O homem da brilhantina (II)
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O homem da brilhantina (II)


"Estávamos já em plena segunda volta do Campeonato de 2008/09, jogava-se um FC Porto-Benfica no Estádio do Dragão e, em caso de vitória, os 'encarnados' isolavam-se na liderança da prova. À época, o Benfica era orientado pelo espanhol Quique Flores. O seu futebol não impressionava, mas o do FC Porto de Jesualdo Ferreira, com 14 pontos perdidos nas primeiras 14 jornadas, também não convencia muita gente. As equipas equivaliam-se na mediania, e a diferença foi, uma vez mais, estabelecida por conta de outrém.
O clássico até começou bem. Um golo de Yebda, na sequência de um canto, colocou o Benfica em vantagem pouco antes do intervalo. O tempo foi passando, e o resultado de 0-1 prevalecia no marcador. As campanhias de alarme terão então soado e alguns ouvidos mais sensíveis. Era preciso fazer alguma coisa, e havia que encontrar rapidamente um pretexto. Já perto do final, Lisandro Lopez mergulha para o relvado numa encenação mal esgalhada, que nem o próprio deverá ter achado conviciente. Era a ocasião perfeita para o homem da brilhantina mostrar os seus dotes. Penálti! Apitou ele de pronto. O FC Porto empatou e acabaria por ser campeão.

A marca do artista
Por esta altura, já o nome do personagem constava da lista de obséquios da UEFA. Essa mesma UEFA, na qual se movem e cruzam interesses obscuros, e onde a proximidade a algumas figuras influentes do Futebol português é maior do que parece.
No ano seguinte, o Benfica conseguiu por fim chegar ao ansiado título. Fê-lo com todo o mérito, sobrepondo-se às adversidades que lhe foram sendo colocadas no caminho - às quais respondeu com um Futebol deslumbrante. Há Campeões assim: grandes! Outros nem tanto. Nós, para sermos felizes, temos de ser muito melhores que todos os outros, e superiorizarmo-nos às forças que nos querem destruir. Temos de jogar sistematicamente contra catorze, e só as grandes equipas conseguem fazê-lo com sucesso. Esse Benfica (com Di Maria, David Luíz, Ramires e Fábio Coentrão, entre outros) era uma extraordinária equipa, e ninguém a conseguiu parar. Era muito melhor que as outras. Quando somos iguais, ou, apenas, ligeiramente melhores, normalmente perdemos, pois há sempre uma mão diligente que faz pender os pratos da balança para o outro lado. Em 2010, essas mãos não foram suficientes para nos fazer cair, e no meio dos festejos, pouco benfiquistas terão recordado com rigor as arbitragens terão recordado com rigor as arbitragens de toda a temporada. Alguns, inebriados pela conquista, terão até acreditando que a obscuridade pertencia a tempos passados, e que o Futebol português caminhava para a purificação. Nada mais errado. Basta lembrar aqui dois dos jogos que o artista da brilhantina nos apitou nessa época. Em Alvalade, permitiu que agressões de Adrien Silva e Anderson Polga ficassem impunes, e subtraiu-nos dois pontos, retirando-nos provisoriamente do primeiro lugar da tabela classificativa. Mais tarde, no chamado 'jogo do título', frente ao SC Braga na Luz, poupou a expulsão a Renteria (por agressão a Di Maria), e deixou passar um claríssimo corte com a mão do Peruano Rodriguez, que poderia ter tido influência decisiva no jogo, e no título. Não me recordo se Domingos Paciência lhe terá dado o habitual e caloroso abraço no fim do jogo. Mas lá que o homem merecia, disso não restam dúvidas.

Novamente em acção
À partida para a temporada de 2010/11, o Campeão Benfica era tido como o principal favorito ao título. Mantivera a base da equipa, e reforçara-se com nomes prometedores. Era o alvo a abater. Não entrou bem na época, em parte por culpas próprias, mas, sobretudo, por culpas de terceiros.
Falou-se de Olegário Benquerença (outro árbitro de elite da UEFA), que nos matou as esperanças com uma arbitragem assassina em Guimarães. Falou-se de Cosme Machado, que abriu as hostilidades no jogo da Luz com a Académica, logo na ronda inaugural. Mais uma vez, o homem da brilhantina passou por entre os pingos da chuva.
A verdade, porém, é que também ele ficou ligado a esse triste começo de época, com um arbitragem tão má quanto as piores, na Choupana, onde dois penáltis ficaram por assinalar a nosso favor - corte com a mão de um defensor madeirense; e rasteira a Fábio Coentrão -, e onde deixámos os três pontos. Nessas semanas desenhou-se o destino de mais um Campeonato. Em 2011/12, as coisas não seriam muito diferentes.
(parte III na próxima semana)"

Luís Fialho, in O Benfica



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