junho/ Sem finais de competições oficiais “em casa”
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Verdades Inconvenientes (3.ª Em 5)
OPINIÃO Situação dos textos neste momento ...
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Verdades Inconvenientes (2.ª Em 5)
OPINIÃO O FC Porto decidiu - o Regime não impôs - inaugurar o seu Estádio, nas Antas, em 28 de Maio de 1952, o dia da comemoração do 26.º aniversário da implantação do regime totalitário de onde surgiu o Estado Novo. E tinham razão porque...
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O Benfica Com O Comunista! E Os Outros Com Fascistas…
HISTÓRIA É um absurdo não destacar (e elogiar) o Benfica como clube de tolerância desde a sua fundação em 28 de Fevereiro de 1904. Em termos ideológicos (por que é este...
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Benfica, Clube Do Regime. Deixa-me Rir…
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EFEMÉRIDE Passam hoje, 13 de Março de 2011, 83 anos sobre uma data vergonhosa – 13 de Março de 1928 - que assinala a estreia do aproveitamento institucional de um clube desportivo e da cobertura que lhe foi dada...
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